domingo, 29 de março de 2009

ABYA YALA




ABYA YALA é o nome que as nações autóctones da América escolheram em 1992, para designar esse continente, em vez de “América” – uma homenagem a Américo Vespucci. A expressão "ABYA YALA" vem da língua dos kunas, um povo natural do Panamá e Colômbia, que antes da chegada de Colombo assim nomeavam essas terras. As duas palavras significam TERRA EM SUA PLENA MATURIDADE ou simplesmente TERRA DO ESPLENDOR.

O líder boliviano aymara Takir Mamani propôs que todos os povos nativos da América utilizassem a denominação "Abya Yala" em suas declarações oficiais, pois “aceitar os nomes estrangeiros em nossos povoados, nossas cidades e nosso continente equivale a subjugar nossa identidade à vontade de nossos invasores e seus herdeiros”.

Essa proposta levou à criação do movimento ABYA YALA SIN FRONTERAS, visando resgatar a sabedoria ancestral, assim como a integração dos povos num único continente e numa única Grande Nação, inspirado no Tawantisuyu dos Incas, que há mais de 500 anos iniciaram o grande processo integrador de Abya Yala.



sábado, 28 de março de 2009

LENDA DE AMOR SELKMAN



O calafate é um arbusto verde, com espinhos, que cresce em terras secas e ensolaradas da Terra do Fogo, florescendo entre outubro e janeiro. As flores são amarelas e as frutas, azul-violetas, aparecem em fevereiro.

A história conta que havia um chefe aonikenk que tinha uma linda filha chamada Calafate, da qual era muito orgulhoso. Ela possuía grandes e belos olhos de cor dourada.

Um dia passou pelo lugar um belo jovem selknam e eles se apaixonaram perdidamente. Mesmo sabendo que suas tribos não aceitariam esta união, o amor foi mais forte e decidiram fugir para viverem juntos.


Alguém descobriu o plano e foram denunciados ao chefe aonikenk.
Este supôs que o espírito maligno de Gualicho havia se apoderado de sua filha, incitando-a a unir-se com o inimigo de sua tribo. Furioso, recorreu ao xamã da tribo para frustrar a fuga de Calafate. Ele a enfeitiçou transformando-a em um arbusto, porém permitiu que seus lindos olhos contemplassem o lugar que a viu nascer.

Assim, o calafate a cada primavera se cobre de flores amarelo-ouro, que são os olhos da jovem aonikenk. O xamã fez, ainda, que as flores do calafate se transformassem em um delicioso fruto de cor púrpura, que é o coração da linda jovem aonikenk. Todos os que comem a fruta do calafate ficam apaixonados por ela, como ocorreu com o jovem selknam, e embora morem longe são atraídos àquela região.

O joven selknam jamais pode encontrar a sua amada e depois de buscá-la por muito tempo, morreu de solidão.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Os SELKMAN habitavam a zona do arquipélago da Tierra del Fuego desde 7.000 anos atrás, quando a ilha estava unida ao continente. Era um povo de caçadores-coletores que desenvolveu o nomadismo com a caça do guanaco como principal atividade. Viviam de maneira tribal até a chegada do homem branco, em torno de 1860, quando começaram a ser caçados como animais. No final do século XIX, havia uma oferta em dinheiro por cada quilo de selkman morto. No início do Século XX, chegaram os missionários cristãos, que levaram à perda gradual de sua cultura.

As duas últimas descendentes do povo Selkman morreram na década de 70.

sexta-feira, 27 de março de 2009

UNIVERSIDADE INDÍGENA


Em 11 de Abril serão inauguradas três universidades indígenas na Bolívia.
O Ministério da Educação, através do Vice-Ministério da Educação Superior de Formação Profissional, realizará a criação de três univesidades indígenas no pais, em 11 de abril, oportunidade em que serão inauguradas essas três casas de estudos superiores.

O Ministro da Educação, Roberto Aguilar Gómes, ratificou que estas univesidades serão criadas nas cidades de Warisata (La Paz), Chimoré (Cochabamba) e Kuruyuki (Chuquisaca), em cumprimento ao Decreto Superior Nº 29.664. que estabelece o funcionamento dessas entidades descentralizadas de educação pública superior. Esclareceu, ainda, que as atividades acadêmicas dessas universidades só começarão na primeira quinzena de julho porque ainda se trabalha na eleição das autoridades acadêmicas e dos docentes.

A criação de universidades indígenas é parte da proposta do sistema educativo plurinacional, para promover a educação plurilíngue, que incorpora o aprendizado ao próprio idioma, adotando o castelhano como a segunda língua e uma terceira língua estrangeira.

Quanto aos cursos que essas univesidades oferecerão, anunciou que serão próprios à produção local. Por exemplo: na Universidade Aymará Túpac Katari, que funcionará em Warisata (La Paz), oferecerá curso de Indústria Textil e Indústria de Alimentos. Na Universidade Quechua Casimiro Huanca, em Chimoré (Cochabamba), se ministrará agronomia, manejo de recursos florestais e turismo, enquanto a Universidade Guarani e Povos das Terras Baixas Apiaguaiki Tumpa, em Kuruyuki (Chuquisaca), funcionarão cursos de hidrobarbonetos, recursos florestais, piscicultura e veterinária. "Essas universidades não seguirão o modelo tradicional. - diz o Ministro. - Nos aspectos gerais e institucionais, terá reitores, docentes e cursos, mas seu aspecto metodológico e de funcionamento serão adequados às formas comunitárias de desenvolvimento". As comunidades serão encarregas de selecionar os jovens que estudarão nessas casas superiores, com a obrigação de servirem a seus povos.

Notícia tirada do "Diario La Prensa", La Paz.

segunda-feira, 23 de março de 2009

ASTRONOMIA UAUPÉ

A astronomia dos povos primitivos é um estudo importante da etnologia, pois revela a estrutura e o pensamento dos povos arcaicos. As constelações, a divisão e agrupamentos de estrelas no céu é, também, uma linguagem.

Em princípio, não encontramos nenhum relato sobre planetas, mesmo aqueles mais visíveis e facilmente identificados. Para os povos indígenas, todos os astros são iguais. E as fases da Lua são desenhadas sempre para baixo ou para cima; nunca de lado como estamos acostumados. Isso se deve ao fato de eles desenharem smepre quando a lua está no horizonte, nascendo ou se pondo. Já nós normalmente olhamos pra´ela quando já alcançou uma boa altura no céu.

Se nos deslocarmos para longe das luzes da cidade, em uma noite sem lua, temos a nítida impressão de que o céu é uma abobada escura, incrustada de pontos brilhantes. Essa também é a concepção indígena de UAUPÉ. Eles afirmam que o sol, a lua e as estrelas são gentes - MAXSÃ. Sol e Lua têm o mesmo nome - MUHI-PÚ -, pois são considerados duas formas do mesmo ser. Chamam a Terra (noção introduzida pelos europeus) de DI'TÁ, ou seja, "uma planície", e explicam que ela está coberta por uma calota esférica regular chamada OMÃ-SE, que quer dizer "coisa alta".

Os pontos cardeais estão relacionados aos rios. Se fechassem as portas da calota esférica, inundava-se tudo e todos morreriam afogados. Chamam essas portas de SOXPÉ. Assim, ficando de frente para o poente (oeste), temos:
  • Oeste: PÓ'TE-KÁ-SOXPÉ (porta da cabeceira do rio)
  • Leste: SÍRO-KÁ--SOXPÉ (porta atrás)
  • Norte: DYARO-KÁ-SOXPÉ (porta da direita)
  • Sul: KU'PÉ-KÁ-SOXPÉ (porta de quem sobe)
As constelações - YÔXKOD - são agrupamentos imaginários formando desenhos na mente humana. Apareceram antes da escrita e eram usadas para determinar as atividades agrícolas. Nossas constelações são muito mais místicas que a dos indígenas, que estão muito mais em contato com a natureza. Um velho pia-tapúya, do povoado de São Paulo, às margens do rio Papuri, apontou 10 constelações:
  1. ANÃ (peixe batóide, nome de Vênus)
  2. AMÕ DESTE-KE ou PAMÓ DOXKÁ ou PAMÕ DOXKÁ SUXTÉKE (pedaço de tatu)
  3. KAI SA'RI-RO (cercado de periquitos)
  4. DAXSYÃ (camarão)
  5. YAI ou YAI PWÊ-RO (enchente de onça)
  6. SYÓ-YAXPÚ (cabo de enxó)
  7. WAI KAXÃ (jirau de peixe)
  8. UEHÉ (garça)
  9. DYA-YÓ (lontra)
  10. BOO (peixe piranha) - o Cruzeiro do Sul.

Os Ticuna ainda apontam outras constelações:
  1. COYATCHICÜRA (queixada do jacaré)
  2. WUCÜTCHA (fera do clã onça)
  3. BAWETA (tartarugas)
  4. AI (onça)
  5. TCHATÜ (tamanduá)
O termo desse povo para o ano é KOMÃ, mas isso já é uma absorção de termos europeus, pois anteriormente não existia a concepção de "ano"; o índio não tem necessidade de contar datas. Komã indicava, primitivamente, o tempo das chuvas. O período das enchentes é chamado de PWÉ-RO e o período de poucas chuvas, a época da queimada das roças, é chamado de KOMÃ-RÕ.

Para aos Uaupé só existem duas estações: WEXTIRO - que corresponde à vazante dos rios - , e PWÉ-RO, que corresponte ao período das enchentes. O ano começa na vazante dos rios, mas essa contagem foi também introduzida pelo europeu.

O cálculo das horas do dia era feito pela altura do sol. Eles derivam a hora, mas não têm um valor numérico para elas, apesar da correspondência:

  • BORÉKE- YORODSE - maior claridade (aurora)
  • MUHI-PÚ MAHOÁ-TYASE - levantar do sol (mais ou menos 6 h)
  • AXSI MAHOÁ-TI WÁ-RO - começa a subir o calor (9h)
  • AXSI MAHOÁ-TI DAHARÍTERO TWA'TÁ NÕ'KÃ-NIMI - aumenta o calor, aproxima-se a hora de voltar (10 h)
  • DAHARÍ-TERO - tempo de voltar da roça (12 h)
  • OMÃ-KO DESKÓ - meio do dia (o sol está em em cima da cabeça)
  • DAHARÍTERO MAHOÁ-NIMI DOHOAGO - o sol subiu e caiu depois de tempo de voltar (13h)
  • TOREÁRO DESKÓ - meio do declínio do sol (14-15 h)
  • SAHÃGO WEMI-MEHÃ - o sol vai entrando (16 h)
  • SAHÃ-WÁ PI-MEHÃ - o sol entrou (18 h)
  • NAKI-KEA WÃ - vai escurecendo (19 h) - logo após o crepúsculo
  • NÃYÁ WÁ-MEHÃ - escureceu mais (20 h)
  • YAMI NI-MEHÃ - a noite avançou (21 h)
  • YAMI-KA BWI - noite avançada (22 h)
  • YAMI DESKÓ - meio da noite
As correspondencias são mais ou mentos em torno das horas citadas. Na região dos Uaupé, durante todo o ano, o sol nasce às 6 h e se põe às 18 h.


Baseado no texto de Marcomede Rangel Nunes, do Projeto Moitará - "O Simbolismo nas Culturas Indígenas Brasileiras"

domingo, 22 de março de 2009

O VALE SAGRADO

A uma pequena distância de Cozco, encontra-se um dos vales de maior riqueza cultural e beleza do Peru: o VALE SAGRADO. Formado a milhares de anos pelas correntezas do Rio Vilcanota, também chamado de Willkañuta (Casa do Sol), o vale se estende por mais de 100 quilômetros, a uma altura de 2.800 metros acima do nível do mar; tem condições excepcionais, com um clima ameno (média de 18º C ao ano), uma rica flora e fauna, terra fértil e numerosos riachos que nascem dos picos nevados.

A Via Láctea é uma "nuvem" esbranquiçada e difusa de estrelas, que atravessa de forma obligua a esfera celestial. Conhecida no mundo andino como WILLKAMAYU (Rio Sagrado), servia como eixo de orientação ritual para os Incas. Anualmente, os sacerdotes incas fazima uma peregrinação cerimonial no Inti Raymi (solstício de inverno), seguindo o rumo da Via Láctea: partima de Cozco em direção ao sudeste até um lugar chamado La Raya, onde nasce o rio Willkañuta e onde o Willkamayu (a Via Láctea) se derrama na terra. Dessa forma eles explicavam que o Willkañuta era uma continuação terrena do Willkamayu. Daí sua sacralidade.

A partir de La Raya, eles seguiam o rio Willkañuta, em direção a noroeste, refazendo, em terra, o mesmo percurso de Willkamayu. À medida que passavam pelos povoados do Vale, os sacerdotes abençoavam as plantações com as águas sagradas do Willkañuta-Willkamayu.

O Willkamayu não foi apenas um eixo de orientação imporante, mas também um plano de referência para o entendimento do clima. Todo o conhecimento climático andino da época era proveniente das constelações. Essas constelações foram representadas no Vale Sagrado por templos e povoados. Eram enormes construções com finalidade ritual, nos quais se recriava a forma e se concentrava a energia de cada consteção. Dessa forma, o Willkañuta e o Vale Sagrado era o reflexo perfeito do Willkamayu e o Céu. A arquitetura do Vale, por sua simetria, revela-nos que ele tinha a função de espelhar a Via Láctea.

Durante os equinócios, se realizava no Vale uma cerimônia chamada Mayucati, quando os incas entregavam oferendas ao rio Huatanay, em Cozco, para que suas águas, ao unirem-se ao Willkañuta, as levasse até Ollantaytambo, onde, por fim, entravam no fluxo do Willkamayu. A crença comum é que o desejo, depois de subir ao céu, seria realizado atráves das chuvas.

Desssa forma, o Vale Sagrado não é apenas um lugar, mas um sentimento, uma maneira de se situar no mundo, uma forma de compreender e explicar a vida, um conceito e uma expressão religiosa.