sexta-feira, 1 de maio de 2009

LLANK'AY - se faz, faça bem



"Com sabedoria, alegria e energia, trabalha por tua família, pela tua comunidade, pela tua nação, pela Mãe-Terra"



Desde os primórdios da civilização andina, o trabalho está intimamente ligado às noções de AYNI (reciprocidade) e de AYLLU (comunidade): o intercâmbio de força de trabalho entre pessoas ou grupos, dentro da comunidade (AYLLU), numa ajuda recíproca (AYNI) para arar a terra ou erguer alguma edificação (casa, cerca ou armazém). Cabia a quem estava sendo ajudado, na forma de ayni, oferecer alimento, bebida e folha de coca aos trabalhadores. E ficava, por sua vez, na dívida de ajudá-los, da mesma forma, quando precisassem.

Além desse esquema de trabalho por ajuda mútua entre, existiam outros dois esquemas tradicionais. O primeiro deles é chamada de MINGA (“trabalho coletivo”) refere-se às obras importantes para toda a comunidade e que, portanto, deveria ser executada por todos – tais como a construção de canais de irrigação, pontes, templos, locais de charqueamento, armazéns, currais, etc, etc. Também era entendido como minga, ou seja, RESPONSABILIDADE COMUNITÁRIA, a construção da casa para um novo casal e o cuidado das terras dos órfãos, inválidos, viúvas, enfermos e anciãos da Comunidade.

O segundo tipo é chamado de MITA, uma organização coletiva de trabalho entre vários Ayllu (comunidades) para a construção de estruturas que fossem necessárias a todos eles. Mita era, portanto, o trabalho estatal: construção de estradas, pontes comunais, depósitos de víveres ou produtos artesanais (collcas), pousadas (tambos) e templos regionais de culto. Esse tipo de trabalho era organizado pelo Inca, que se tornava, então, responsável pela alimentação, bebida, roupa, instrumentos de trabalho, produtos artesanais e folha de coca para os trabalhadores, bem como de suas famílias pelo período em que estivessem a serviço do Estado. Normalmente, ao final do trabalho, cada “mitayo” (trabalhador em regime de mita) recebia uma cota extra de alimentos e tecidos como agradecimento. Como, durante sua permanência nas mitas, a comunidade se responsabilizava pelo trabalho em suas terras (pela obrigatoriedade da minga), os bens recebidos pela mita se tornavam uma grande economia familiar e, portanto, um benefício e não uma exploração. Estavam livres da mita as mulheres, crianças, anciãos e inválidos sem qualquer prejuízo de seus direitos e status dentro da comunidade e do Estado.


As formas coletivas de trabalho eram organizadas pelos líderes: o KURACA (líder comunitário) no caso da minga e o INCA (ou seu representante local) no caso da mita. Mas por não ser um trabalho escravo, a adesão não era automática: ela preciso que o líder – aquele que estava convocando para um trabalho – explicasse exatamente o que queria e porque era necessário. E qualquer pessoa era livre para se recusar participar, porém isso o colocava fora do “ayni” e, portanto, não poderia mais contar nem pedir ajuda aos líderes em caso de necessidade pessoal ou da sua família. O critério do “ayni” estabelecia que todos que participassem do trabalho fossem beneficiários dele, naquele momento ou no futuro. Assim, em um período de fraca produção de alimentos, podia pedir ao kuraca e ao inca que lhe provesse de tudo que precisasse para viver até a próxima produção. Para isso serviam os bens armazenados, tanto no Ayllu quanto no Império.

Essa organização sem propriedade individual, sem mercado, sem moeda, sem preços, sem rendas privadas, onde a oferta é regulamentada, a demanda simplificada e onde o funcionalismo permite a avaliação das necessidades e das possibilidades de produção e a construção de estoques reguladores em benefício de todos os trabalhadores, garantiu que o maior império do mundo não conhecesse a pobreza ou a fome. O trabalho como ayni (reciprocidade ou ajuda mútua), garantindo a justiça e a redistribuição dos bens produzidos comunitariamente.


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