A uma pequena distância de Cozco, encontra-se um dos vales de maior riqueza cultural e beleza do Peru: o VALE SAGRADO. Formado a milhares de anos pelas correntezas do Rio Vilcanota, também chamado de Willkañuta (Casa do Sol), o vale se estende por mais de 100 quilômetros, a uma altura de 2.800 metros acima do nível do mar; tem condições excepcionais, com um clima ameno (média de 18º C ao ano), uma rica flora e fauna, terra fértil e numerosos riachos que nascem dos picos nevados.
A Via Láctea é uma "nuvem" esbranquiçada e difusa de estrelas, que atravessa de forma obligua a esfera celestial. Conhecida no mundo andino como WILLKAMAYU (Rio Sagrado), servia como eixo de orientação ritual para os Incas. Anualmente, os sacerdotes incas fazima uma peregrinação cerimonial no Inti Raymi (solstício de inverno), seguindo o rumo da Via Láctea: partima de Cozco em direção ao sudeste até um lugar chamado La Raya, onde nasce o rio Willkañuta e onde o Willkamayu (a Via Láctea) se derrama na terra. Dessa forma eles explicavam que o Willkañuta era uma continuação terrena do Willkamayu. Daí sua sacralidade.
A partir de La Raya, eles seguiam o rio Willkañuta, em direção a noroeste, refazendo, em terra, o mesmo percurso de Willkamayu. À medida que passavam pelos povoados do Vale, os sacerdotes abençoavam as plantações com as águas sagradas do Willkañuta-Willkamayu.
O Willkamayu não foi apenas um eixo de orientação imporante, mas também um plano de referência para o entendimento do clima. Todo o conhecimento climático andino da época era proveniente das constelações. Essas constelações foram representadas no Vale Sagrado por templos e povoados. Eram enormes construções com finalidade ritual, nos quais se recriava a forma e se concentrava a energia de cada consteção. Dessa forma, o Willkañuta e o Vale Sagrado era o reflexo perfeito do Willkamayu e o Céu. A arquitetura do Vale, por sua simetria, revela-nos que ele tinha a função de espelhar a Via Láctea.
Durante os equinócios, se realizava no Vale uma cerimônia chamada Mayucati, quando os incas entregavam oferendas ao rio Huatanay, em Cozco, para que suas águas, ao unirem-se ao Willkañuta, as levasse até Ollantaytambo, onde, por fim, entravam no fluxo do Willkamayu. A crença comum é que o desejo, depois de subir ao céu, seria realizado atráves das chuvas.
Desssa forma, o Vale Sagrado não é apenas um lugar, mas um sentimento, uma maneira de se situar no mundo, uma forma de compreender e explicar a vida, um conceito e uma expressão religiosa.
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