Os agricultores indígenas do México têm como esquema básico de cultivo o MILPA. Muitas vezes traduzido como "milharal", por ser o milho índio a base alimentar daqueles povos, o milpa é um campo sempre recentemente capinado, onde o agricultor planta uma série de cultivos ao mesmo tempo: milho índio, abacate, múltiplas variedades de abóbora e feijão, melão, tomates, pimentas, batata-doce, jicama (um tubérculo), amaranto (um pseudocereal), e macuma (um legume tropical). Na natureza, feijões e abóboras selvagens crescem frequentemente no mesmo campo que os teosinto, os feijões usando o alto teosinto como escada para subir na direção do sol; debaixo da terra, as raízes fixadoras de nitrogênio dos feijões fornecem nutrientes necessários ao teosinto. O milpa é uma elaboração deste situação natural, diferente das fazendas comuns, que envolvem extensões de monoculturas de um tipo raramente observado em paisagens não aradas.
As safras produzidas no milpa são nutricional e ambientalmente complementares. O milho índio carece dos aminoácidos lisina e triptofano, de que o corpo precisa para produzir proteínas e ácido nicotínico; dietas com excesso de milho índio podem levar a deficiência protéica e pelagra, doença causada pela falta de ácido nicotínico. Feijões têm tanto lisina como triptofano, mas não os aminoácidos cistina e metionina, que são fornecidos pelo milho índio. Resulta que feijões e milho índio compõem uma refeição nutricionalmente completa. A abóbora, por seu lado, povê uma gama de vitaminas; o abacate, gordura. O milpa, na estimativa de Garrison Wilkes, pesquisador da Universidade de Massachusetts, em Boston, "é uma das mais bem-sucedidas invenções humanas jamais criadas".
Como o campo agricultural é menos diverso do que os ecossistemas naturais, não pode desempenhar todas as funções deste último. Resulta que os solos de fazendas podem exaurir-se rapidamente. Na Europa e na Ásia, os cultivadores tentam evitar a pressão sobre o solo promovendo a rotação de cultivos; eles podem plantar trigo em determinado ano, legumes no seginte, e deixar o solo descansar no outro. Em muitos lugares, porém, a prática so funciona por um tempo, ou então é economicamente inviável não usar a terra por um ano. Então, os cultivadores lançam mão de fertilizantes artificiais, o que, na melhor das hipóteses, é caro, e, na pior, pode infligir danos de longo prazao ao solo. Ninguém sabe por quanto tempo o sistema poderá continuar. O milpa, em contraste, tem um extenso registro de sucessos. Há lugares na Mesoamérica que foram continuamente cultivados ao longo de 4 mil anos e ainda são produtivos. O milpa é o único sistema que permite esse tipo de uso de longo prazo. É provavel que o milpa não possa ser repetido em escala industrial. Porém, ao estudar as suas características essenciais, os pesquisadores podem adquirir a capacidade de abrandar os gumes ecológicos cegos da agricultura convencional. "A Mesoamérica ainda tem muito a nos ensinar", diz Wilkes.
Os métodos de cultivo índios antigos podem ser a cura para algumas doenças modernas da agricultura. A partir dos anos 1950, cientistas desenvolveram cepas híbridas de trigo, arroz, milho índio e outras colheitas muito mais produtivas do que as variedades tradicionais. A combinação das novas safras e o uso grandemente amplliado de fertilizantes e de irrigação levaram ao boom conhecido como "Revolução Verde": muitos países pobres tiveram as safras aumentadas tão depressa que, apesar do rápido crescimento das populações, a incidência de fome caiu dramaticamente. Infelizmente, contudo, os novos híbridos são quase sempre mais vulneráveis a doenças e insetos que as variedades mais velhas. Além de serem muito caros para muitos pequenos cultivadores, os fertilizantes e a irrigaçção podem, se usadas de maneira imprópria, prejudicar o solo. E talvez ainda pior a longo prazo, a exuberante difusão da Revolução Verde desencadeou a extinção de muitos cultivares tradicionais, o que por sua vez reduziu a diversidade genética das safras. Wilkes acredita que essas dificuldades podem ser total ou parcialmente resolvidas através da reprodução do milpa num contexto contemporâneo.
O milho índio no milpa, escreveu Michael D. Core, arqueólogio do Yale, "é a chave (...) para compreendermos a civilização mesoamericana. Lá onde ele floresceu, também floresceu a alta cultura". Na década de 1970, a geógrafa Anne Kirkby descobriu que os cultivadores índios de Oaxaca consideravam que se um milpa não pudesse produzir mais de cerca de 40 quilos por hectare, não valia o esforço despendido. Usando esse número, Kirkby voltou às antigas espigas escavadas em Tehuacán e tentou estimar quantos grãos por hectare elas teriam produzido. Nos seus cálculos, a colheita rompeu a barreira mágica dos 40 quilos por hectare em algum momento entre 2000 e 1500 a.C. É mais ou menos nessa época que as primeiras evidências de capina da terra em larga escala para estabelimento de milpas surgem no registro arqueológico. E com isto surge a Olmeca - primeira grande civilização da Mesoamérica.
Baseado no lado da costa do Golfo na cintura do México, no outro lado de uma cadeia de montanhas baixas desde Oaxaca, a Olmeca entendeu claramente as profundas mudanças desencadeadas pelo milho índio - com efeito, eles as festejaram em sua arte: o lugar central do milho índio, geralmente representado por uma espiga vertical com duas folhas laterais pendentes. Nos retratos olmecas de seus reis, gravados em estelas (longas pedras planas colocas verticalmente no solo), as roupas escolhidas para representar o seu papel espiritual crucial na prosperidade da sociedade geralmente incluím ornatos de cabeça com uma espiga de milho índio brasonada na fronte, como uma estrela. Segundo Virgínia Fields, curadora de arte pré-colombiana do Museu de Arte do Condado de Los Angeles, o símbolo tinha tanta ressonâncias que, em hierógrilos maias posteriores, "tornou-se o equivalente semântico do mais alto titulo real, o ahaw". No mito maia da criação, o célebre Popul Vuh, os humanos foram lliteralmente criados a partir do milho índio. Em se livro "O Milpa e a Origem do Calendário Maia, Paulino Romeereo Conde emite a teoria de que o Tzolkin - o calendário maia - está conectado ao milpa e ao cultivo do milho índio.
O milho índio e o milpa se disseminaram lentamente pelas Américas, só interrompendo seu avanço onde o cllima tornava-se frio ou seco demais. Na época dos Peregrinos, milpas com milho índio, feijões e abóboras misturados pontuavam a costa da Nova Inglaterra e em muitos lugares estendiam-se por quilômetros ao interior. Ao sul, o milho índio chegou ao Peru e ao Chile, onde foi uma ração de muito prestígio, mesmo as nações andinas tendo desenvolvido o seu próprio sistema agrícola, com as batatas ocupando o lugar central. E, na Amazônia, a mandioca.
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