segunda-feira, 20 de julho de 2009

O CÉU EM ATACAMA

Há muito tempo atrás, em um lugar deserto do norte do Chile, chamado ATACAMA, apareceram os animais. Este lugar era árido e seco, praticamente sem vegetação. A água era escassa, só com alguns poucos mananciais... e exatamente nesses mananciais estavam os animais, mergulhados.

Um dia, quando estavam começando o tempo das chuva, logo ao amanhecer, todos os animais saíram de dentro da água. Nesses meses, todas as noites eles vão para o céu e durante o dia voltavam para a terra, para realizar certas tarefas.

Os primeiros a emergirem da água foram a serpente e o sapo.

- Olá – disse a Serpente -, meu nome é AMARU. E você, quem é?

- Eu sou HAMPATU – respondeu o sapo. – Só apareço quando começam os meses de chuva. Também me chamam “demônio” porque dou má sorte a quem me vê.

- Então você me deu má sorte – sussurrou a serpente um tanto assustada.

- Não te preocupes, estou recém despertando e meus poderes ainda não estão ativos – contestou o sapo Hampatu. – Além disso, eu adivinho o tempo. Croac... Croac... Croac... Estes vão ser meses chuvosos, terei que cantar dia e noite para anunciar as chuvas.

- Muito bem – disse a serpente Amaru. – Isso quer dizer que durante o dia terei muito trabalho, como o Arco-Íris.

- E como fará isso? – perguntou o sapo Hampatu, surpreso.

- Muito fácil – disse a serpente. – Me estiro e me estico até que vou de um lado ao outro da terra... Ponho uma ponta em cada parte da terra e então aparecem as cores.

Então eles ouviram um rebuliço na água e um grito pedindo ajuda:

- Socorro... Alguém me ajude.... Não consigo sair – gritou a perdiz.

A serpente Amaru e o sapo Hampatu correram para ajudá-la. Usaram toda a sua força para tirarem da água a ave que estava em perigo.

- Obrigada... Muito obrigada... Sou YUTU – disse a perdiz. – Me atrapalhei um pouco com umas pedras. Sou um pouco estapanada.

- E o que você faz aqui? – perguntou Amaru.

- Bem, se vocês não sabem, meus ovos são muito coloridos, e por isso gostaria de ajudá-los a formar o arco-íris. Posso? – perguntou Yutu.

- Não sei... Você é muito pequena. Não creio que possas me ajudar muito – contestou a serpente Amaru.

- Por favor... deixa. Te prometo que não vou atrapalhar – insistiu Yutu.

- Está bem, está bem... Vamos fazer uma experiência – disse Amaru.

Enquanto estavam nessa discussão, do fundo do manancial emergiu uma Lhama com seu filhote.

- Bom dia para todos. Meu nome é YAKANA. Sou a Lhama Celestial, e este é meu filhote – se apresentou ela.

Sigilosamente, tratando de passar desapercebido, ATOQ, a raposa, saiu do manancial. Yakana, preocupada em apresentar-se aos outros habitantes da cordilheira, nem percebeu que Atoq se aproximava de seu filhote para atacá-lo. A pequena lhama, assustada, percebendo o perigo, tratou de avisar sua mãe, que ainda estava saudando os outros animais. Por sorte, exatamente no momento em que Atoq se preparava para saltar sobre a lhama, Hampatu, o sapo, dando-se conta do que acontecia, lhe lançou um malefício que o deixou petrificado.

Yakana, depois do susto, abraçou e consolou seu filhotinho. E logo disse:

- Obrigada, Hampatu. Nos salvou a vida. Atoq ficará para sempre petrificado e nós estaremos salvos.

- Chega de agradecimentos. Está na hora de irmos para o céu. Os meses de chuva vão começar e temos que realizar nosso trabalho – exclamou Hampatu.

Durante os meses de chuva, a serpente Amaru, o sapo Hampatu, a perdiz Yutu, a lhama Yakana e seu filhote, e Atoq, a raposa petrificada, moram entre as estrelas, formando constelações. Só vêm à terra para fazer seus trabalhos.

Ao chegar no céu, cada um tomou sua posição. O sapo Hampatu e a perdiz Yutu, para não se aborrecerem, decidiram fazer uma corrida. A serpente Amaru se postou em um lugar onde podia descer rapidamente à terra e ser o arco-íris. A lhama Yakana, cujos olhos se destacam e tem um longo pescoço, se postou para amamentar seu filhote. E Atoq, a raposa, tomou a posição de quem a persegue... mas sem nunca alcançá-la, porque estava petrificada.



- Muito bem – disse o sapo. – As chuvas podem começar.

- Yakana, e o que você vai fazer? – perguntou Amaru.

- Eu tenho que realizar uma tarefa muito importante nesses meses de chuva. Durante a noite devo viajar à terra, até Atacama, para dar aos homens muita lã azul, branca, negra e de outras cores. Essas pessoas trocaram a lã por lhamas, que se reproduzirão até sermos três mil lhamas – respondeu Yakana.

Todos os outros animais ficaram surpresos. Não sabiam que a lhama teria esta tarefa tão importante para os habitantes de Atacama.

- Você realmente é uma Lhama Celestial – disse Yutu, assombrada.

E assim, quando os animais aparecem no céu, toda noite, na terra sabemos que começaram os meses de chuva. Nesse período, se as constelações se obscurecem um pouco e o canto de Hampatu, o sapo, fica mais forte, é indicação de que haverá muita chuva. Será um bom ano para as batatas, o milho e para os pastos que alimentam as lhamas.

Conto de Ana Maria Pavez Recart

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