WICHI ou WEENHAYEK, é um povo originário do Chaco, no centro da América do Sul. Os quéchuas lhes atribuíram o nome de matacos (espécie de tatu, comum na região), como foram chamados pelos colonizadores até o final do século XX. Sua língua faz parte da família mataco-mataguayo – que inclui os Chorote, Maká, Chulupí, Matagayo e Vejoce. Em relação a estes últimos, seu parentesco com os Wichi atuais é tão estreito que estão sendo considerados como facções de uma mesma etnia.
Muitos antropólogos lhes atribuem uma origem patagônica, apesar de indubitáveis caractéristicas culturais tipicamente amazônicas e andinas, inclusive nos traços físicos - estaturas geralmente menor que as de outras etnias chaquenses da família patagônica. Assim como os povos andinos, os Wichi são monogâmicos, têm a posse familiar da terra e o hábito de estocar o excedente agrícola – o que lhe dá um certo sedentarismo.
Os Wichi vivem em aldeias (huef ou huet) organiizadas por parentesco e coordenadas por um chefe ancião e um conselho comunitário de homens. Suas moradias são choças (huep) em forma de cúpula de 2 a 3 metros de diâmetro, construídas com ramas, onde conviviam todos os membros de uma família.
Desenvolveram uma agricultura de subsistência que, praticamente se resume à horticultura. Sua estrutura básica é o modo de produção caçador-coletor: o sustento principal vem da caça, da pesca e da coleta. As mulheres se dedicavam ao cultivo de pequenas abóboras e à coleta de coco de palmeira (pindó, yatay e caranday), alfarroba, feijões selvagens e mel. Como entre muitos povos caçadores-coletores, a situação ecológica de interdependência com os animais é tal que os Wichi costumam dar-lhes o qualificativo de "irmãos".
Têm um “calendário” circular com base lunar: o início do ano (okä nek' chum) é celebrado no período que corresponde ao mês de agosto, quando começa a nawup ("lua das flores"); em novembro começa a yachup ("lua das alfarrobas"); no final do nosso verão vem a estação lup ("lua das colheitas") e, a seguir, a fwiyeti(up) ("lua das geadas").
Seus utensílios e artefatos são principalmente de madeira (por exemplo, os "paus de lavoura" que mantinham alguma semelhança com as llakta dos povos andinos). Mas também têm instrumentos de pedra polida, desenvolveram a cerâmica e têm produção têxtil e cestaria usando sobretudo a fibra de caraguatá (Bromelia hieronymi), planta muito usada comum na região.
Seu sistema de crenças pode ser classificado como animismo e xamanismo. Cultuam sobretudo os Espíritos da Natureza, que lhes são mais próximos, porém acreditam em um Criador: Tokuah ou Tokuaj, que rege o mundo.
A partir de 1870 começaram a ser reduzidos pelo homem branco, forçados a trabalhar na colheita de algodão, na safra de cana de açúcar ou como lenhadores. Em 1914, missionários ingleses criaram uma “missão” em seu território, visando converte-los ao anglicanismo; tais pastores se retiraram em 1982, durante a Guerra das Malvinas, o que permitiu aos Wichi recuperarem vários traços culturais anteriores e reorganizarem-se como comunidade tradicionais. Só em 1986 foi admitido o bilinguismo nas escolas da região que habitam.
Os Wichi habitavam tradicionalmente as zonas ocidentais do Chaco Central e Austral, principalmente a margem esquerda do Rio Bermejo. Atualmente, vivem principalmente na região de Tarija (Bolívia) e do Chaco Saltenho (Argentina), para onde foram empurrados pela crescimento das sociedades de origem ocidental.
Durante o século XX suas condições de vida foram de muita pobreza, subsistindo com o cultivo de pequenas porções de terra, a coleta, caça e pesca dos degradados recursos chaquenhos, ou a venda de artesanatos de grande valor artístico e técnico (os homens fazem esculturas em madeira e as mulheres produzem tecidos de caraguatá e pequena cerâmicas). Como os integrantes de outras etnias originárias na América do Sul, os Wichi se tornaram “crioulos”, migrando para zonas urbanas, onde vão morar em bairros humildes. Muitos se converteram ao cristianismo, particularmente às linhas evangelistas e pentecostais.
No início de 2006 eram a segunda comunidade indígena do Chaco Saltenho e contam com escolas bilíngües para não perder suas tradições. Censos realizados no período de 2003-2004 indicam que cerca de 36.500 se reconhecem como pertencentes à etnia wichi. Cerca de 47% fala quase exclusivamente seu idioma (desses, 80% são mulheres).
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