Protetora,
Senhora Espiritual,
Dona da Fertilidade,
são os significados
que os povos indígenas
das culturas andinas
dão à Terra,
uma veneração
agora reconhecida
pela Organização
das Nações Unidas.
A decisão da ONU aceitar a proposta do presidente da Bolívia, Evo Morales e instituir o DIA INTERNACIONAL DA MÃE TERRA - Pachamama em quéchua e aymara, expressa a preocupação dos povos indígenas de Abya Yala (América) pela destruição do planeta, a acelerada destruição de florestas e faunas e pela contaminação da água.
“A celebração pretende que os governos de todo o mundo e os organismos internacionais se conscientizarem dos desafios que tem a humanidade para preservar a saúde do planeta”, disse o presidente da Assembléia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel d’Escoto. A proposta de Morales, da etnia aymara, tem origem nos ancestrais costumes dos povos indígenas, firmes crentes nas bondades da terra e convencidos de viver em harmonia com a natureza.
Estes princípios culturais caracterizam o governo de Morales, como se vê nas medidas para recuperar o bem-estar coletivo e proclamar como bens não privatizáveis a água e outros recursos naturais. A declaração da ONU “é um reconhecimento de que a Terra e seus ecossistemas sustentam nossas vidas. Também realça nossas responsabilidades em promover a harmonia com a natureza”.
Mas o pronunciamento também encerra significados políticos como os expressados pelo embaixador boliviano na ONU, Pablo Sólon, que reclama um compromisso de todas as nações para evitar à Terra “os danos de um capitalismo selvagem que somente vê lucro e não mede os impactos”. Sólon destacou o conteúdo da nova Constituição boliviana, em vigor desde fevereiro, que em seu artigo 20 reconhece a toda pessoa o direito ao acesso universal e eqüitativo dos serviços básicos de água potável, esgoto, eletricidade, gás domiciliar, postal e telecomunicações.
Porém, a Mãe Terra, conhecida por quéchuas e aymaras como PACHAMAMA, encerra outros significados segundo a visão tradicional de povos andinos. O antropólogo aymara Angel Yujra explicou que a palavra Pachamama vem de dois vocábulos aymara e quéchua. Pacha com seu significado de tempo, espaço e representação do todo, e Mama é a representação da categoria superior entre as mulheres, o mais alto cargo espiritual, político e de autoridade dentro de uma cultura ou confederação de nações. As duas palavras unidas representam a senhora com grande autoridade que maneja um espaço territorial, como Tiahuanacu ou o Tahuantinsuyo.
Tiahunacu é uma antiga civilização localizada no altiplano que rodeia o lago Titicaca, a oeste de La Paz, e estima-se que atingiu seu maior desenvolvimento por volta de 2000 antes de Cristo, enquanto o Tahuantinsuyo incluiu uma ampla área sul-americana e que hoje compreende as faixas costeiras do norte do Chile, Peru e Equador, e as zonas por onde se estende a cordilheira dos Antes na Argentina e na Bolívia, em uma área aproxima de três milhões de quilômetros quadrados. Segundo Yujra, o conceito de Pachamama é equivalente a uma senhora do cosmos das culturas dos povos do sul, hoje conhecidas como América Latina.
Nas zonas de planícies quentes e florestas ricas em flora e fauna, a Mãe Terra é a Casa Grande que guarda a floresta, a água, os animais e a natureza em seu conjunto. A cultura guarani denomina a terra como ÑANDERETA. Os povos guarayos, chiquitanos, mojeños e também os guaranis rendem um culto permanente à Terra e, antes de caçar ou pescar, os indígenas da região conversam com a natureza, pedindo licença para obter os frutos de suas entranhas. “Não se pode entrar disparando uma escopeta na floresta. É preciso pedir permissão com muita fé para caçar animais silvestres”.
Os ritos aymaras consideram a Pachamama como protetora de todos os nascidos nos povos do Sul, e seu nome se associa às sociedades agrícolas desenvolvidas antigamente nas terras ecológicas que compreendem desde a costa, o altiplano, os vales e a Amazônia. A Pachamama é considerada a senhora da fertilidade e as evocação é permanente em tempo de plantar e colher em uma sociedade agrícola que valoriza em alto grau o alimento produzido pela terra. Em agradecimento à abundante colheita ou para pedir um ano com clima favorável para a produção agrícola, os indígenas andinos realizam um tributo em maio e agosto.
As oferendas consistem em ervas escolhidas para rituais, doces, papel colorido, gordura animal e fetos de llama, que são colocados em uma cova no chão para agradecer a Pachamama. Outra época em que se agradece à Terra é a temporada de chuvas, antigamente chamada de Anata, e agora conhecida como carnaval – um tempo em que as plantações estão florescentes. Após a colonização espanhola, os povos indígenas associaram Pachamama com a Virgem Maria, um costume mantido até hoje. Isso se deveu a uma tentativa dos jesuítas, principais missões católicas, em evangelizar os povos nativos e substituir seus deuses e costumes pela cultura cristã européia.
O culto à Mãe Terra não diminuiu em 400 anos de colonialismo. E a incorporação da religião católica entre os povos indígenas terminou em um processo intercultural onde se compartilha padrões culturais como um intercâmbio de produtos espirituais e materiais. À luz da nova Constituição aprovada no governo Morales, que reconhece os valores culturais dos povos indígenas, muitos sacerdotes aymaras dirigem seus passos para restaurar espaços rituais sagrados, aos espíritos antigos e ao mesmo culto a Pachamama.
A decisão da ONU aceitar a proposta do presidente da Bolívia, Evo Morales e instituir o DIA INTERNACIONAL DA MÃE TERRA - Pachamama em quéchua e aymara, expressa a preocupação dos povos indígenas de Abya Yala (América) pela destruição do planeta, a acelerada destruição de florestas e faunas e pela contaminação da água.
“A celebração pretende que os governos de todo o mundo e os organismos internacionais se conscientizarem dos desafios que tem a humanidade para preservar a saúde do planeta”, disse o presidente da Assembléia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel d’Escoto. A proposta de Morales, da etnia aymara, tem origem nos ancestrais costumes dos povos indígenas, firmes crentes nas bondades da terra e convencidos de viver em harmonia com a natureza.
Estes princípios culturais caracterizam o governo de Morales, como se vê nas medidas para recuperar o bem-estar coletivo e proclamar como bens não privatizáveis a água e outros recursos naturais. A declaração da ONU “é um reconhecimento de que a Terra e seus ecossistemas sustentam nossas vidas. Também realça nossas responsabilidades em promover a harmonia com a natureza”.
Mas o pronunciamento também encerra significados políticos como os expressados pelo embaixador boliviano na ONU, Pablo Sólon, que reclama um compromisso de todas as nações para evitar à Terra “os danos de um capitalismo selvagem que somente vê lucro e não mede os impactos”. Sólon destacou o conteúdo da nova Constituição boliviana, em vigor desde fevereiro, que em seu artigo 20 reconhece a toda pessoa o direito ao acesso universal e eqüitativo dos serviços básicos de água potável, esgoto, eletricidade, gás domiciliar, postal e telecomunicações.
Porém, a Mãe Terra, conhecida por quéchuas e aymaras como PACHAMAMA, encerra outros significados segundo a visão tradicional de povos andinos. O antropólogo aymara Angel Yujra explicou que a palavra Pachamama vem de dois vocábulos aymara e quéchua. Pacha com seu significado de tempo, espaço e representação do todo, e Mama é a representação da categoria superior entre as mulheres, o mais alto cargo espiritual, político e de autoridade dentro de uma cultura ou confederação de nações. As duas palavras unidas representam a senhora com grande autoridade que maneja um espaço territorial, como Tiahuanacu ou o Tahuantinsuyo.
Tiahunacu é uma antiga civilização localizada no altiplano que rodeia o lago Titicaca, a oeste de La Paz, e estima-se que atingiu seu maior desenvolvimento por volta de 2000 antes de Cristo, enquanto o Tahuantinsuyo incluiu uma ampla área sul-americana e que hoje compreende as faixas costeiras do norte do Chile, Peru e Equador, e as zonas por onde se estende a cordilheira dos Antes na Argentina e na Bolívia, em uma área aproxima de três milhões de quilômetros quadrados. Segundo Yujra, o conceito de Pachamama é equivalente a uma senhora do cosmos das culturas dos povos do sul, hoje conhecidas como América Latina.
Nas zonas de planícies quentes e florestas ricas em flora e fauna, a Mãe Terra é a Casa Grande que guarda a floresta, a água, os animais e a natureza em seu conjunto. A cultura guarani denomina a terra como ÑANDERETA. Os povos guarayos, chiquitanos, mojeños e também os guaranis rendem um culto permanente à Terra e, antes de caçar ou pescar, os indígenas da região conversam com a natureza, pedindo licença para obter os frutos de suas entranhas. “Não se pode entrar disparando uma escopeta na floresta. É preciso pedir permissão com muita fé para caçar animais silvestres”.
Os ritos aymaras consideram a Pachamama como protetora de todos os nascidos nos povos do Sul, e seu nome se associa às sociedades agrícolas desenvolvidas antigamente nas terras ecológicas que compreendem desde a costa, o altiplano, os vales e a Amazônia. A Pachamama é considerada a senhora da fertilidade e as evocação é permanente em tempo de plantar e colher em uma sociedade agrícola que valoriza em alto grau o alimento produzido pela terra. Em agradecimento à abundante colheita ou para pedir um ano com clima favorável para a produção agrícola, os indígenas andinos realizam um tributo em maio e agosto.
As oferendas consistem em ervas escolhidas para rituais, doces, papel colorido, gordura animal e fetos de llama, que são colocados em uma cova no chão para agradecer a Pachamama. Outra época em que se agradece à Terra é a temporada de chuvas, antigamente chamada de Anata, e agora conhecida como carnaval – um tempo em que as plantações estão florescentes. Após a colonização espanhola, os povos indígenas associaram Pachamama com a Virgem Maria, um costume mantido até hoje. Isso se deveu a uma tentativa dos jesuítas, principais missões católicas, em evangelizar os povos nativos e substituir seus deuses e costumes pela cultura cristã européia.
O culto à Mãe Terra não diminuiu em 400 anos de colonialismo. E a incorporação da religião católica entre os povos indígenas terminou em um processo intercultural onde se compartilha padrões culturais como um intercâmbio de produtos espirituais e materiais. À luz da nova Constituição aprovada no governo Morales, que reconhece os valores culturais dos povos indígenas, muitos sacerdotes aymaras dirigem seus passos para restaurar espaços rituais sagrados, aos espíritos antigos e ao mesmo culto a Pachamama.
Texto de Franz Chávez
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