quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

INKARI e QOYARI

Durante a época em que o Sol não existia, vivia um povo na terra cujo poder era tão grande que podia fazer as pedras caminharem ou converter montanhas em pradarias com um simples despacho de sua lança. A Lua irradiava seu mundo-sombrio, iluminando debilmente as atividades dessas pessoas, conhecidas como NYAUWPA MACHU – os Anciães.

Certo dia Roal, o Grande Espírito e chefe dos Apus (Espírito das Montanhas), perguntou aos Nyauwpa Machu se gostariam que ele lhes legasse parte de seu poder. Cheios de arrogância, eles responderam que já tinham poder e não precisavam de mais. Irritado com a resposta, Roal criou o Sol e ordenou que brilhasse no mundo. Terrificados e quase cegos pelo brilho do Sol, os Nyauwpa Machu buscaram refúgio em pequenas casas; a maioria das quais tinha suas portas voltadas para ao nascente. O calor do sol os desidratou, fazendo com que seus músculos aos poucos se tornassem nada mais do que carne seca, presa aos ossos. No entanto, eles não morreram e, então, viraram os SOQ’AS (espíritos perigosos), que saem de tarde, durante o anoitecer, ou na noite de lua nova.

A terra ficou inativa e os Espíritos das Montanhas – os Apus – decidiram forjar novos seres. Eles criaram INKARI e QOYARI, homem e mulher com pleno conhecimento. Eles deram a Inkari um bastão de ouro e a Qoyari uma varinha, como símbolos de poder e zelo. Inkari recebeu a ordem de fundar uma cidade no local onde seu bastão de ouro cravasse na terra, em pé. Ele tentou o primeiro arremesso, mas o bastão apenas caiu no chão. Na segunda tentativa, o bastão entrou na terra em um ângulo oblíquo, entre montanhas negras e as margens de um rio. Apesar de o bastão ter caído em perpendicular, Inkari decidiu fundar a cidade ali mesmo, chamada Q’EROS. As condições não eram muito propícias e por isso achou conveniente construir sua capital ali próximo, na mesma região, começando a trabalhar pesado em Tampu. Cansado desse trabalho, Inkari desejou se banhar, mas o frio era muito intenso. Por isso, ele decidiu trazer as águas termais de Upis, construindo ali os banhos que ainda hoje existem.

Inkari construiu sua cidade apesar da orientação diferente dada pelos Apus, o que fez com que esses, para fazê-lo compreender seu erro, permitissem que os Nyauwpa Machu, que observavam Inkari cheios de inveja e rancor, tomassem nova vida. O primeiro desejo dos Nyauwpa Machu foi exterminar o filho dos Espíritos das Montanhas e, para isso, pegaram gigantescos blocos de pedras e os fizeram rolar pela encosta na direção onde Inkari estava trabalhando. Amedrontado, Inkari fugiu para a direção do lago Titicaca, onde a tranqüilidade do local permitiu que meditasse. Ele voltou uma vez mais em direção ao Rio Willkañust’a. Divertiu-se, primeiro, nos picos de La Raya e de lá lançou seu bastão de ouro pela terceira vez... e este caiu direto em um fértil vale. Ali ele fundou a cidade de CUZCO, onde viveu por muito tempo. Q’eros não podia ficar esquecida, e por isso Inkari mandou seu primogênito ir lá para povoar a cidade. Seus outros descendentes foram mandados para vários locais onde fizeram surgir as linhagens reais dos incas.

Tendo completado seu trabalho, Inkari decidiu partir novamente na companhia de Qoyari, para ensinar seu conhecimento ao povo. Passando novamente por Q’erro, ele desapareceu na floresta, mas não sem antes deixar a pista de suas pegadas, que ainda podem ser vistas nas ruínas de Mujurumi e Inkap Yupin, até o dia em que o inca retornar.

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