Os KAWESKAR são um povo nômade, navegadores pequenos e magros, que vivia nos canais da Patagônia chilena, entre o Golfo de Penas e o Estreito de Magalhães, mas chegavam facilmente às ilhas que ficam a oeste da Terra do Fogo. Seu nome significa “PESSOA” ou “SER HUMANO”.
A unidade básica Kaweskar era a família nuclear, que se deslocava sozinha em sua canoa, em busca de alimento. Em tempos mais difíceis, duas ou três famílias se juntavam para apoio mútuo. Suas cabanas eram pequenas, feitas com armadura de madeira e cobertas com pele de foca.
A canoa e
ra a peça mais importante e apreciada de seu patrimônio material. Fabricada em madeira cinza de coique – árvore perene que nasce no sul do Chile -, media cerca de 8 ou 9 metros. Grande o suficiente para acomodar toda a família.
Vestiam-se com uma capa de pele de foca, que lhe cobria os ombros e as costas, amarrada ao pescoço com tiras de couro ou fibra. Essa roupa os deixava sempre secos, naqueles canais de mar agitado. A evangelização e, posteriormente, a aculturação os obrigou a trocar essa roupa pelas européias, que se mostraram muito inadequadas, uma vez que ficaram sempre muito molhadas. Essa mudança aumentou o número de qawásqar com problemas de saúde – particularmente respiratórios –, provocando muitas mortes.
Alimentavam-se habitualmente de lobo-marinho e focas. Eventualmente, de baleia, quando encontrava uma encalhada na praia. Nesse caso, várias famílias se reunião ao redor da carcaça por semanas ou até meses, conservando a carne e curtindo o couro.
Suas ferramentas eram de pedra, madeira, osso de baleia e concha de mariscos. Confeccionavam arco e flecha, fundas, arpões e facas para trabalhar com os troncos com os quais faziam suas canoas. Usavam fibras vegetais e animais para confecção de cestos e canastras. O metal só foi conhecido através do contato com os brancos.
Suas crenças giravam em torno de ALEP-LÁYP, o Espírito Bom, que protegia contra o naufrágio e oferecia a baleia aos Kaweskar. Mas também criam em AYAYEMA, o Espírito do Caos, KAWTCHO, o Espírito da Noite, e MWOMO, o Espírito do Ruído – o que provoca avalanches de neve. Quando alguém adoecia ou se feria gravemente, os qawásqar buscavam ajuda com seus xamãs. Caso esse percebesse que a morte era inevitável, o doente era deixado sozinho em sua cabana, para que pudesse encontrar os Espíritos e fazer a Grande Travessia. Depois de morto, seu corpo era envolto em uma pele de foca, colocado em sua canoa cheia de pedras e lançado ao mar.
Acredita-se que os Kaweskar tenham chegado àquela região em torno de 6.000 anos atrás. O primeiro contato com os europeus colonizadores foi no século XVI, quando então eram certa de 2.500 a 3.000 pessoas. No fim do século XVIII, sua região foi invadida por grande quantidade de barcos baleeiros inglês e norte americanos, trazendo doenças e causando um grande desequilíbrio à sociedade Kaweskar. Na segunda metade do século XIX, os Salesianos conseguiram autorização de fundar uma Missão na Ilha Dawson, com o propósito de evangelizar os Kaweskar, dando início a um processo de assimilação cultural e transformação de hábitos ancestrais daquele povo. Em 1900 não eram mais que 1.000 Kaweskar; em 1924, restavam apenas 240.
Em 1937, o Governo Chileno criou a base aérea de Porto Eden – a última reserva Kaweskar. Em 1992, eram apenas 60 indígenas; em 2000, não se conhecia mais que 17 qawasqar. Os últimos qawasqar foram Jérawr Asáwer, que faleceu 2003, Alberto Achacaz Walakial, que faleceu em 2008, com cerca de 79 anos.
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