domingo, 13 de setembro de 2009

OS MUISKA

A civilização MUISKA é a melhor conhecida de todos os povos da Colômbia. Os primeiros cronistas espanhóis dão-lhe a mesma importância dos povos do México e do Peru. Entretanto, do ponto de vista arqueológico, ela é relativamente pobre.

MUISKA significa “Os Homens”. Eles viviam nas savanas e nos altos vales dos rios Bogotá e Chicamocho, ente 2.500 a 2.800 m. de altitude, gozando, portanto, de um excelente climas e terras muito férteis. Por esse motivos, eram suas cidades eram muito povoadas, mas ignora-se o número exato de habitantes, embora a cifra de um milhão aventada não parece longe da verdade.

Eles tinham dois chefes: o ZIPA e o ZAQUE, que partilhavam entre si a região cibcha. O Zipa reinava sobre os territórios da savana de Bogotá, e o Zaque, sobre os territórios situados ao norte, cuja capital é HUNZA (Tunja).

Os poderes do Zipa e do Zaque estendiam-se a um grande número de localidades, tendo cada qual seu chefe local. Acontecia freqüentemente os diferentes chefes locais não se entenderem entre si e invadirem o território do outros. Mas em relação ao Zipa e ao Zaque, sua submissão não se desmentia jamais. Por exemplo: nenhum deles ousava olhar um desses dois chefes no rosto, o que parece provar que a função do Zipa e do Zaque tinha um caráter não só político, mas também sacerdotal. A saliva do Zipa era sagrada, sendo recolhida piedosamente num prato. Ambos eram transportados em liteiras e construíam cadeiras especiais para eles..

A função de chefe era hereditária, seguindo uma ordem de sucessão matrilinear: o herdeiro do chefe não era seu filho, mas o filho de sua irmã e, se esta não tivesse filho, seu próprio irmão. Mas entre as pessoas comuns, seguia-se o princípio patriarcal.

Um homem podia ter tantas mulheres quantas lhe permitissem seus recursos. Certos nobres tinham uma centena de mulheres; todas elas viviam muitas, afastadas de seu marido comum. As moças eram submetidas a uma iniciação: durante seis dias consecutivos deviam permanecer sentadas em um canto com a cabeça coberta; depois eram banhadas e entregavam-se a abundantes libações de chicha (cerveja de milho).

Na região Muiska, o comércio era bem desenvolvido, mercados funcionavam de quatro em quatro dias nas aglomerações mais importantes. Não existia dinheiro, usando o sistema de troca. Certos mercados eram especializados; encontrava-se esmeraldas, por exemplo, unicamente nos mercados de Moniquirá. Como não existia ouro na região Muiska, trocavam-se os produtos locais – sobretudo sal, vestimentas de algodão e esmeraldas, pelo ouro dos povos vizinhos. Mas apesar dessa falta, a ourivessaria Muiska era muito eficiente. As figurinhas conhecidas com o nome de TUNJO eram trabalhadas segundo a técnica da “cera perdida”. O ouro, o cobre ou, com mais freqüência, a TUMBAGA – liga de ouro com cobre -, eram os principais metais empregados.

A mitologia dos Muiska é impar. Os deuses eram numerosos e de duas espécies: os criadores e os que assumiam uma determinada função de manutenção.

Entre os criadores podemos citar, em primeiro lugar, CHIMINIGAGUÁ – pai de tudo que existe, inclusive o Sol e a Lua. Depois dele, o próprio Sol e Lua – responsáveis pelo calor, pela seca e pela chuva. O Sol parece ter merecido a maior consideração; os cronistas descrevem vários templos dedicados a ele. Quando os espanhóis chegaram, os Muiskas tomaram-nos por “FILHOS DO SOL”... o que facilitou a conquista.

Os Muiskas tinham várias versões cosmogônicas. Por um lado, Chiminigagua estaria na origem de tudo. De acordo com outra versão, o Sol e a Lua estavam na origem do universo. Uma terceira atribuía a criação a dois caciques metamorfoseados em sol e em lua, de modo que essa versão confunde-se com a precedente. Os primeiros homens teriam sido feitos de argila, e as mulheres de ervas.

Um outro mito conta como o gênero humano foi engendrado por uma mãe comum – BACHUE. Esta proviria de um lago perto de Iguape, com uma criança de três anos nos braços. Quando o menino tornou-se adulto, ela desposou-o. Inúmeros filhos nasceram desse casamento, de quatro a seis de uma vez e foram os primeiros humanos. Quando Bachue e seu filho-consorte tornaram-se velhos, desapareceram no lago, transformando-se em serpentes.

A humanização da divindade é um traço característico da religião Muiska. O Sol é sempre masculino e fecundador da Lua, sua esposa, mas também de mulheres... como acontece com a mãe de Goramchacha, um cacique de Tunja. O Sol fala aos homens e lhes dá ordens; quando zangado, era necessário sacrificar-lhe crianças para que se acalmasse.

Outros dois deuses muito populares eram BOCHIVA e MUISKACUM. Eles eram rivais. Muiskacum não gostava dos humanos e por isso, enfurecido, vivia inundando a savana de Bogotá com chuvas diluvianas. Os humanos, desesperados, recorreram a Bochica, e ele, com um golpe de sua vara de ouro, fende os rochedos de Tuquendama para que as águas escoassem. O local mitológico coincide com aquele onde estão as famosas quedas d’água de Tuquendama. Em seguida, Bochica condena Cibchacum a carregar a terra sobre os ombros. Por esse motivo, cada vez que a terra treme, sabe-se que é Muiskacum que a passa de um ombro para o outro.

Naturalmente, Bochiva e Muiskacum têm aparência humana. Na sua qualidade de heróis civilizador, Bochica veio do leste – no nascer do Sol –, com uma barba comprida e uma abundante cabeleira, que lhe chegava à cintura. Andava descalço e ensinou aos antigos a arte de fiar o algodão e tecer as vestes. Ensinou, também, a pintar nas roupas motivos em forma de uma cruz de quatro baços iguais.

Entre os sacrifícios, os mais importantes eram os MOJAS – rapazes de 15 as 16 anos, trazidos geralmente de longe, das vertentes das planícies, comprados ou prisioneiros de guerra. Enquanto eram preparados para o sacrifício, seu umbigo era cortado, pois o sangue que sai do umbigo era a alimentação do Sol. Eram muito vigiados pois se tivessem relações sexuais, já não serviam para o sacrifício, pois perdiam a capacidade de intermediar a relação homens-sol.

O sacrifício era feito geralmente em elevações, na encosta voltada para o leste: Estendia-se a vítima sobre um pano precioso e, então, era morta com facas de bambu pelos JEQUES (sacerdotes). Depois aspergia-se os rochedos com o sangue, ao nascer do sol, e deixava o cadáver ali mesmo, para que fosse comido pelo Sol.

Os Jeques presidiam todas as festas: a comemoração a criação do mundo (solstício de verão), a benção das construções, a semeadura, a coleita e a purificação das pessoas e dos locais. Nessas ocasiões, faziam-se procissões em estradas especialmente construídas para isso. Nelas também se faziam as “Corridas Rituais” – muito populares, mas terminavam freqüentemente com a morte de vários participantes, que ultrapassavam suas forças no desejo de alcançar a vitória e adquirir o prestígio que isso conferia.

A posse de um novo líder comunitário era uma manifestação espantosa. Em Guatavita, por exemplo, o candidato era todo pintado com argila misturada com pó de ouro e, depois, embarcava com quatro companheiros num barco de cana até o centro de uma laguna. Lá atiravam às águas punhados de contas de ouro e esmeraldas.



Baseado no texto de Henri Lehmann

Um comentário:

  1. Assisti recentemente um documentário,sobre os muiskas,na Rede Cultura,produzido pela BBC - Londres. Fiquei fascinado pela história desssa civilização,e gostaria de saber mais,sobre a Colonização espanhola,na Colombia e o últimos registros,dessa civilização,durante esse período. Parabéns por esse blog fantástico !!!

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