terça-feira, 26 de abril de 2011

KORUBO, os índios caceteiros

Os KORUBO, também conhecidos como “índios caceteiros” por causa de suas bordunas, vivem na região de confluência dos rios Ituí e Itaquaí, que é um afluente direto do Javari, rio que dá o nome à Terra Indígena onde estão inseridos. Suas terras tradicionais são o extremo oeste do estado do Amazonas e abrange a região de fronteira do Brasil com o Peru. A maior parte dessa população (mais de 200 pessoas) ainda vive isolada, movimentando-se entre os rios Ituí, Coari e Branco.


Em 1996, após várias tentativas, a FUNAI contatou um pequeno grupo de índios Korubo. Depois do encontro com a equipe de atração, os Koru
bo começaram a realizar visitas sucessivas às aldeias dos índios Matis e aos acampamentos da Frente na mata. Hoje, o grupo distribui-se em duas comunidades no baixo Ituí. Não se sabe como os Korubo denominam a si mesmos. Alguns pesquisadores chegaram a identificar o termo DSLALA como a autodenominação desse povo. No entanto, trabalhos recentes da Frente de Proteção Etno-ambiental Vale Javari (FPEVJ) revelam que não há uma autodenominação que seja unânime entre os Korubo.

Segundo Pedro
Coelho, a denominação Korubo foi dada pelos Matis. Esses últimos afirmam que Korubo seria um nome próprio da onomástica matis. Um Matis revelou o significado da palavra Korubo: “Koru é isso, coberto de areia, de cinza, sujo de barro. Os Korubo se tapam de barro para espantar os mosquitos, ficam assim sujos, cobertos de Koru” (Arisi, 2007). Philippe Erikson levanta a hipótese de que Korubo seria uma designação genérica para “inimigo”. Ao comentar sobre os etnônimos dos Panos Setentrionais, esse autor ressalta que os Kulina-Pano afirmam ter exterminado um grupo que vivia no igarapé Esperança, afluente do rio Curuçá, cujo apelido era Korubo. No entanto, é provável que não se trate dos índios que hoje designamos como tal.

Os Korubo são falantes de uma língua ainda não classificada, que provavelmente faz parte da família lingüística Pano, bastante semelhante às línguas faladas pelos Matis e pelos Matsés (Mayoruna), que vivem em territórios contíguos ao dos Korubo. Por causa dessa proximidade lingüística e geográfica, a maior parte do grupo compreende e fala as línguas dos grupos vizinhos, principalmente a dos Matis.

Sabe-se que o pequeno grupo korubo contatado em 1996 compreende bem os Matis, etnia com a qual tem estabelecido boas relações. Contudo, é importante ressaltar que, antes do contato, ambos os grupos era
m inimigos entre si e por isso partilhavam uma história de rivalidades e de guerras. Atualmente, por causa dessa história marcada por mortes, raptos e destruição de casas, os Matis ainda guardam um certo medo dos Korubo que vivem isolados.

A influência que hoje os Matis exercem sobre os Korubo é grande e bastante explícita. Um exemplo claro é o fato de utilizarem a língua Matis para se reportarem aos membros da Frente de Proteção Etno-ambiental Vale Javari. A trajetória pós-contato contribui para que houvesse um melhor entendimento da língua Matis, já que a Frente de Contato e, posteriormente, Frente de Proteção Etno-ambi
ental Vale do Javari priorizou os Matis como intérpretes e como mediadores das atividades com os Korubo.

Os Korubo também compreendem a língua Matsés (Mayoruna), mas não tão bem como a dos Matis.

Alguns índios, com contatos mais freqüentes com representantes da Frente, compreendem e falam razoavelmente o português. Há uma cobrança por parte do grupo para que aprendam o português, no intuito de melhor interagir com a sociedade nacional. Os Korubo costumam ouvir comentários e relatos dos Matis sobre suas
visitas à cidade e assim ficam bastante curiosos. No entanto, mesmo possuindo um conhecimento razoável do português, os Korubo evitam conversar nesse idioma, preferindo usar a língua Matis (ou os próprios Matis como intérpretes) para se comunicarem com os membros da Frente. Além disso, percebe-se que eles se apropriaram de algumas palavras matis e as incorporam em seu vocabulário.

Além da influência matis sobre a língua Korubo, nota-se que os Matis são supervalorizados pelos Korubo.
Estes defendem os Matis em inúmeras situações - tanto verbal como fisicamente - especialmente em ocasiões de conflito com membros de outras etnias e com os funcionários da Frente.

Não é possível descrever os rituais desse povo, já que muitas práticas caíram em desuso depois da cisão com o antigo grupo (isolado). Trata-se hoje de um grupo formado basicamente por jovens que não tiveram a oportunidade de aprender com os mais velhos muitos aspectos da sua cultura. Contudo, realizam algumas danças e um tipo de choro que se mescla com um canto ritual.

Com relação à cultura material, nota-se que o grupo utiliza q
uase que exclusivamente os seguintes instrumentos de caça e guerra: a zarabatana, o arco e flecha, a borduna e um tipo de lança. A ponta do dardo da zarabatana é embebida em um veneno elaborado a partir da raspagem de dois tipos de cipó. As cerâmicas ainda estão presentes na vida cotidiana, mas sua fabricação já não é tão comum, dada a substituição dos artefatos tradicionais por utensílios industriais, presenteados pelos funcionários da Frente e pelos Matis. Quanto aos adornos corporais, não há a mesma exuberância existente entre outros grupos Pano. O que pode ser classificado como adorno tradicional é o bracelete de tucum. Muito do que é usado hoje pelo grupo já é uma apropriação dos elementos tradicionais dos Matis, como as pulseiras e a perfuração na orelha.

As mulheres usam uma faixa de tucum para carregar os filhos pequenos.
Uma outra característica tradicional dos Korubo é o corte de cabelo em meia cuia (ou meia lua): conserva-se somente o cabelo que vai do centro da cabeça até a testa, raspando o restante com auxílio de um capim típico da região. Há ainda um outro corte tradicional que é feito com a raspagem de quase toda a cabeça, deixando somente uma faixa de cabelo que vai de uma orelha à outra, como se fosse uma “tiara”.

Os homens korubo tomam uma bebida elaborada a partir de um cipó denominado Tati com objetivo de ficarem fortes e aptos para a caça.
Fonte http://pib.socioambiental.org/pt/povo/korubo

Nenhum comentário:

Postar um comentário