sábado, 18 de julho de 2009

ACLLAS, as Sacerdotisas do Sol

Por volta de 1532, quando os espanhóis desembarcaram nos domínios inca, se defrontaram com uma sólida organização por todo o planalto andino, da Colômbia até o Chile e a Argentina, da costa do Pacífico até a floresta amazônica, tendo o Peru como o centro político, econômico e demográfico.

Nas descrições do mundo religioso incaico, os cronistas espanhóis falam, impressionados, de um grupo de mulheres chamadas ACLLAS - MULHERES ESCOLHIDAS como esposas e sacerdotisas do Sol. Segundo eles, só em Cuzco existiam de três a quatro mil dessas sacerdotisas, que eram recrutadas entre as donzelas mais belas e nobres do Império, excetuando-se as filhas e as irmãs dos Incas. Tal escolha era efetuada por funcionários especiais que, por mandato do Inca, percorriam todas as comunidades escolhendo jovens moças para viverem em recolhimentos femininos, dedicados ao Inca e ao Sol, denominados ACLLAWASI – CASA DAS ESCOLHIDAS. As "escolhidas" como acllas eram nomeadas esposas do Sol e do Inca, sendo investidas de qualidades sagradas, exercendo, em razão disso, papel importantíssimo nos cerimoniais e rituais oficiais do Império. O cronista Martín de Murúa informou que, no Reino do Peru “havia maior primor nesse negócio de Virgens que serviam nos templos, e era coisa muito antiga, porque desde que se começou a adorar o Sol e construir templos para ele, o primeiro Rei dos Incas, chamado Pachacuti Inca, ordenou que entre os outros sacerdotes, houvesse mulheres donzelas, filhas de grandes senhores, das quais umas serviam de Mulheres do Sol, outras de criadas e servas dessas, outras de fazer roupas muito delicadas com muito cuidado e diversas cores, de maneira que eram ricas e formosas à vista de todos; faziam também os mais delicados vinhos, que eram usados para oferecer sacrifícios a seu Deus; serviam de dia e de noite nos Templos do Sol, com grande cuidado”.

Entre elas há uma hierarquia baseada nos atributos de beleza, honradez e castidade. As que eram consideradas encarnação da perfeição física e moral, bem educadas e mais habilidosas eram escolhidas como SACERDOTISAS DO SOL, e deviam permanecer em perpetua virgindade. Eram investidas de características sagradas, detinham poderes e privilégios, sendo, por isso, freqüentemente reverenciadas por toda a sociedade. Essas viviam em Acllawasi dedicadas a Inti, o Sol: ricos palácios espalhados por todo o império, onde nem mesmo o Inca podia entrar. As demais, viviam em Acllawasi dedicadas ao Inca e ligadas aos cultos de adoração a Lua e a Terra – cerimônias religiosas que apenas as acllas participavam.


As Sacerdotisas do Sol eram consideradas MULHERES SAGRADAS, e por isso eram veneradas e homenageadas por onde passassem. Até mesmo a sua alimentação era diferenciada, não podendo ser como a das outras pessoas. Também eram chamadas de MAMACONAS Grandes Mães – podiam falar em nome dos deuses e interpretar suas predisposições. Além disso, juntamente com os sacerdotes, tinham a responsabilidade de defender a moralidade e a ordem no Império. Como oficiantes do ritual inca, elas presidiam cerimônias nas quais os laços entre Cuzco e as províncias eram reforçados e acentuados. Eram as principais oficiantes da FESTA CITUA, entre outras, em que sacerdotes e guerreiros da dinastia incaica purificavam Cuzco ritualmente. Durante todo o mês em que se celebrava a Citua, as mamaconas distribuíam pedaços de pão sagrado - pequenos bolos de farinha de milho misturados com sangue de lhamas sacrificados - aos representantes de cada província e aos sacerdotes, simbolizando a "comunhão sagrada", a renovação das alianças, a reiteração das tradições e a reiteração da indissociabilidade entre religião e Estado, entre imperador e súditos, entre o Império e seus Deuses:

Nesse sentido, as acllas, como Filhas do Sol, representavam também símbolos divinos do Império Inca. Enquanto sacerdotisas, participavam do conjunto de relações constitutivas da organização social do Império em sua dimensão simbólica e funcional. Dessa forma, a instituição das acllas era intrínseca e imprescindível à estruturação, funcionamento e manutenção da ordem imperial.


Baseado no texto de Susane Rodrigues de Oliveira

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