sábado, 6 de junho de 2009

CONHECIMENTO ANCESTRAL

Muito temos a aprender com o conhecimento ancestral dos antigos americanos e sua cultura, ainda viva e vigorosa em muitos lugares e países de todo continente. Em alguns locais, a herança indígena se diluiu ou misturou-se de tal forma com outras culturas que se apresenta quase que imperceptível. Já em outras regiões, a tradição nativa permaneceu bastante forte e palpável, como no caso da extensa região da cordilheira dos Andes.

Dentre esses ensinamentos encontra-se o profundo respeito e reverência com que esses povos tratavam a todas as manifestações e formas de vida. Os antigos enxergavam na natureza o sagrado e dessa forma estruturaram e organizaram seu universo. Eles estabeleceram uma ética ecológica que a civilização industrial moderna parece desconhecer quando agride e despreza a mãe-Terra. Recuperar das culturas ancestrais essa ética e valores seriam de grande benefício para todos nós e para o planeta.Todos os elementos do mundo indígena se reconhecem e se baseiam nestes valores e princípios, encontrando-se interligados através de uma visão holística que privilegia a unidade, a interdependência e a interdisciplinidade.

A milenar tradição andina, através de sua última e grandiosa civilização anterior à chegada dos europeus - os Incas - estruturou seu universo e desenvolveu-se mantendo o vínculo com a natureza e a ética ecológica.

A genialidade do homem andino possibilitou um modelo de civilização onde o controle de técnicas agrícolas era associado a conhecimentos astronômicos e ao respeito pela natureza, Pachamama. O império inca, chamado de Tawantinsuyo (quatro cantos do mundo), possui o mérito de ter erradicado a fome dentro dos limites de seu vasto território, composto de áreas dos atuais Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Chile e Argentina.

Para isso, utilizaram antiqüíssimos padrões e técnicas, aplicando-os em um âmbito geográfico considerável. O império dispunha para seu uso e distribuição de uma enorme variedade e quantidade de produtos: desde a costa do pacífico, passando pela cordilheira, até os Andes Amazônicos.Os incas fomentaram e puseram em prática uma infinidade de recursos agrícolas para intensificar a produção de alimentos e assim fazer frente à crescente demanda, desmedida em função da limitação de terras cultiváveis em contraste com a extensão territorial do império.

Precisamente a natureza, exígua em matéria de terras de cultivo, gerou uma crise alimentícia permanente que somado ao aumento populacional levou ao desenvolvimento cultural dos povos andinos e explicam sua fisionomia tanto material como institucional. Assim moldaram sua forma de administração e organizaram seu universo mágico-religioso, onde suas divindades principais eram deuses ligados ao sustento.Para obter o máximo da produção agrícola, fundamental foi conhecer os delicados ciclos da natureza andina, identificar as estações e estabelecer um preciso calendário relacionado à agricultura, observando as estrelas, o Sol e a Lua.

E nesse campo, os astrônomos andinos aprofundaram bastante seu conhecimento compondo, junto à arquitetura, impressionantes espaços rituais, cujas construções estavam alinhadas astronomicamente e marcavam solstícios e equinócios.

Através da arqueoastronomia (o estudo dos vestígios arqueológicos e sua relação com a astronomia) podemos perceber o alcance deste conhecimento, sua relação com a cultura, a religião e sua importância na manutenção de um gigantesco império agrícola.

Também com finalidade de ampliar e melhorar a produção agrícola, mas indo além disso, os incas praticaram a geobiologia - arte milenar de trabalhar as energias do céu e da terra.

Oferendas e rituais realizadas em determinadas datas, nos lugares de forte energia cosmo-telúrica (chamados de HUACAS pelos Incas), afetariam o padrão energético das plantações ao redor, além de causar outros efeitos aos seres vivos, inclusive ao homem.

É por isso que tanto se diz que em Machu Picchu a pessoa é envolta em uma agradável sensação de paz e reconforto. Machu Picchu e muitas outras obras do povo andino foram planejadas para interagir com as energias do céu e da terra. Muitas construções estão alinhadas com os astros, poderes do céu, e localizadas em lugares especiais da Terra, seguem padrões harmônicos e produzem, ainda hoje, efeitos notáveis.

Ka W Ribas, amauta runa da Tradição Andino-Amazônica

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