Na região amazônica de Beni, arqueólogos observaram, de avião, o traçado de canalizações e divisórias de roças muito bem definidas, além das intrigantes "terras negras" fruto da adubação.
O antropólogo Carlos Fausto e a lingüista Bruna Franchetto, ambos do Museu Nacional, foram dois dos principais pesquisadores no Alto Xingu. Em seu livro “Os Índios antes do Brasil”, explica que o planejamento urbano amazônico pré-colombiano era mais complicado que o da Europa medieval. Ele incluía “uma distribuição geométrica precisa.
Ficou provado que a Amazônia pré-colombiana viu florescer remarcáveis concentrações urbanas. Na plenitude de sua expansão, a civilização do Xingu por exemplo, foi povoada por 50 mil habitantes, dotados de autoridade política e religiosa que governava as cidades menores a partir das principais.
As estradas podiam ter entre 20 e 50 metros de largura e foram identificadas algumas com 5 quilômetros de extensão. Para atravessar alagamentos foram construídas pontes, elevações de terreno e canais para canoas. Também foram apontadas barragens e lagos artificiais.
Os pesquisadores detectaram perto de 15 grupos principais de aldeias, espalhados numa superfície de 2 milhões de hectares. As tradições orais dos índios kuikuro que habitam na região orientaram as pesquisas e foram confirmadas pelos achados: existiram civilizações política, religiosa, econômica e culturalmente definidas. “Os kuikuros têm um nome para cada uma das aldeias”, contou Fausto.
O arqueólogo Heckenberger, autor principal do estudo, sublinha que aquilo que até agora se achava ser “uma floresta tropical virgem”, de fato é uma região altamente influenciada pela ação humana.
Os trabalhos no Alto Xingu e no Beni visaram apenas a ciência. Porém, apurando a verdade deram um soberano desmentido ao mito ambientalista e comuno-tribalista, segundo o qual seria próprio à cultura dos índios da Amazônia viverem como selvagens, nus, vagueando pelo mato, sendo por natureza incapazes de constituir uma civilização. A partir de dados científicos pode se sustentar com tranqüilidade que a lamentável situação em que vivem certos índios não é nenhuma fatalidade cultural, mas sim o resultado da destruição de uma cultura mais alta.
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