sábado, 1 de maio de 2010

A GAIOLA DOS PÁSSAROS GIGANTES II

O deserto de Palpa apresenta desenhos de um estilo absolutamente diferente dos outros geoglifos por sua concepção geometrizada, tornando-os obras-primas de estilização raramente igualadas.

Um desses desenhos é um BEIJA-FLOR que se lança à procura de não se sabe quala néctar naquela paisagem morta. A presença do beija-flor no deserto podeir aparecer de certo modo incongruente, mas ele abunda nos jardins de Lima, onde a temperatuura invernal frequentemente não ultrapassa 10º acima de zero. Na verdade, é encontrado por toda parte do Peru, tanto nos vales interandinos como na floresta amazônica e até no Altiplano do lago Titikaka, a 4.000 metros de altitude, onde vive em cavernas.

Asas abertas em triângulo, na horizontal, uma cauda larga prolongada por uma pena caudal, dão a perfeita ilusão do minúsculo passageiro do ar, do qual ele é a preciosidade. Exclusivo das Américas Central e do Sul, o BEIJA-FLOR, campeão das grandes manobras aéreas, de uma vivacidade incrível, voa tão bem para a frente como para o lado ou recuando, estabilizando-se em um ponto fixo através de um batimento de asas imperceptível, murmurante como a seda.

Coberto com uma fina penugem de reflexos cintilantes, apaenas um pouco maioir que um zangão, é também denominado "AVE-MOSCA". O naturalisata francês Jules-Charles de l'Écluse relatou, em 1601, um alenda muito bonita que explica este apelido. Ele se encontrava em Tournay, na companhia de um grupo de missionários jesuítas de retorno das "Índias Ocidentais", quando lhe contaram que os brasileiros davan a este minúsculo volteador o nome de OURISIA ou "RAIO DE SOL". O padre geral da Companhia de Jesus acrescentou, bastante seriamente, que o colibri era procriado por uma mosca! Como seu auditório se mostrasse incrédulo, para dar mais credibilidade ao seu relato, ele afirmou "ter visto com seus próprios olhos, um exemplar que, não havendo terminado sua transformação, era parte mosca e parte pássaro".

O jesuíta afirmou, sem seguida, que "as penas que cobrem o corpo do beija-flor são inicialmente negras, depois acinzentadas, ems eguida rosadas e vermelhas em definitivo". E ele concluiu que "se um raio de sol toca a cabeça do pássaro, descobre-sea em sua plumagem todas as cores que se possam imaginar". O que é verdade desta vez, se se acrescenta, como o padre Guevara, que elas são "irisadas de ouro, verde e azul". Este outro jesuíta introduziu uma variante na descrição precedente: o colibri nasce de um ovo único, mas ao invés de uma avezinha, é um "verme" que se forma, se desenvolve, "toma patas", uma cabeça e asas, começa a voar como uma borboleta e a se "manter no ar com um louca inquietude".

O cronista Francisco Lopes de Gomara informa que "o beija-flor se nutre de orvalho, de mel e do néctar das flores (...) que ele adormece em outubro e desperta em abril, quando há muitas flores". Por isto no Peru apelidaram-no de "o ressuscitado".

O franciscano B. de Sahagun observa que se atribuía ao colibri "o dom de curar as pústulas e mesmo de imunizar o homem (provavelmente contra a sífilis), em troca de uma esterilidade definitiva". E mais: "era o mais bonito presente que se fazia aos reis e príncipes".

Na mitologia andina, o colibri está associado à primavera e, em Machu Picchu é considerado "a alma das Virgens do Sol", reclusas após a invasão espanhola e que por lá morreram.

Nos museus, as vitrines guardam pares de colibris de ouro, com bicos em agulha, que ornavam os cilindros-brincos, os espelhos, os broches, espátulas e braceletes dos grandes personagens.

José Maria Arguedas, um dos melhores folcloristas peruanos, ouviu de um Aymara do alto planalto uma comovente história: penetrando um dia em um pukullu (tumba muito antiga em forma de pirâmide), ele encontrou ali um colibri de altitude. "Beija-flor, esemeralda verde, suplico-lhe que me ajude a venerar o coração da motanha!"
Baseado em texto de Simone Waisbard

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