YURUPARI, ou RITO DE FRUTAS, é um ritual de iniciação dos jovens Tukano. É
realizado geralmente na ocasião da maturação de certas frutas. Grande
quantidade de frutas são trazidas pelos homens ao som dos instrumentos
musicais. O ritual propriamente dito acontece no fim da estação seca e no
início da estação chuvosa e dura três dias Durante o ritual as flautas que
representam os ancestrais são mostradas aos jovens. Os mais velhos da
comunidade tocam o instrumento dentro da casa, ao passo que os mais jovens (já
iniciados) tocam fora da casa. As mulheres não podem ver essas flautas, sob
pena de morte. Por isso durante o rito elas ficam na parte de trás da casa,
atrás de uma parede de folha de palmeiras entrelaçadas, colocadas na ocasião,
ou então embrenhando-se mata a dentro. As flautas são tiradas do rio, onde
habitualmente são guardadas fora dos períodos rituais.
Durante a
noite, o xamã purifica todas as substâncias que serão utilizadas durante o
ritual (tabaco, coca, ervas de poder, tinta preta e vermelha, etc). No dia
seguinte, as flautas são, de novo, colocadas dentro da água e os xamãs
distribuem o fumo cerimonial, a coca, o tabaco e a tinta preta para todos os
participantes. O dia passa-se em cantos. No início da noite, os iniciados, de
cabelos raspados, corpos pintados de preto, entram na casa nos ombros dos mais
velhos. Durante a noite, os homens lhes apresentam as flautas (que simbolizam
os ancestrais) ensinando-lhes a tocá-las. Mais tarde, um xamã açoita todos os
participantes para os tornar mais fortes. Estes se pintam de novo com tinta
negra e passam o resto da noite e o dia seguinte tocando flautas e cantando. No
terceiro dia os iniciados vão dormir, pela primeira vez, perto da parede de folhas
de palmeira, colocadas na parte de trás da casa.
Assim que
o dia amanhece, os iniciados vão tomar banho no rio e ao retornarem, entram
novamente na casa, carregados novamente pelos mais velhos, e as mulheres lhes
servem formigas saúvas e beiju de fécula de tapioca. As flautas são colocadas
dentro das folhas de palmeira e imergidas novamente no rio. Os iniciados são
isolados durante dois ou três meses em um compartimento especial da casa. O
período de reclusão é consagrado à aprendizagem dos mitos e tradições orais. O
fim da reclusão pubertária é marcado, também, por um banho ritual no rio.
Depois, com o corpo pintado de vermelho pelas mulheres, entram novamente na
casa, carregados pelos mais velhos como ”recém-nascidos”, e lhes dão para comer
peixe cozido na água com sal e pimenta. Pouco depois ocorre uma dança
comunitária, com a participação das mulheres, durante a qual são distribuídos
beijus a todos os participantes. Esse rito marca a reintegração do iniciado no
grupo patrilinear. O iniciado retorna depois, progressivamente, à alimentação
normal.
Texto de Berta G.
Ribeiro
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