Por volta de 1918 Vieira da Rosa fez referências a algumas formações rochosas peculiares no litoral catarinense. Mas só 70 anos depois que o então pescador Adnir Ramos percebeu que algumas das formações rochosas e grandes pedras localizadas no Morro da Galheta coincidiam com o nascer do Sol e da Lua em épocas específicas do ano. Um dos fenômenos foi a observação do nascer do Sol no solstício de inverno na Pedra do Frade. A partir daí, começou a mapear outras pedras possivelmente associadas a efemérides celestiais.
Os três sítios principais com potencial arqueoastronômico, são:
1 - Pedra do Frade, no costão da Barra da Lagoa
2 - Ponta do Gravatá
3 - Morro da Galheta
PEDRA DO FRADE
Este sítio está localizado no costão da Barra da Lagoa. Após atravessar a ponte pênsil e a prainha da Barra da Lagoa, seguindo pela Trilha das Piscinas Naturais. Cerca de 10 minutos de caminhada pelo costão nota-se duas colunas de pedras que se destacam em relação ao ambiente. Percebe-se que as duas pedras permitem a observação de um intervalo do horizonte. O observador não tem opção de se movimentar ao norte pois há o mar, tampouco ao sul pois tem o início do Morro do Farol da Barra. Estando de frente à Pedra do Frade e notando o intervalo do horizonte visível entre as duas rochas, o observador testemunha o nascer do Sol na época do solstício de verão do hemisfério sul (21-22 de dezembro). O ponto de observação está situado a 50 metros da Pedra do Frade e foi encontrada nesta posição uma pedra com linhas onduladas, catalogada por Keler Lucas. Este mesmo sítio está relacionado com o solstício de inverno, bastando o observador se posicionar a sudoeste da Pedra do Frade e notar o nascer do Sol entre as duas rochas.
Continuando o caminho pelo costão encontram-se outros quatro petroglifos em forma de rede, linhas cruzadas e onduladas. Isto é significativo pois indica que houve presença humana no local.
Foto de A. Amorim

Foto de A. Amorim
Este sítio possui várias formações rochosas pitorescas porém uma chama a atenção pelo fato de uma pedra similar a um cubo estar repousada sobre uma plataforma. O ponto de observação é singular pois situa-se no limite de um pequeno abismo de 5 metros. Exatamente nesta posição limite o observador nota a linha do horizonte tocando o ponto entre a pedra e a plataforma. E neste cruzamento de linhas é a posição do nascer do Sol no solstício de verão. Até o momento não encontrou-se petroglifos ou outro vestígio de presença humana antiga a não ser na pequena praia do Gravatá onde existem diversos amoladores.
Sol nascendo no Solstício de Verão, 20 de dezembro de 2008.
A peculiaridade deste sítio reside no fato de estar relacionado principalmente com os equinócios embora haja alguns alinhamentos solsticiais. Em relação aos equinócios encontramos três pedras com tamanho em torno de 3 metros - A, B e C. A pedra A repousa sobre a pedra B. Já a pedra C encontra-se cerca de 3 metros à leste das primeiras. O observador deve se situar a oeste destas pedras, próximo a uma parede rochosa, de modo que a conjunção das três pedras formem uma minúscula janela onde a linha do horizonte atravessa o seu interior. Se o observador deslocar-se a sua direita, a janela fecha-se, e se o observador deslocar-se a sua esquerda, a janela se desfaz. Exatamente na direção da janela o Sol nasce por ocasião dos equinócios (20-21 de março ou 21-22 de setembro). É sabido que o movimento aparente do Sol na linha do horizonte durante a época dos equinócios é maior do que durante os solstícios em virtude da inclinação relativa da eclíptica com o equador celeste. O autor ainda não observou o comportamento do feixe de luz solar sobre a parede rochosa. O único vestígio arqueológico nas proximidades é uma inscrição rupestre descoberta por Adnir Ramos localizada numa das trilhas de acesso (também conhecida por Caminho dos Reis). Durante a pesquisa por parte do autor notou-se a ação de vandalismo no sítio, principalmente derrubada de algumas pedras e restos de fogueira.
Alinhamento de pedras existentes no Morro da Galheta.
Sol nascendo no Equinócio de Outono, 21 de março de 2008.Os Sambaqueiros: Dominavam a técnica da pedra polida a julgar pelos pertences encontrados em seus sambaquis. O provável conhecimento astronômico que poderiam ter estaria relacionado em saber a época de colher apropriadamente os frutos maduros ou simplesmente se preparar para pescar certos peixes na época certa. Com a diminuição da duração do dia e proximidade dos dias mais frios o primitivo pescador saberia que se aproxima da época de pescar a tainha, por exemplo. Hoje, com a nossa cultura fortemente influenciada pelo calendário gregoriano, o pescador responderia prontamente que tal época situa-se entre os meses de maio e julho. Mas o pescador primitivo tinha outro tipo de contagem de tempo, um calendário cíclico que alternava entre dias frios e dias quentes.
Os Itararés: embora também fossem pescadores-caçadores-coletores como os sambaquieiros, os itarerés dominavam a cerâmica para uso utilitário. Os itararés tinham excelente qualidade de vida, a julgar pelas ossadas disponíveis.
Por que tais tradições não usariam ferramentas para o ciclo anual? A resposta a esta pergunta necessita de pesquisa.
O trânsito do disco solar durante o solstício de verão, conforme observado na Pedra do Frade, dura aproximadamente 16 dias centrados na data do solstício. Já o trânsito do disco solar na janela formada pelo alinhamento de pedras no Morro da Galheta não ultrapassa 4 dias em virtude do rápido movimento aparente horizontal do Sol na época dos equinócios.
Baseado em texto de Alexandre Amorim.







Existem muitas elevações em boa parte da costa brasileira, quase sempre ao lado de praias e lagoas. Parecem dunas, mas por baixo da rala camada de areia e vegetação, existem milhões de conchas de ostras, mexilhões e, principalmente, berbigões (vôngoles), atingindo dezenas de metros de altura e até 2 km de diâmetro. São os SAMBAQUIS – um tesouro arqueológico de uma época muito anterior ao desembarque dos portugueses.
No mesmo sambaqui, às vezes, é possível distinguir padrões diferentes de sepultamento: alguns mortos recebiam um tratamento mais elaborado. Para os arqueólogos, isso parece indicar algum tipo de hierarquia ou diferenciação social. Não se sabe ao certo o que levava essa gente a amontoar conchas. Talvez o fizessem para instalar suas cabanas em uma base seca que os protegesse do solo úmido do litoral. Os sambaquis também podiam servir como marcos territoriais, simbolizando a posse de uma área e, enquanto tal, teriam a mesma intencionalidade das pirâmides egípcias e dos templos micênicos.




Quando o Brasil criou o PARQUE INDÍGENA DO XINGU, em 1961, a reserva estava longe da civilização moderna, aninhada bem no limite ao sul da enorme floresta amazônica. As fronteiras do parque ainda ficavam dentro da mata densa, pouco mais que linhas sobre um mapa. Hoje o parque está cercado de retalhos de terras cultivadas, com as fronteiras frequentemente delimitadas por um muro de árvores. Para muitos forasteiros, essa barreira de torres verdes é um portal como os enormes portões do Parque Jurássico, separando o presente – o dinâmico mundo moderno de áreas cultivadas com soja, sistemas de irrigação e enormes caminhões de carga –; do passado – um mundo atemporal da Natureza e de sociedade primitivas.










Todo entardecer é saudado dos Guarani por cantos prolongados e invocações a ÑAMANDU RU TENONDÉ, o Verdadeiro Pai Primeiro. Ele é a figura central da cosmogonia das matas; representa o desdobrar de um brilho incomensuravel a surgir de uma fonte de luz fulgurante que ainda não é o sol - pois naqueles tempos primordiais, Kuarahy nem sequer existia - porém que é o fulgor do seu próprio coração. Desconhecidos ainda os dias e as noites, o único manancial de luz era o que refletia o py'aguassu (grande coração) de Ñamandu.




