O tempo é uma constante da natureza em que nós existimos. Todas as civilizações do mundo têm sua própria forma de compreender o tempo. A civilização Qolla tem dois calendários; o primeiro é o CALENDÁRIO AMAWTA, que tem metáforas sobre a origem do tempo e suas respectivas idades. O segundo é o CALENDÁRIO QOLLA, que em sua versão ancestral sistematiza o ciclo solar, lunar e agrícola, o “espaço” de vida comum, com um sistema climático comum.
O TEMPO NOS ANDES
O KUMI é um grupo de 20 anos, muito bem definido por nossos antepassados, que contavam o tempo de 20 em 20 anos. Mas Kumi foi mal interpretada por Ludovico Bertonio em 1612, que o declarou como um conjunto de 10 anos pares e 10 anos ímpares.
O TAWA agrupa 4 anos ou Pusimara e, portanto, em cada Kumi há cinco Tawa. Um Tawa se une ao Tawa seguinte através de um dia especial chamado Jach’a uru ou Jutun P’unchay – que significa “O Grande Dia”.
Mara significa ano para os Aymaras; Mala no idioma dos Aroanas e Wata para os kichwas. Wata também significa reforço ou remendo e Mara é uma pedra especial, aquecida pelos raios solares. Portanto, MARAWATA significa “reforço do ano”.
O TIRSU equivale a meio ano e o TARU à quarta parte do ano. Então, o Mara tem dois Tirsu e quatro Taru. Cada Taru, de acordo com os materiais líticos e as informações orais de nossos antepassados, equivale a um PACHA, que são:
Juyphipacha (tempo frio) – começa 04 de maio e termina em 2 de agosto. Em 21 de junho é o INTIRAYMI ou Festa do Sol, das Crianças e dos Anciãos – e também o solstício de inverno.
Wayrapacha (tempo do vento) – começa em 3 de agosto e termina em 01 de novembro. Em 21 de setembro acontece o QHUYARAYMI, chamada de Festa dos Jovens; neste dia ocorre o equinócio da primavera.
Jallupacha (tempo das chuvas) – começa em 02 de novembro e termina em 1 de fevereiro. Em 21 de dezembro é o QHAPAXRAYMI, que é o maior festival do Sol; é a festa da família. Nesse dia ocorre o solstício de verão.
Llamp'upacha (tempo de calor) – começa em 2 de fevereiro e termina em 3 de maio. Em 21 de março é o PAWKAR RAYMI, a festa do idoso – e o equinócio de outono.
CALENDÁRIO AGRÍCOLA AYMARA – os “meses”
1 – SAMANA – tempo em que natureza diminui sua atividade e entra em processo de “sono” ou sami. Nos Ayllus, as pessoas terminam seu trabalho agrícola e se preparam para o ano seguinte
2 – LOQAYA – tempo em que cai a neve, diminuindo a temperatura ambiental, que, ao descongelar, irá alimentar as nascentes e os córregos. No Ayllu se realiza a Loqta ou “Oferenda a Pachamama”.
3 – QUPAÑA – tempo em que as primeiras chuvas da primavera começam a cair. As pessoas começam a preparar a terra para o plantio, removendo a superfície de ressecada, para que a terra se umideça e fique em condições para o plantio.
4 – WAKICHAÑA – tempo em que se iniciam as plantações nos vales. No Ayllu, começa a semeadura das hortas, que funcionam com um sistema de irrigação. Também começam a para preparar as sementes para o próximo plantio nos campos que dependem das chuvas.
5 - SATAÑA – tempo do plantio em terras altas. O povo do Ayllu começa a semear os campos que já estão bem úmidos. Nas partas baixas, semeia-se o milho e nas partes altas, as batatas e a forragem para os animais.
6 - ALIRAYAÑA – tempo em que as plantas começam a brotar. Durante este mês todo esforço é direcionado para evitar a entrada de animais nos campos; por isso os campos de pastagem são realocados. Os pomares são irrigados e se espera que cresçam.
7 - IRNAQAÑA – tempo em que se deve garantir a irrigação das plantações. Por isso se refaz os sulcos dos campos, que ficaram expostos a muitas chuvas; cuida-se que a água da chuva chegue de maneira uniforme a todo o campo, para que a plantação cresça saudável.
8 - QAWAÑA – tempo em que as chuvas aumentam de intensidade, os campos começam a se encher de ervas e os sulcos muitas vezes se desfazem. Por isso, para o qual . Qawar ou refazer cada sulco e reforçando a terra com raízes e caules de plantas
9 - URUCHAYAÑA – tempo em que os campos atingem o máximo crescimento e plenitude. No Ayllu as pessoas se dedicam às canções para os campos, e se festeja, com uma mistura de confete, serpentina e muita alegria, a ANATAÑA ou URUCHAYAÑA.
10 - POQORAYAÑA – tempo em que as pessoas se dedicam a regar aqueles campos que ainda precisam de água, fazendo amadurecer os que têm muito folhagem, pisando as folhas, para que enraizem seus produtos que estão no subsolo. Os primeiros produtos foram extraídos.
11 - ALLIRAÑA – tempo em que começa a colheita. Nas partes superior e média dos Andes, se colhe batatas, oca, izaños e algumas variedades de grãos. Quando o trabalho se intensifica, as pessoas praticam o AYNI (trabalho comunitário).
12 - QAYRUÑA – tempo em que simultaneamente se colhe e armazena os produtos em depósitos subterrâneos – ou Qayrus – para que não percam sua umidade. Nesses depósitos, a colheita pode ser preservada fresca ou quase intacta por vários meses.
13 – PIRWAÑA – tempo em que parte dos produtos é armazenada nas casas, para consumo imediato ou para ser usada no mercado de troca. O produto seco é armazenado no Pirwas; entre eles, o chuño (batata desidratada), que podem ser consumido durante anos.
URU e P’UNCHAY – os “dias” e a “semana”
Se sete dias é de uma semana, quatro semanas – que representam as quatra partes do Ayllu – se constituem em um “mês” de 28 dias. Os dias e as noites de terça-feira e sextas-feiras são momentos para reverenciar e honrar nossos protetores naturais, especialmente os primeiros de cada mês e durante a lua cheia.
O nome desses dias, no entanto, ainda não é unânime. Existem dois tipos de dias: "dias móveis" e "dia estáticos." Os “dias móveis” referem-se sempre ao presente; são eles:
Jurpuru = passado
Nayruru = outro dia
Waluru = anteontem
Wasuru = ontem
Jichhuru = hoje
Qharuru = amanhã
Qhepuru = depois de amanhã
Os “dias estáticos” são uma adaptação da semana européia. Seus nomes referem-se às cores do arco-íris:
Chupuru = sábado – de Chupika (vermelho): “dia vermelho”
Wanturu = domingo – de Wantura (laranja): “dia laranja”
Q'illuru = segunda-feira – de Q'illu (amarelo): “dia amarelo”
Ch'uxñuru = terça-feira – de Ch'uxña (verde): “dia verde”
Laqpuru = quarta-feira – de Laqampu (azul claro): “dia azul claro”
Larmuru = quinta-feira – de Larama (azul): “dia azul”
Qulluru = sexta-feira – de Kulli (violeta): “dia violeta”
O Marat'aqa, em aruwa, e o Watap'iti, em rimawa, significam "ruptura do ano" ou o dia fora do ano. Com esse nome identifica-se o dia 21 Junho – o único dia solto, que é adicionado a cada ano.
ANO
O ano andino tem 13 meses, totalizando 364 dias, aos quais é adicionado dia Marat'aqa (21 de junho). É o TINKU, a ponte e o nó da encontro do ano de velho, que se vai, com o novo ano, que começa.
O Marat'aqa, por relacionar-se ao Sol, é chamado de WILLKI – “que derrama sua luz”. É o centro do Intiraymi, o Festival do Sol (21 de junho). O Intiraymi começa a ser preparado a partir da lua nova anterior a 21 de junho e dura três dias antes e três dias depois do willki, ou seja, de 18 a 24 de Junho.
O JACH'A URU ou “grande dia" é adicionado a cada Tawa e é muito festejado. É chamado de WILLKASI, que significa "encontro do Sol".
Os povos originários desse continente, por milhares de anos, tivemos nossa própria maneira de contar o ano, que persiste ao longo do tempo no Intiraymi de 18 a 24 junho, cerca de 21 de junho, com a chave para o modo de contagem dos dias e meses do ano. O pacha ou o tempo começa a contar a partir de Kumi (20 anos), Tawa (4 anos), o Marawata (13 meses e 1 dia) e o Phaxsi (4 semanas de 28 dias).
Texto de “Qollasuyu Hemisferio Sur”
Nenhum comentário:
Postar um comentário