Os Q’OM são uma etnia que habita no Grande Chaco. Seu nome significa “homem”. Os Guarani os chamam de “TOVA” ou “TOBA”, que significa “frente”, pois os Q’om têm o hábito de raspar a parte dianteira dos cabelos, aumentando a testa. No Paraguai costuma-se chama-los de EMOK, que significa “próximo” ou “paisano”.
Os primeiros contatos com os espanhóis aconteceu no século XVI. Até o século XIX eram um povo predominantemente caçador-coletor, seminômade, com uma acentuada divisão sexual do trabalho: os homens, desde cedo, dedicavam-se à caça e à pesca (tapir, cervos, guanacos e uma grande variedade de aves); as mulheres eram responsáveis pela coleta de frutos, tubérculos, raízes e mel, bem como de uma agricultura incipiente - de batata, mandioca e milho -, apenas para a subsistência familiar, sem excedente para acumulação.
O encontro com os espanhóis introduziu o uso do cavalo na cultura Q’om. Passaram a usá-los com freqüência a partir do século XVII, tornando-se grandes criadores e hábeis cavaleiros. Isso influenciou também na vestimenta típica: passaram a usar uma capa de couro com capuz, que os protegia dos galhos e espinhos as árvores muito baixas do Chaco, bem como dos pumas e jaguares que faziam tocaia nesses galhos.
Com a adoção da equitação, puderam estender seus domínios, tornando-se a etnia dominante do Chaco Central. Realizavam incursões no Paraguai, no Chaco Austral e na região pampeira, armados com arco e flecha, para assaltar as populações próximas às suas fronteiras.
Os Q’om mostraram-se o povo mais resistente à aculturação e tornaram difícil a entrada dos ocidentais na região chaquena, chegando a ameaçar a cidade de Santa Fé, em 1858. Em 1919, a última resistência Q’om foi abatida pelo exército argentino, na batalha que ficou conhecida como “Massacre de Napalpí”. A partir de então, os Q’om se viram cada vez mais ameaçados pelo avanço da civilização ocidental; muitos tornaram-se trabalhadores assalariados nas plantações de algodão ou na construção civil.
Os Q’om tem um sistema de crença animista e xamanista, com um bem desenvolvido culto a Espíritos da Natureza. Até hoje mantém a tradição da transmissão oral de seus conhecimentos religiosos, mesmo entre aqueles que oficialmente adotaram o cristianismo. A maioria ainda recorre aos PIO’OXONAK (xamãs) como médicos e curandeiros.
Atualmente, as maiores aldeias Q’om encontravam-se no leste do Tarija, na Bolívia; no oeste de Formosa, no centro do Chaco e no norte de Santa Fé, na Argentina; e no Chaco Boreal, no Paraguai. Mantém-se, portanto, em seu território ancestral, em comunidades rurais coordenadas por associações ou um líder eleito pela comunidade.
Cultivam pequenas áreas ou trabalham como peões temporários para os fazendeiros argentinos, bolivianos e paraguaios. Também produzem um grande artesanato de cerâmica e tecidos a base de fibra de caraguatá (bromélia típica da região).
Na Argentina, o último censo registrou 20.600 Q’om (dos quais, 19.800 são falantes da língua nativa, o QOMLAQTAP); no Paraguai são 700 pessoas e na Bolívia, apenas 146. Porém, cerca de 60.000 argentinos que vivem nas cidades da região do Chaco reconhecem-se descendentes dos Q’om. Na segunda metade do século XX, muitos se viram forçados a migrar para as cidades de Roque Sáenz Peña, Resistência, Santa Fé, Grande Rosário e até Buenos Aires. Em tais núcleos urbanos, quase em sua totalidade vivem nas zonas economicamente mais deprimidas. No entanto, ainda constituem o grupo originário mais numeroso na atualidade, conservando um certo agrupamento de castas que conduzem com uma organização política milenar.
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