A Quinoa é uma planta anual que pode atingir mais de 2,50 m de altura. Algumas variedades podem não passar de um metro de altura, como a variedade chamada Real. A magnificência da Quinoa se revela nos panículos imponentes de cores variadas: verde, amarelo, vermelho, ocre, marrom... A cultura da Quinoa é relativamente fácil e ela é uma planta resistente. Ela pode então crescer nos Andes em até 4000 metros de altitude e existe até uma outra espécie, Chenopodium pallidicaule, que cresce em altitudes podendo atingir 5000 metros, em regiões altas com neve durante nove meses do ano. Segundo a variedade, o crescimento da Quinoa dura de 90 a 220 dias. Numerosos agricultores Canadenses realizaram experiências coroadas de sucesso e isso até o 51º paralelo. Quanto à sua produtividade, ela é muito aceitável e pode variar nas melhores parcelas de 3 a 5 toneladas por hectare.
Os Incas chamavam a Quinoa de “CHISIYA MAMA”, que, em Quéchua, significa “mãe de todos os grãos”. Ela era para eles uma planta sagrada, e era o imperador Inca que todos os anos semeava os primeiros grãos, usando um utensílio de ouro. Durante o solstício, os grandes sacerdotes Incas a ofereciam ao sol em vasos de ouro.
Recentes pesquisas arqueológicas indicam que a Quinoa era cultivada por volta de 5000 anos antes de Cristo na Bacia de Ayacucho no Peru. Segundo o arqueólogo David Browman, de 70 à 90 % das sementes descobertas no sítio de Chiripa (1350 aC-50 dC) perto do Lago Titicaca são sementes de Quinoa. Nesse mesmo sítio, por volta do ano 1000 aC, as sementes de Quinoa aumentam de tamanho, sinal de domesticação e de melhora. É ao redor do Lago Titicaca que se encontra a maior diversidade de Quinoas e o centro de origem dessa planta se encontra no Peru ou na Bolívia. Sua extensão atual na América do Sul coincide quase com os limites do império Inca, para o Norte na região de Bogotá na Colômbia e para o Sul até a ilha de Chiloé na costa Chilena. Sua cultura se estende também ao território dos Araucanianos, cultura extremamente criativa que nunca foi conquistada pelos Incas.
A Quinoa constitui a base alimentícia das grandes civilizações pré-colombianas. Assim, o centro cultural de Tiahuanaco que foi particularmente florescente, do ano 600 ao ano 1200, era muito dependente da cultura de Quinoa, pois ele era localizado às beiras do Lago Titicaca, a 4200 metros de altitude. O império Inca que lhe sucedeu, podia ainda contar com a cultura do milho, pois sua capital Cuzco era situada a 450 metros mais baixo em altitude. Até o momento da conquista espanhola dois terços da população do que é hoje o Peru vivia nas terras onde reinava a cultura da Quinoa.
Na época da invasão européia, a Quinoa constituía o segundo alimento, por ordem de importância, dos povos andinos. O primeiro era a batata e o terceiro era o milho. Os espanhóis adotaram rapidamente o milho que crescia em altitudes inferiores e em climas mais clementes.
Em compensação, os espanhóis não prestaram nenhuma atenção a Quinoa e esse desprezo pode se explicar de muitas maneiras. Primeiro, os espanhóis levaram com eles os cereais ocidentais – centeio, trigo, aveia e cevada, assim como ovinos e bovinos. As batatas constituíam um bom complemento desses alimentos enquanto a proteína extremamente equilibrada da Quinoa só suscitava pouco interesse por causa da grande abundância de carne produzida nos ranchos, de forma extensiva, nas vastas terras que se despopulavam muito rapidamente. Em seguida, a Quinoa, sem glúten, se prestava pouco à panificação enquanto o pão constituía uma das bases alimentícias da Europa. Em seguida, se as amostras de Quinoa experimentadas pelos espanhóis não tinham sido retiradas de sua película amarga de saponina, havia poucas chances que delas serem apreciadas ao seu justo valor. Além disso, eles descobriram a cultura sem dúvida por causa de sua característica sagrada e as conotações religiosas que a envolviam.
O que os conquistadores não adotaram, eles arruinaram. Eles desmantelaram o sistema agrícola altamente sofisticado e muito produtivo que os Incas e seus predecessores tinham estabelecido. Os Incas tinham desenvolvido estruturas muito complexas de cooperação e trocas de trabalhos a fim de manter a infra-estrutura agrícola das estradas, dos terraços e das obras de irrigação. Essas estruturas não puderam ser preservadas, pois a população foi destruída por terríveis epidemias e forçada, em escravidão, a trabalhar nas minas e em outras atividades econômicas impostas pelos conquistadores.
Por volta do final do século XVI, a relocalização das populações indígenas nas “reducciones”, tipos de pequenas comunidades, facilitou o controle colonial, assim como o recrutamento para os trabalhos forçados, e impediu o trabalho coletivo necessário ao mantimento da infra-estrutura agrícola. No espaço de um século, os povos da serra, mesmo se eles foram muito menos atingidos pela conquista que os povos das regiões costeiras, foram reduzidos a um sexto do que eram antes da época da colonização. A Quinoa desapareceu com a sociedade e o sistema agrícola que a havia portado. Apesar disso, restos do antigo sistema agrícola perduraram nos vilarejos indígenas e são esses vilarejos que, durante séculos contribuíram para a preservação dessa cultura antiga.
Texto da Kolopelli Seed Foundation
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