A astronomia dos povos primitivos é um estudo importante da etnologia, pois revela a estrutura e o pensamento dos povos arcaicos. As constelações, a divisão e agrupamentos de estrelas no céu é, também, uma linguagem.
Em princípio, não encontramos nenhum relato sobre planetas, mesmo aqueles mais visíveis e facilmente identificados. Para os povos indígenas, todos os astros são iguais. E as fases da Lua são desenhadas sempre para baixo ou para cima; nunca de lado como estamos acostumados. Isso se deve ao fato de eles desenharem smepre quando a lua está no horizonte, nascendo ou se pondo. Já nós normalmente olhamos pra´ela quando já alcançou uma boa altura no céu.
Se nos deslocarmos para longe das luzes da cidade, em uma noite sem lua, temos a nítida impressão de que o céu é uma abobada escura, incrustada de pontos brilhantes. Essa também é a concepção indígena de UAUPÉ. Eles afirmam que o sol, a lua e as estrelas são gentes - MAXSÃ. Sol e Lua têm o mesmo nome - MUHI-PÚ -, pois são considerados duas formas do mesmo ser. Chamam a Terra (noção introduzida pelos europeus) de DI'TÁ, ou seja, "uma planície", e explicam que ela está coberta por uma calota esférica regular chamada OMÃ-SE, que quer dizer "coisa alta".
Os pontos cardeais estão relacionados aos rios. Se fechassem as portas da calota esférica, inundava-se tudo e todos morreriam afogados. Chamam essas portas de SOXPÉ. Assim, ficando de frente para o poente (oeste), temos:
- Oeste: PÓ'TE-KÁ-SOXPÉ (porta da cabeceira do rio)
- Leste: SÍRO-KÁ--SOXPÉ (porta atrás)
- Norte: DYARO-KÁ-SOXPÉ (porta da direita)
- Sul: KU'PÉ-KÁ-SOXPÉ (porta de quem sobe)
As constelações - YÔXKOD - são agrupamentos imaginários formando desenhos na mente humana. Apareceram antes da escrita e eram usadas para determinar as atividades agrícolas. Nossas constelações são muito mais místicas que a dos indígenas, que estão muito mais em contato com a natureza. Um velho pia-tapúya, do povoado de São Paulo, às margens do rio Papuri, apontou 10 constelações:
- ANÃ (peixe batóide, nome de Vênus)
- AMÕ DESTE-KE ou PAMÓ DOXKÁ ou PAMÕ DOXKÁ SUXTÉKE (pedaço de tatu)
- KAI SA'RI-RO (cercado de periquitos)
- DAXSYÃ (camarão)
- YAI ou YAI PWÊ-RO (enchente de onça)
- SYÓ-YAXPÚ (cabo de enxó)
- WAI KAXÃ (jirau de peixe)
- UEHÉ (garça)
- DYA-YÓ (lontra)
- BOO (peixe piranha) - o Cruzeiro do Sul.
Os Ticuna ainda apontam outras constelações:
- COYATCHICÜRA (queixada do jacaré)
- WUCÜTCHA (fera do clã onça)
- BAWETA (tartarugas)
- AI (onça)
- TCHATÜ (tamanduá)
O termo desse povo para o ano é KOMÃ, mas isso já é uma absorção de termos europeus, pois anteriormente não existia a concepção de "ano"; o índio não tem necessidade de contar datas. Komã indicava, primitivamente, o tempo das chuvas. O período das enchentes é chamado de PWÉ-RO e o período de poucas chuvas, a época da queimada das roças, é chamado de KOMÃ-RÕ.
Para aos Uaupé só existem duas estações: WEXTIRO - que corresponde à vazante dos rios - , e PWÉ-RO, que corresponte ao período das enchentes. O ano começa na vazante dos rios, mas essa contagem foi também introduzida pelo europeu.
O cálculo das horas do dia era feito pela altura do sol. Eles derivam a hora, mas não têm um valor numérico para elas, apesar da correspondência:
- BORÉKE- YORODSE - maior claridade (aurora)
- MUHI-PÚ MAHOÁ-TYASE - levantar do sol (mais ou menos 6 h)
- AXSI MAHOÁ-TI WÁ-RO - começa a subir o calor (9h)
- AXSI MAHOÁ-TI DAHARÍTERO TWA'TÁ NÕ'KÃ-NIMI - aumenta o calor, aproxima-se a hora de voltar (10 h)
- DAHARÍ-TERO - tempo de voltar da roça (12 h)
- OMÃ-KO DESKÓ - meio do dia (o sol está em em cima da cabeça)
- DAHARÍTERO MAHOÁ-NIMI DOHOAGO - o sol subiu e caiu depois de tempo de voltar (13h)
- TOREÁRO DESKÓ - meio do declínio do sol (14-15 h)
- SAHÃGO WEMI-MEHÃ - o sol vai entrando (16 h)
- SAHÃ-WÁ PI-MEHÃ - o sol entrou (18 h)
- NAKI-KEA WÃ - vai escurecendo (19 h) - logo após o crepúsculo
- NÃYÁ WÁ-MEHÃ - escureceu mais (20 h)
- YAMI NI-MEHÃ - a noite avançou (21 h)
- YAMI-KA BWI - noite avançada (22 h)
- YAMI DESKÓ - meio da noite
As correspondencias são mais ou mentos em torno das horas citadas. Na região dos Uaupé, durante todo o ano, o sol nasce às 6 h e se põe às 18 h.
Baseado no texto de Marcomede Rangel Nunes, do Projeto Moitará - "O Simbolismo nas Culturas Indígenas Brasileiras"
Baseado no texto de Marcomede Rangel Nunes, do Projeto Moitará - "O Simbolismo nas Culturas Indígenas Brasileiras"
Olha só quanta informação interessante sobre constelações!!
ResponderExcluirBeijokas meu lindão!!!