sábado, 9 de abril de 2011

ORIGEM DOS POVOS AMERICANOS

Em suas viagens destinadas à Ásia, no final do século XV e início do XVI, Cristóvão Colombo chegara às Antilhas, que julgou fazerem parte das ilhas de vanguarda da sua almejada “Cypango” (Japão) e das Índias, com suas valiosas especiarias.

A notícia de terra firme e povoada a oeste do Mar Oceano chegou rápida ao conhecimento dos perplexos humanistas da Europa. E não tardaram as suposições concernentes à origem dos seus habitantes, de um tipo diferente dos europeus e africanos. Hipóteses inumeráveis foram lançadas por eruditos. A mais interessante surgiu da lembra
nça de uma história lendária, que viera do Egito, na Antiguidade, e expandira-se pela Grécia de Platão: a existência de Atlântida em pleno Mar Oceano – motivo pelo qual os gregos lhe deram o nome de Mar Atlântico. Seriam aqueles habitantes descendentes dos atlantes?

A
partir de 1800, com o progresso dos conhecimentos científicos, alguns estudiosos preocuparam-se com o problema da ocupação original da América. Já se sabia que não foram autóctones, e sim descendentes de migrações. No início do século XX, Hrdlilçka, elaborou uma teoria que prevaleceu, sobretudo nos Estados Unidos: os ocupantes seriam formados por uma única raça, do Alaska à Terra do Fogo, de origem mongolóide, que teriam chegado à América vindos das regiões setentrionais da Ásia oriental. O estreito de Behring fora o caminho utilizado pelos migrantes, que teria congelado durante a última era glacial tornando-se uma ponte entre os dois continentes há cerca de 10 mil anos atrás.

Meio século depois, tornou-se evidente que os grupos que migraram pelo estreito de Behring não ultrapassaram o Canadá. A maior parte do povoamento – de maior importância inclusive – foram resultantes de migrações oceânicas através do Pacífico, que consolidaram em alguns
milênios a ocupação ampla do continente. Desembarcaram ao longo de toda a costa ocidental da América, da Califórnia à Terra do Fogo, vindos da Austrália, Melanésia, Indonésia e Polinésia.



A menor dessas migrações, a mais meridional, viria do sul da Austrália, talvez da Ilha Tasmânia. Seria a origem dos agigantados índios Patagões e aos Fueginos, na Terra do Fogo, a extremidade sul do continente. Alguns traços culturais foram encontrados entre esses povos que se vinculam aos povos australianos: o manto de peles, as choças em colméia, o bote de cortiça, o bumerang, as técnicas de trançar cordões, etc.

O segundo grupo migratório importante partiu da Melanésia, através de balsas. Foram encontrados vários objetos tipicamente melanésios em povoamentos antigos desde o sul da Califórnia até Lagoa Santa, no Brasil.
O terceiro grupo veio da Indonésia. Hábeis navegadores, eles já dominavam o Pacífico antes que os europeus conseguissem atravessar o Atlântico. Faziam longas e perigosas viagens pela Oceania, usando as correntes marítimas e os ventos e tufões orientais que eles sabiam enfrentar. Sua arma típica é a sarabatana.
O último grupo migratório saiu da Polinésia, através de grandes jangadas feitas de junco, bambu, tábuas e velas de pele. As balsas duplas eram capazes de transportar mais gente e alimentos, navegando com segurança e indo mais longe. Wilhelm Schimidt lembra a tradição peruana “que teriam aprendido a arte de navegação à vela de Viracocha, o qual lhes viera do lado do mar em uma balsa veleira”, e que afirma que essa tradição deve dirigir nossa atenção imediatamente para os Polinésios. Além disso, há inúmeras provas etnológicas da concordância cultural entre polinésios e ameríndios: a rede, as danças rituais de máscaras, a técnica de pontes suspensas, a sarabatana, o propulsor de flechas, a massa feita de pedra anular ou em forma de estrela, os machados de cabo em cotovelo, as cabeças-troféus, a flauta de pan, o tambor de madeira, o tambor cilíndrico de membrana de pele, o arco musical, o charinga, o estojo de pênis, os vestidos de casca de árvore batida, muitos jogos de azar, as mutilações dentárias, as incrustações dos incisivos, a amputação de falanges como sinal de luto, a trepanação craniana, as habitações em palafitas, a cultura em terraço com irrigação, o processo de tintura de fibras, a fabricação de bebidas fermentadas, as cordas de nós como meio de numeração (kippu), os mitos funerários, escudos quadrangulares (encontrados tanto nos Andes quanto nos Tupi da Bahia). Também existem muitos elementos da espiritualidade americana que se aproxima dos polinésios: a mitologia solar, típica da Oceania.

Com todos aqueles séculos, milênios talvez, tornou-se bem amplo o número de migrantes desembarcados nas costas ocidentais americanas... além da multiplicação dos grupos dispersados já por essas terras. Alguns deles fixaram-se perto do litoral, mas a maioria penetrou a terra, de onde se avistava ao longe as altas montanhas coroadas de neve da Cordilheira dos Andes. Em sua maior parte, devem ter descido as encostas orientais dos Andes e seus planaltos, espalhando-se por milhares de léguas de norte a sul, mergulhando em florestas tropicais e rios de águas copiosas, nunca imaginadas por eles. E assim ocuparam todo o território da América do Sul.

Os povoadores oceânicos agruparam-se nas duas zonas continentais: a alta, dos Andes a oeste; e a baixa, a oriental, compreendendo principalmente o Brasil. Na área brasileira, estabeleceram-se dois tipos de indígenas. O menos culto, provavelmente os mais antigos, ambientaram-se a viver de caça, pesca e coleta de frutos e raízes, constituindo a FAMÍLIA GÊ. O segundo, originários da Polinésia, já possuíam um certo adiantamento cultural, praticando agricultura regularmente, abastecendo-se de milho e mandioca. São a origem da FAMÍLIA TUPI-GUARANI, que originalmente se organizaram no altiplano boliviano, às margens do Lago Titicaca, e só depois se dispersaram pelo Brasil, Paraguai e Uruguai.

Baseado em texto de MOACYR SOARES PEREIRA,
da Universidade Federal de Alagoas.

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