Com efeito, o modelo de desenvolvimento adotado pelos incas baseava-se em uma distribuição equitativa da principal riqueza para os incas: os alimentos, produzidos através da atividade agrícola. O sistema de construção de “anderes” (plataformas) é um exemplo da habilidade traduzida em tecnologia que permitiu à cultura Inca dominar os espaços para torná-los produtivos a partir do respeito a Pachamama (Mãe Terra) – e ao meio ambiente em geral – e o respeito pelo bem-estar da população que formou as quatro partes (“suyos”) do império.
Todos estes objetivos foram alcançados mediante uma correta distribuição da população , organizada em comunidades (ayllus) nos diferentes pisos ecológicos, de acordo com as características que ofereciam para seu aproveitamento eficiente, raciona, que permitiu satisfazer as necessidades de consumo da sociedade incaica. Nesse sentido, cada ayllu dedicava seu trabalho de maneira especializada a alguma atividade agrícola, têxtil, cerâmica, etc. Deve destacar-se, nesse contexto, que essa postura permitiu uma ocupação equilibrada de todo o território.
A distribuição cronológica do trabalho, baseada no conhecimento dos períodos naturais mais propícios para a semeadura e a colheita, permitiu recrutar trabalhadores, em temporadas, para o desenvolvimento de obras públicas (“mita”) ou para o exército. Também se recrutava trabalhadores (“yanacones”) para o servido do Estado (“minka”), seja junto ao Inca ou a outras autoridades, cujo serviço era pago com alimentos e outros tipos de bens.
O trabalho cooperativo ou solidário (“ayni”) permitiu uma distribuição equitativa dos bens produzidos dentro de cada ayllu, assim como a construção de casas e outras obras de benefício para todos da comunidade. Cabe mencionar que, apesar das mudanças administrativas, alguns desses costumes ainda perduram no comportamento das comunidades indígenas, como parte da sua cultura ancestral e como respeito à sua antiga sociedade.
Não é desconhecido que as diferentes culturas pré-incaicas do primeiro milênio da era cristã desenvolveram a cerâmica e a ourivesaria, e, para isso, recorreram à extração de minerais metálicos (como ouro, prata e cobre) e não-metálicos (como a argila). Estas atividades ganham um novo impulso no período inca, que agrega o uso o estanho e do bronze, promovendo uma extensa atividade mineira. Sabe-se que o Cerro de Pasco foi uma das principais zonas de exploração de prata, principalmente de depósitos superficiais, conhecidos como “pacos”. Recentemente, investigações de Kevin J. Vaughn, antropólogo, confirmaram que os antigos peruanos já exploravam o ferro há 2000 anos – a partir da descoberta de escavações de onde calcula-se ter saído cerca de 3.1 70 toneladas de minério de ferro em sua forma de hematita, ao longo de 1400 anos antes da chegada dos europeus. Os antigos Nazca usaram ferro dessa mina na coloração de cerâmicas, tecidos e fachadas de edificações. Tudo isso evidencia que a atividade mineira não interferia na agrícola – que constituiu a base de sustentação econômica do império.
Em resumo: o estudo sobre o desenvolvimento diferenciado, bem focalizado, sem interferências, praticado pelos povos andinos, demonstra que a integração das dimensões econômica, social e ambiental, se reflete na produção equilibrada e racional de bens, na justa distribuição desses bens produzidos e na distribuição do trabalho para benefício da comunidade, considerando-se o respeito ao ambiente em suas diferentes formas. Isso nos dá uma mostra da visão de desenvolvimento com enfoque sustentável que se instaurou no império Inca. Fica evidente, como diz Mariategui, as diferentes visões que a cultura peruana precisa enfrentar a partir da introdução da cultura hispânica - o relativismo histórico, a industrialização posterior e a atual globarização – para recuperar seus antigos costumes, visando privilegiar as atividades que são mais importantes para a coexistência pacífica de suas populações, garantindo uma boa alimentação, moradia, serviços essenciais, educação e saúde para todos, em substituição do atual modelo que pouco contribui para gerar progresso nas comunidades, deteriora o meio ambiente e exclui dos benefícios a grande maioria. Só assim a economia peruana, integrando as dimensões ambiental e social, pode apontar para um DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, mas isso implica na necessidade de um compromisso da sociedade de romper com paixões e fundamentalismos e, de outro lado, das grandes empresas e consórcios, deixando para trás suas políticas baseadas na ambição. Tarefa difícil, mas que merece o esforço conciliado de todos que estão envolvidos, se realmente se pretende um bem-estar para as maiorias, e não só o bem-estar em excesso para uns poucos.
Texto de JOSÉ GUILLÉN BOCANEGRA
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