quinta-feira, 10 de setembro de 2009

TIAHUANAKU

A civilização Tiahuanaku incorporou e simbolizou dois elementos chaves na vida dos Andes: a PEDRA e a ÁGUA.

Construída em pedra e argila, Tiahanaku é uma cidade monumental: a 15 quilômetros do Lago Titicaca, próxima a um pequeno rio e com inúmeras fontes, incorporou um sistema sofisticado de canais de pedra, dutos e drenos projetados para exibir o controle ritual bem como real do fluir das águas. O coração cerimonial da cidade dominada por plataformas de templos e peças de arte monolíticas, era cercado por um fosso de água que talvez fizesse da cidade um reflexo simbólico das ilhas do Sol e da Lua, no meio do lago TIticaca.

Embora as origens de Tiahanakus não sejam ainda bem conhecidas arqueologicamente, a cidade e os lago são características sempre repetidas na criação cosmogônica e religiosa do povo da região. Em uma versão incas, o Deus Criador VIRACHOCHA criou um novo mundo no local onde a cidade foi construída, mandado o primeiro homem e a primeira mulher de lá chamarem os povos andinos de todos os aspectos da natureza.

Foi entre 100 e 600 d.C. que a cidade cresceu em sua máxima extensão e incluía o grande centro cerimonial que somente agora começou a ser cientificamente investigado. Tiahanaku é, sem dúvida, o centro mais importante e impressionante do sul dos Andes, frequentemente descrito como centralizado, hierárquico e teocrático. Em seu auge, a cidade provavelmente se estendia por 8 quilômetros quadrados, dentro dos quais o núcleo cerimonial possuía 16 hectares. Sua população estava em torno de 30 mil a 40 mil habitantes.

Três construções monumentais dominam o perfil sagrado de Tiahanaku: os complexos de templos de Kalasasaya, Pumapunku e Akapana. Kalasasaya e Pumapunhu são plataformas em forma de U, abertas para o sol nascente; ambas com entrada cerimonial em pedra monolítica.

Mas parece que o centro cerimonial mais antigo deve ter sido os chamados TEMPLO SEMI-SUBTERRÂNEO, que se assemelham aos de Pukara e Chiripa - que são pré-Tiahanaku. Trata-se de uma grande praça escavada, cujas paredes são adornadas com pequenas cabeças entalhadas em pedra, que devem ter sido inseridas junto á parede e que foram provavelmente substituídas ou renovadas diversas vezes. A estrutura inteira pode ter sido dedicada à divindade referida como ESTÁTUA BÁRBARA: um monolito de culto, na forma de uma coluna retangular escavada com traços de um ser humano e mãos proeminentes, que ainda fica na praça.

Próximo a esse templo, há um "monte artificial" de 15 metros de altura, chamado de AKAPANA. Na verdade, trata-se das ruídas de um templo de sete degraus, revestido originalmente em argila e pedra, que deve ter sido a miniatura simbólica das montanhas sagradas que dominam a paisagem ao redor. Acredita-se que o cume do Akapana tenha sido projetado com idéias de geografia sagrada, pois parece ser o único lugar do chão do vale de onde os distantes picos cobertos de neve (Monte Illimani) e o reluzente lago Titicaca podem ser observados com um único olhar. Investigações revelaram que essa e outras estruturas foram associadas ao fluir da água, e talvez à idéia de loção. O cume do Akapana possuía uma camada de seixos verdes provenientes de montanhas próximas e drenos de pedra para regular a passagem da água e talvez para produzir fontes.

Escavações recentes trouxeram imagens íntimas da prática de sacrifício humano e das maneiras pelas quais a sabedoria da elite de Tiahanaku ligou a religião, morte ritual e material cultural. Uma das descobertas foi um baú de KERO - copos cerimoniais de forma única, com uma coroa brilhante, usados provavelmente para beber e para libações. Pelo que parece, esses vasos, no fim do ritual, eram ritualmente esmagados e então cuidadosamente enterrados; sua decoração possuía, normalmente, o motivo de troféus-cabeças. Próximo a esse baú, encontrou-se restos de sacrifício humano, na maioria decapitados, e a imagem entalhada em pedra de uma figura ajoelhada usando uma máscara de felino e segurando um troféu-cabeça. Essas sepulturas parecem ser do século VII. Akapana, portanto, parece estar ligado ao sacrifício humano e ao antigo simbolismo andino do Felino Sagrado.

Adjacente a Akapana, fica KALASASAYA: um outro centro de rituais, dentro do qual fica a impressionante estátua conhecida como MONOLITO PONCE - um monolito que aparece emoldurada pela grande entrada de pedra que fica em cima de uma escada, também monolítica, de entrada ao templo. Ela tem os olhos e a boca retangulares (que é o estilo Tiahanaku) e segura um cetro e um kero. Kalasasaya é cercada por uma parede maciça e possui canais de água elaborados. Próximo, a construção chamada de COMPLEXO PUTUNI é considerada um palácio construído para a elite dominante de Tiahanaku. Abaixo dele está disposto um sistema de esgoto e, na sua superfície, uma fonte de água fresca foi canalizada ao redor do palácio. A escavação de uma câmara do palácio trouxe os restos de uma mulher de alto status, acompanhada de uma máscara de ouro em miniatura, uma coleção de lascas de obsidiana e uma gargantilha de minerais multicoloridos que incluíam turquesas e lápis-lázuli; em outra câmara lateral, foram encontrados um espelho de cobre e outros itens em metal.

O terceiro maior complexo arquitetônico é a plataforma cerimonial de PUMAPUNKU. Construída de andesita e arenito, tem uma grande fachada em pedra e diversas entradas monolíticas. O lintel de uma está entalhado com uma figura felina de longa cauda - provavelmente um PUMA. Essa obra parece sugerir que, como em outras civilizações andinas, os pumas e jaguares eram honrados e cuidados como animais de estimação e para propósitos rituais.

Baseado no texto de Nicholas J. Saunders

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