quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Q'OM... um povo cavaleiro


Os Q’OM são uma etnia que habita no Grande Chaco. Seu nome significa “homem”. Os Guarani os chamam de “TOVA” ou “TOBA”, que significa “frente”, pois os Q’om têm o hábito de raspar a parte dianteira dos cabelos, aumentando a testa. No Paraguai costuma-se chama-los de EMOK, que significa “próximo” ou “paisano”.

Os primeiros contatos com os espanhóis aconteceu no século XVI. Até o século XIX eram um povo predominantemente caçador-coletor, seminômade, com uma acentuada divisão sexual do trabalho: os homens, desde cedo, dedicavam-se à caça e à pesca (tapir, cervos, guanacos e uma grande variedade de aves); as mulheres eram responsáveis pela coleta de frutos, tubérculos, raízes e mel, bem como de uma agricultura incipiente - de batata, mandioca e milho -, apenas para a subsistência familiar, sem excedente para acumulação.

O encontro com os espanhóis introduziu o uso do cavalo na cultura Q’om. Passaram a usá-los com freqüência a partir do século XVII, tornando-se grandes criadores e hábeis cavaleiros. Isso influenciou também na vestimenta típica: passaram a usar uma capa de couro com capuz, que os protegia dos galhos e espinhos as árvores muito baixas do Chaco, bem como dos pumas e jaguares que faziam tocaia nesses galhos.
Com a adoção da equitação, puderam estender seus domínios, tornando-se a etnia dominante do Chaco Central. Realizavam incursões no Paraguai, no Chaco Austral e na região pampeira, armados com arco e flecha, para assaltar as populações próximas às suas fronteiras.

Os Q’om mostraram-se o povo mais resistente à aculturação e tornaram difícil a entrada dos ocidentais na região chaquena, chegando a ameaçar a cidade de Santa Fé, em 1858. Em 1919, a última resistência Q’om foi abatida pelo exército argentino, na batalha que ficou conhecida como “Massacre de Napalpí”. A partir de então, os Q’om se viram cada vez mais ameaçados pelo avanço da civilização ocidental; muitos tornaram-se trabalhadores assalariados nas plantações de algodão ou na construção civil.

Os Q’om tem um sistema de crença animista e xamanista, com um bem desenvolvido culto a Espíritos da Natureza. Até hoje mantém a tradição da transmissão oral de seus conhecimentos religiosos, mesmo entre aqueles que oficialmente adotaram o cristianismo. A maioria ainda recorre aos PIO’OXONAK (xamãs) como médicos e curandeiros.

Atualmente, as maiores aldeias Q’om encontravam-se no leste do Tarija, na Bolívia; no oeste de Formosa, no centro do Chaco e no norte de Santa Fé, na Argentina; e no Chaco Boreal, no Paraguai. Mantém-se, portanto, em seu território ancestral, em comunidades rurais coordenadas por associações ou um líder eleito pela comunidade.

Cultivam pequenas áreas ou trabalham como peões temporários para os fazendeiros argentinos, bolivianos e paraguaios. Também produzem um grande artesanato de cerâmica e tecidos a base de fibra de caraguatá (bromélia típica da região).

Na Argentina, o último censo registrou 20.600 Q’om (dos quais, 19.800 são falantes da língua nativa, o QOMLAQTAP); no Paraguai são 700 pessoas e na Bolívia, apenas 146. Porém, cerca de 60.000 argentinos que vivem nas cidades da região do Chaco reconhecem-se descendentes dos Q’om. Na segunda metade do século XX, muitos se viram forçados a migrar para as cidades de Roque Sáenz Peña, Resistência, Santa Fé, Grande Rosário e até Buenos Aires. Em tais núcleos urbanos, quase em sua totalidade vivem nas zonas economicamente mais deprimidas. No entanto, ainda constituem o grupo originário mais numeroso na atualidade, conservando um certo agrupamento de castas que conduzem com uma organização política milenar.

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