sexta-feira, 23 de abril de 2010

A GAIOLA DE PÁSSAROS GIGANTES

Que significa atribuir às grandes figuras do feérico pampa de Nazca? A falta de fontes escritas sobre o assunto o torna m dos mais cativantes mistérios dos Andes. Eugênio Alarco prega que "o fundamento mitológico constitui a grandiosa linguagem dos primitivos, para se comunicarem os os mistérios do mundo".

Duas razões me impeliram a iniciar minhas pesquisas pela análise dos desenhos de pássaros. A primeira é sentimental. Retomando o caminho seguido por Paul Kosok, me encontrei, primeiramente, confrontada com um dos mais belos espécimens do zoo dos Nazcas: um gigantesco pássaro planando sobre o deserto. Portanto, como ele ainda, eu não o compreendi em terra. Kosok apenas viu o pássaro tomar forma sobre a sua mesa de desenho, retraçando "as medidas de um estranho caminho".

A segunda razão e que o tema preferito dos artistas do deserto foi precisamente aquele pássaro; dezoito acham-s ainda nitidamente visíveis, embora, conforme as fotografias aéreas e o sobrevoo, eles foram certamente muito mais numerosos na origem.

Transmitida pelos folcloristas peruanos desde a Conquista, a tradição oral abunda de fábulas das quais os pássaros, sob formas múltiplas, são os intérpretes: mensageiros ou agentes dos deuses, divindades ou sua progênie. Neste caso, eles tomam "feições lunares", mas suas extremidades não possuem mais que quatro dedos, à maneira das patas dos pássaros. Em muitas das lendas da costa, eles encarnam astros, gênios e, sobretudo, espíritos ancestrais. Alugns possuem uma posição sagrada. Frequentemente, a lua e o sol nasceram de um ovo de condor. Por toda a parte, eles estão associados aos poderes mágicos. Em Cuzco, conta-se que quando o Inca Mayta Capac desejou reunir uma grande quantidade de ídolos, para com eles preencher os alicerces de seu palácio, aqueles fugiram a toda pressa sob a forma de pássaros.


Um verdadeiro CULTO DO PÁSSARO existe deste o Alaska até a Patagônia, onde a espécie está smepre associada à magia e, frequentemente, aos sacrifícios, quer deles sja oo hholocausto ou o executor.

Terrestres ou marinhos, por toda pasrte também os pássaros são cooperantes com os ritos da fertilização e da produção do solo. A chegada ou passagem de tal ou tal categoria de pássaros assinala a boa ou má estação. As semi-estaçaões são tão breves que, da noite ao dia seguinte, três meses de pleno sol tropical sucedem à interminável e entristecedora presença da corrente de Humboldt sobre a costa peruana; os pássaros indicam o momento chegado das colheitas nos vales e oásis, o tempo favorável ao entreposto do excedente, aquele para os pescadores se aventurarem no mar ou nos rios, para ali apanharem um maná precioso. As brumas fazem reverdecer os lomas costeiros, onde podem pastar os rebanhos e os animais perseguidos pelos caçadores. A chegada das chuvas ou do degelo na serra arratam o barro fertilizante.

Se atualmente eles já não interpretam o vôo dos pássaros, à moda dos HAMURPAS, os mágicos do Inca que praticavam a ornitomancia, isto é, a adivinhação pelo vôo e canto dos pássaros, os pescadores do Pacífico interpretam , todavia, os indícios meteorológicos pelos costumes de certas espécies. Quando os brujillos ("pequenos bruxos") de crista vermelha, bico longo e corpo escuro, lançam gritos desesperados, visto que eles se transtornam sabendo que vão ter dificuldade em se aprovisionarem de mariscos e crustáceos, dos quais se alimentam, os pescadores são advertidos que o mar vai se enfurecer.

Certas hordas de pássaros migradores deviam anunciar a data na qual os vendedores ambulantes Nazcas partiam para o ponto de encontro dos cumes, nos quais se mantinham imensos mercados de troca com os índios dos Andes e aqueles das florestas tropicais, quando os acrogáticos caminhos das cordilheiras voltavam a ser praticáveis.

Mas onde os deslocamentos dos pássaros do mar no céu omava todo os eu valor augural, é verdadeiramente relacioando como guano das ilhas peruanas. A colheita, por exemplo, só se pode efetuar fora do período de nidificação dos guaneros, a fim de não perturbar o ciclo anual de reprodução. É então, entre os meses que correspondem a abril e outubro, que os homens partiam em grupos para as ilhas rochosas, para ali desfrutar de espessas camadas de dejeções esbranquiçadas, com o pavoroso odor amoniacal... Os cronistas do século XVI desceveram a orgíaca cerimônia do AKATAY MITA ou "RETORNO DO GUANO", clebrada no finala do ano, grande festa licenciosa que presidia a fumagem das terras a fertilizar.

Quando os pescadores do Pacífico, nossos contemporâneos, percebem que os pássaros guaneros fogem em direção ao sul e ao Chile, é proque chove excepcionalmente ao norte. E se chove, o oceano fica inesperadamente reaquecido, rompendo todo o ciclo das manifestações da misteriosa corrente de Humboldt. Nõa somente as aves emigram aos milhares, mas eles morrem outro tanto, visto que os bancos de pequenos peixes como a anchoveta e o plancton de que se alimentam, são arrastados ao largo. A colheita de guano diminuirá em milhares de toneladas e a falta deste adubo naturla, que sozinho permite fecundar as ingratas culturas à beira dos desertos, tornar-se-á dramática. Por outro lado, peixes vorazes surgirão, devorando as espécies comq ue se alimentam habitualmente os povos do litoral. Enfim, as águas saturadas de organismos mortos, em decomposição, serão perigosas para a navegação marítima.

Hoje, os mágicos Nazcas não estão mais lá para esclarecer os homens sobre o futuro e ninguem sabe (ou não se interessa) mais, no Peru, em prognosticar tão catastróficas anomalias!

Consciente da importância desses fenômenos meteorológicos, um investigador peruano - Jorge Salinas - tem-se perguntado se o pássaro gigante dos pampas naõ teria, precisamente, por objetivo predizer a referida anomalia. Essa figura não parece, de fato, estar orientada ao acaso.

"O pássaro com as asas estendidas dá a impresão de voar em direção ao sudeste", estipula Jorge Salinas, "isto , coincidindo com o perfil da costa e com a direção tomada atualmente, em anos anormais, pelos guaneros em seu exílio chileno". Além disso, acrescenta ele, "de asa a asa, uma linha atravessa o pássaro para marcar o solstício de verão". Os antigos Nazca teriam desenvolvido uma verdadeira ciência "barométrica" e "meteorológica", sem nenhuma necessidade de aparelhos de precisão. Assim, apenas observando o vôo dos pássaros, eles previam a tempo os anos funestos de penúria e podiam remediá-los através de medidas de economia tomadas de urgência, tais como a preparação de peixe seco e de algas desitradadas.

O pássaro gigante de Jorge Salinas, aquele que Kosok descobriu acidentalmente, um dos desenhos que se fotograva mais frequentemente de avião por sua suprema elegância, verdadeiro "poema voador", mede 135 metros de comprimento. A linha quebrada que lhe dá nascimento a oeste, liga-o a um monumental quadrilátero com 850 metros de comprimento por 80 de largura. Como o indicou Salinas, ele é de ponta a ponta, em toda a sua envergardura (120 m), interceptado por uma outra linha que o ultrapassa e se prolonga por 6 quilômetros aproximadamente, antes de ir ter num local onde se entrelaçam novos traços.

Bordado com pequenas pedras na areia, como uma "geometria em suspenso", provido de asas possantes, o pássaro-totem parece iniciar uma viragem dem direção sul-sudoeste... A qual espéice pertence realmente? Embora de um realismo perfeito, como os dezessete outros megafrescos de pássaros que se divertem no imenso aviário mitológico de Nazca, não é fácil identificá-lo com toda certeza. Cada modelo tem ou um detalhe a menos... ou um a mais!
No conjunto, ele é designado pelo nome de FRAGATA ou ÁGUIA DO MAR, um palmípede que se alimenta de carne morta, pirata do ar e que, através de seu batimento de asas estrondoso ou, na estação do acasalamento, dilatando seu papo de uma grossura supreendente, assusta e coloca em fuga todos os outros pássaros. À vista da ave de rapina, eles deixam cair, para seu benefício, uma presa da qual ela se apodera destramente em vôo.

Na mitologia do Pacífico, a fragata personifica a Quilla - a Lua, deusa da pesca. Sob traços ornitomorfos - o bico curvo torna-se um nariz, os olhos êm a forma de asas -, a divindade noturna, luxuosamente ornada, é esperada pelo Sol, circundado por uma multidão de pássaros marinhos, sobre uma ilhota rochosa onde, ao amanhecer, ele a fecundará com seus raios quentes.

Um segundo pássaro visto de perfil correspondente melhor às características da fragata, embora o desenho seja mais desajeitado: papo inflado, bico ligeiramente curvo na ponta e, sobretudo, patas curtas. Quer dizer, ele é totalmente diferente do majestoso exemplar, impecável no traçado, possuidor dde longas patas esticadas. Outro detalhe totalmente típico da fragata - que os Nazca não teriam omitido -, é a cauda bifurcada, em "andorinha", enquanto que o geógrifo gigante aparesenta uma cauda trapezoidal, prolongada por uma importante pena rectriz central.

Trata-se mais de uma espécie de andorinha-do-mar. Luiz Lubreras qualifica-o, antes de tudo, "de um pássaro mitológico" reproduzido seugndo a "constelação do pássaro". As linhas que partem da cauda e acentuam as asas, podeiram ser solsticiais.


Texto de Simone Waisbard

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