O assunto relativo a uma escrita pré-colombiana no Brasil é um dos mais apaixonantes temas da arqueologia brasileira em virtude do número avultado de trabalhos existentes, dividindo os que acreditam e os que consideram total absurdo. As inscrições encontradas em cavernas e rochedos situados em diversos pontos do território brasileiro, contam-se aos milhares e têm propiciado as mais fantásticas teorias atribuindo as gravações a fenícios, gregos, vikings e até mesmo a atlantes! Mas as inscrições do Brasil são isto mesmo: inscrições indígenas. Querer atribuir aos litoglifos uma outra origem, constitui desconhecimento do assunto ou, o que é pior, má fé.
A PEDRA DO INGÁ, na Paraíba, tem sinais que se assemelham muito à escrita "rongo-rongo" da Ilha de Páscoa. Encontra-se, ainda, naquela pedra representações de diversos astros a que foi dada a denominação de TÁBUA ASTRONÔMICA e que parece ter sido feita com o propósito de reproduzir todos os corpos celestes visíveis naquela região
Já no ano de 1896, o conselheiro do Instituto Histórico Brasileiro, Tristão de Alencar Araripe, apresentava, na sessão de 9 de dezembro, uma memória de sua autoria que relacionava 34 sítios que continham, a seu ver, inscrições lapidares, apresentando os desenhos colhidos em diversos locais daqueles sítios e que eram citados com minúcias. Seu extenso trabalho foi publicado na Revista do Instituto Histórico, tomo 50, e passou a figurar como fonte de consultas até os dias atuais. Entretanto, ele não chegou a emitir um juízo acerca dos possíveis autores daquelas inscrições.
O coronel Bernardo Azevedo da Silva Ramos acreditou que a maior parte das inscrições lapidares eram gregas ou fenícias, escrevendo um monumental trabalho em dois volumes, intitulado "Inscrições e Tradições da América Pré-Colombiana" em função de tal idéia.
Ainda no fim do Século XIX, surgiu um livro do famoso explorador americano Carlos Frederic Hartz, lançado em tradução brasileira no ano de 1895, com o título de "Inscrições em Rochedos do Brazil". Suas conclusões não lhe permitiram emitir um parecer definitivo, mas a obra é de grande importância por conter sinais de sítios que já não existem.
Finalmente, Alfredo Brandão, em seu trabalho "A Escrita Pré-Histórica do Brasil", aventa a possibilidade de os indígenas brasileiros terem possuído uma escrita própria, ora silábica, ora hieroglífica. De toda forma, deve ter sido um dos que mais se aproximaram da realidade. Modernamente, alguns autores atribuíram os glifos à mera atividade ociosa de determinadas tribos. Seguindo tal linha de raciocínio, um indígena desenhava uma figura qualquer, a seguir um outro, por espírito de emulação, fazia novas figurações e assim por diante, até cobrirem uma larga extensão, seja de uma laje, seja de uma caverna. Tal raciocínio afigura-se um autêntico absurdo, pois muitos dos sinais encontram-se em locais de difícil acesso, o que elimina qualquer dúvida quanto à intencionalidade do trabalho.
A repetição de certos símbolos em regiões distantes centenas de quilômetros, dão-nos a convicção de que os nativos possuíam meios de identificá-los, conhecidos por vários grupos. Formariam idéias ou indicações que poderiam ser entendidas, por diversas pessoas, o que os colocava inequivocamente na categoria de escrita.
Ainda dentro da presumida teoria fenícia, temos a destacar a inscrição encontrada na Paraíba, no século XIX, por Ladislau Neto, que a traduziu e interpretou como sendo a descrição do naufrágio de uma nave de Sidon, feita por seus tripulantes. Apodada de fantasia pelos doutos da época, a aludida tradução foi ressuscitada, devido a uma nova interpretação do conhecido professor americano Cirus Gordon, que reinteira a tradução de Ladislau Neto. Não é de todo impossível, aquela e outras naves terem naufragado nas proximidades do continente americano, mas não podemos atribuir todas as inscrições a náufragos, mesmo porque muitas encontram-se distantes do litoral centenas de quilômetros.
Curiosamente do mesmo Estado da Paraíba, surgiram diversas menções acerca da existência de um tipo de escrita, desenvolvida pelos indígenas da região, e que teria sido empregados em livros, fabricados com papel de entre-casca de árvores e encadernados em madeira dura. Esta história, que a primeira vista pode ser tachada como fantasiosa, consta de várias obras e comunicações jesuítas, e está referida no livro do pesquisador inglês Robert Southey, "História do Brazil", conforme pode ser verificado na edição publicada pela Melhoramentos em 1977, onde encontra-se relatado que os livros teriam sido "feitos por inspiração demoníaca, com caracteres ensinados pelo Diabo", razão porque os jesuítas trataram de destruir aqueles "livros malditos". O que vem de encontro a citação do Padre Simão de Vasconcelos, de que na entrada da cidade da Paraíba existia uma pedra muito antiga, incrustada num penedo, coberta por sinais que tinham sido feitos por "inspiração demoníaca", como consta em sua "Crônica da Companhia de Jesus". Também Rocha Pita, o laureado escritor nascido no Brasil, toca bem de leve no assunto, evitando se estender, numa matéria que evidentemente não seria do agrado dos membros da Santa Inquisição, "zelosos protetores do povo contra as tentações demoníacas", que pelo visto tinham particular interesse em instruir os silvícolas brasileiros.
Mas o maior mistério acerca deste apaixonante assunto, poderá se constituir nos vasos existentes no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que foram considerados pelo coronel Fawcet e pelo então diretor daquele estabelecimento, como ornados com uma espécie de escrita, sendo que os vasos em questão eram oriundos de pontos diversos do território nacional. O professor Alberto Childe, em artigo intitulado "Vasos Brasileiros Pré-Colombianos com Inscrições", publicado na revista "Ciências", da Biblioteca Nacional, revela-nos desenhos dos aludidos vasos, sugerindo uma forma de escrita bastante desenvolvida. Um estudo das figurações não permite a conclusão do tipo de escrita, que ora parece silábica, ora ideogramática. O estilo dos próprios vasos lembra la cerâmica de Miracanguera, a enigmática cultura descoberta por Barboza Rodrigues e que não apresenta nenhuma ligação com as demais culturas do Brasil.
A PEDRA DO INGÁ, na Paraíba, tem sinais que se assemelham muito à escrita "rongo-rongo" da Ilha de Páscoa. Encontra-se, ainda, naquela pedra representações de diversos astros a que foi dada a denominação de TÁBUA ASTRONÔMICA e que parece ter sido feita com o propósito de reproduzir todos os corpos celestes visíveis naquela região
Já no ano de 1896, o conselheiro do Instituto Histórico Brasileiro, Tristão de Alencar Araripe, apresentava, na sessão de 9 de dezembro, uma memória de sua autoria que relacionava 34 sítios que continham, a seu ver, inscrições lapidares, apresentando os desenhos colhidos em diversos locais daqueles sítios e que eram citados com minúcias. Seu extenso trabalho foi publicado na Revista do Instituto Histórico, tomo 50, e passou a figurar como fonte de consultas até os dias atuais. Entretanto, ele não chegou a emitir um juízo acerca dos possíveis autores daquelas inscrições.
O coronel Bernardo Azevedo da Silva Ramos acreditou que a maior parte das inscrições lapidares eram gregas ou fenícias, escrevendo um monumental trabalho em dois volumes, intitulado "Inscrições e Tradições da América Pré-Colombiana" em função de tal idéia.
Ainda no fim do Século XIX, surgiu um livro do famoso explorador americano Carlos Frederic Hartz, lançado em tradução brasileira no ano de 1895, com o título de "Inscrições em Rochedos do Brazil". Suas conclusões não lhe permitiram emitir um parecer definitivo, mas a obra é de grande importância por conter sinais de sítios que já não existem.
Finalmente, Alfredo Brandão, em seu trabalho "A Escrita Pré-Histórica do Brasil", aventa a possibilidade de os indígenas brasileiros terem possuído uma escrita própria, ora silábica, ora hieroglífica. De toda forma, deve ter sido um dos que mais se aproximaram da realidade. Modernamente, alguns autores atribuíram os glifos à mera atividade ociosa de determinadas tribos. Seguindo tal linha de raciocínio, um indígena desenhava uma figura qualquer, a seguir um outro, por espírito de emulação, fazia novas figurações e assim por diante, até cobrirem uma larga extensão, seja de uma laje, seja de uma caverna. Tal raciocínio afigura-se um autêntico absurdo, pois muitos dos sinais encontram-se em locais de difícil acesso, o que elimina qualquer dúvida quanto à intencionalidade do trabalho.
A repetição de certos símbolos em regiões distantes centenas de quilômetros, dão-nos a convicção de que os nativos possuíam meios de identificá-los, conhecidos por vários grupos. Formariam idéias ou indicações que poderiam ser entendidas, por diversas pessoas, o que os colocava inequivocamente na categoria de escrita.
Ainda dentro da presumida teoria fenícia, temos a destacar a inscrição encontrada na Paraíba, no século XIX, por Ladislau Neto, que a traduziu e interpretou como sendo a descrição do naufrágio de uma nave de Sidon, feita por seus tripulantes. Apodada de fantasia pelos doutos da época, a aludida tradução foi ressuscitada, devido a uma nova interpretação do conhecido professor americano Cirus Gordon, que reinteira a tradução de Ladislau Neto. Não é de todo impossível, aquela e outras naves terem naufragado nas proximidades do continente americano, mas não podemos atribuir todas as inscrições a náufragos, mesmo porque muitas encontram-se distantes do litoral centenas de quilômetros.
Curiosamente do mesmo Estado da Paraíba, surgiram diversas menções acerca da existência de um tipo de escrita, desenvolvida pelos indígenas da região, e que teria sido empregados em livros, fabricados com papel de entre-casca de árvores e encadernados em madeira dura. Esta história, que a primeira vista pode ser tachada como fantasiosa, consta de várias obras e comunicações jesuítas, e está referida no livro do pesquisador inglês Robert Southey, "História do Brazil", conforme pode ser verificado na edição publicada pela Melhoramentos em 1977, onde encontra-se relatado que os livros teriam sido "feitos por inspiração demoníaca, com caracteres ensinados pelo Diabo", razão porque os jesuítas trataram de destruir aqueles "livros malditos". O que vem de encontro a citação do Padre Simão de Vasconcelos, de que na entrada da cidade da Paraíba existia uma pedra muito antiga, incrustada num penedo, coberta por sinais que tinham sido feitos por "inspiração demoníaca", como consta em sua "Crônica da Companhia de Jesus". Também Rocha Pita, o laureado escritor nascido no Brasil, toca bem de leve no assunto, evitando se estender, numa matéria que evidentemente não seria do agrado dos membros da Santa Inquisição, "zelosos protetores do povo contra as tentações demoníacas", que pelo visto tinham particular interesse em instruir os silvícolas brasileiros.
Mas o maior mistério acerca deste apaixonante assunto, poderá se constituir nos vasos existentes no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que foram considerados pelo coronel Fawcet e pelo então diretor daquele estabelecimento, como ornados com uma espécie de escrita, sendo que os vasos em questão eram oriundos de pontos diversos do território nacional. O professor Alberto Childe, em artigo intitulado "Vasos Brasileiros Pré-Colombianos com Inscrições", publicado na revista "Ciências", da Biblioteca Nacional, revela-nos desenhos dos aludidos vasos, sugerindo uma forma de escrita bastante desenvolvida. Um estudo das figurações não permite a conclusão do tipo de escrita, que ora parece silábica, ora ideogramática. O estilo dos próprios vasos lembra la cerâmica de Miracanguera, a enigmática cultura descoberta por Barboza Rodrigues e que não apresenta nenhuma ligação com as demais culturas do Brasil.
Baseado em texto de AURÉLIO M. B. DE ABREU
Uma correção - Aurélio M. G. de Abreu - Aurélio Medeiros Guimarães de Abreu - Obrigado
ResponderExcluirInteressante isso de escrita silábica e ideogramática, se for verdade. A escrita japonesa funciona de forma similar, misturando ideogramas (a maioria importada da china) e com silabarios criados a partir dos ideogramas.
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