As entradas para os sertões de Minas foram movidas por um tripé de interesses: o ouro e as pedras preciosas e, por extensão, a terra (para o plantio de roças e controle sobre passagens e rotas comerciais), e os índios (que se prestavam como mão-de-obra para a lavra mineral, agrícola ou como trabalhadores domésticos). Com esse objetivo, inúmeras expedições militares foram organizadas para avançarem pelo interior, cunhando várias designações: bandeiras, entradas, conquistas, descobrimentos, jornadas, partidas, companhias ou campanhas – todos termos que, tomados uns pelos outros e combinando vários objetivos, tiveram por propósito principal estender o domínio da Coroa Portuguesa sobre o território e conquistar a população nativa.
As bandeiras se tornaram particularmente intensas durante a segunda metade do século XVIII nas florestas do leste da capitania, um encrave entre Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, quando pelo menos 79 expedições atravessaram a região, transformando a área em um verdadeiro cenário de operações militares.
A situação econômica de Minas, nessa época, apresentava-se como fonte de preocupação por causa da queda do ouro e dos quintos reais. E os territórios férteis ocupados pelas populações indígenas nômades, transformaram-se na esperança para a situação de penúria. Para alguns a região era fonte de novas riquezas minerais; para outros, terras para agricultura e pastoreio. Por isso, não sem razão, encontramos inúmeras referências aos índios como barreira natural ao desenvolvimento de Minas. Documentos da época carregaram tintas de horror sobre a índole dos indígenas, descritos como perigosos, traidores e canibais.
A partir dos anos de 1760, os governadores avançaram por “terras incógnitas ou proibidas”, como era referido nos mapas da época o vale do rio Doce, onde até então a Coroa havia proibido o acesso para tentar controlar os contrabandos do ouro. A região passou a ser a chave para salvar a capitania do declínio econômico e alvo de cobiça por causa de sua floresta frondosa, de suas terras férteis e da civilização dos índios. Para compensar o empreendimento, a Coroa concedia um lote de terras (sesmaria) como recompensa para aqueles que se arriscassem na aventura. Entre 1701 e 1836 foram concedidas 7.991 cartas de sesmaria, ou seja, um verdadeiro loteamento das terras nativas.
Essas terras fizeram a riqueza de muitos bandeirantes. Um bom exemplo foi Inácio Correia Pamplona que chegou a receber oito porções de terra totalizando 104 mil hectares. As batalhas que liderou para a conquista das terras caiapó foram das mais sangrentas já registradas.
Não demorou para que, distorcendo a realidade, os índios fossem tachados como “invasores”, o que justificou mais violência contra as populações indígenas. De fato, agiam em defesa própria, respondendo à ocupação de suas terras. É verdade que os povos nativos – Coroado, Puri, Botocudo, Kamakã, Pataxó, Panhame, Maxakali, entre outros – encontraram-se, ao final, em minoria de armas e homens, atacados por doenças e reduzidos a uma pequena área geográfica.
Os colonos queixavam-se das “invasões dos índios bárbaros”. Apelavam por medidas rigorosas. Em 1806, o governador Pedro Maria Xavier de Ataíde e Melo, em discurso inflamado em Vila Rica, institucionalizou de uma vez por todas a solução militar contra as populações indígenas. Na virada do século, a decisão acenava para um desfecho pungente e cruel. O príncipe regente D. João, recém-chegado ao Brasil, expedia a Carta Régia de 13 de maio de 1808. Nela, declarava oficialmente a Guerra contra os Botocudos.
Texto de Maria Leônia Chaves de Resende
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