SERIGY, líder dos Karapotó na época da colonização portuguesa, se destacou por ter comandado uma forte milícia indígena contra os invasores portugueses, por mais de 30 anos. Não se tratava de uma resistência apenas pela preservação do seu povo, mas também pela justiça e pelo direito à terra. O nome do estado – SERGIPE – advêm do nome do cacique que tanto lutou por aquelas terras; a atual capital – ARACAJU – era sua aldeia até a conquista portuguesa em 1590.
Os Karapotó – também chamados de Karapotis, Karapota, Krapotó, Karapoti, Kapotó - viviam na Mata Atlântica na faixa litorânea chegando até o interior na Caatinga pelo rio Opara (atual rio São Francisco), gente aguerrida em constantes lutas com outros grupos da região, pelas migrações dos Tupis vindas do Brasil Central antes da conquista portuguesa.Os Karapotó habitaram nestas correrias o rio Poxim, em Pacatuba - Sergipe, Serra do Comunaty, em Pernambuco, rio Boa Cica e rio Itiuba, em Alagoas, procurando a abundância da caça e pesca nas florestas existentes para construir suas aldeias, suas roças. Pelas histórias contadas pelos mais velhos da tribo, os Karapotó praticavam uma técnica de pesca usando o tinguí, espécie de veneno que atordoava os peixes, facilitando a captura. O costume da ocupação da terra pela maioria das tribos era de construírem suas aldeias nas margens dos rios, habitando no lugar num período de quatro invernos, logo após este tempo procuravam outro lugar para ficar, e assim de geração em geração. Estas terras de ocupadas pelos Karapotó estava com seus ecosistemas intactos porque os indígenas tiravam só o necessário para sua sobrevivência, na agricultura praticava a coivara – a derrubada de um pequeno pedaço de mata, queimando em seguida para plantar suas roças –; nesta atividade este povo mais se destacava: plantavam milho, abóbora, amendoim, mandioca, macaxeira, algodão, fumo e urucum. Entre as comidas do cardápio nativo está a mandioca; base da alimentação dos Karapotó, com ela preparam o beiju, tapioca, bolo de maça puba e principalmente a farinha. As caças mais consumidas são a paca, cutia, veado, teiú, tatu e capivara, mas também algumas aves, como a nambu, nancupé e zabelê. Esse povo tinha muitos caçadores conhecedores do comportamento animal. Imitavam muito bem os animais de caça, faziam arremedos de aves para facilitar as caçadas. Muitas destas caças foram extintas nesta região após a ocupação européia. Gostavam sempre de habitar próximos às lagoas com fontes de argila para a confecção da cerâmica, mas esta atividade não é mais praticada pelas mulheres atualmente após longo convívio com os portugueses e missionários
Serigy comandou seu povo por cerca de trinta anos, tendo, em diversas oportunidades, rechaçado tropas militares portuguesas na busca de fundar cidades e fixar caminhos seguros até a foz do rio São Francisco. Serigy, além de guerreiro, era líder incontestável nesse espaço territorial sergipano. Mantinha relações de trocas de mercadorias com os piratas franceses, que forneciam armas de fogo com o intuito de impedir a ocupação portuguesa da região. E foi assim que Serigy estruturou uma forte milícia indígena dentre os jovens guerreiros de sua tribo, reforçando com outros guerreiros de seu irmão Siriry, bem como de Pacatuba, Japaratuba e Surubim. Esta formação indígena continha uma população aproximada de cerca de 20.000 índios, tendo uma linha deles 1.800 índios mobilizados e treinados para defesa territorial contra os invasores portugueses. Havia, ainda, um segundo agrupamento de guerreiros em constante treinamento visando a substituir os mortos na linha de frente da batalha; um contingente de cerca de mil índios. Esses guerreiros eram escolhidos diretamente por Serigy e por seus comandados dentre aqueles mais fortes e ágeis no manejo das fechas, zarabatanas e armas de fogo.
Em 1590, após um mês de batalha contra uma esquadra de guerra, os portugueses conquistaram a cidade de Aracaju e dizimaram a tribo do Cacique Serigy.
Mas para derrotar Serigy, foi necessário Portugal formar uma esquadra de guerra, comandada por Cristóvão de Barros, a mando do rei Filipe II, que à época comandava Portugal e Espanha – a “União Ibérica”. As tropas portuguesas praticamente dizimaram a tribo, prendendo e executando milhares de índios, porém os custos e as baixas portuguesas foram acentuadas. O próprio Cristóvão de Barros desejava evitar os confrontos sangrentos, negociando com Serigy a permissão dele para a fundação de uma cidade portuguesa às margens do Rio Sergipe, com a consequente colonização. Serigy teria rejeitado o acordo porque, para ele, colonização significava escravização de seu povo. Ele vira o massacre dos Caetés por esses mesmos colonizadores portugueses. Assim, em janeiro de 1590, após quase um mês de batalha desigual e sangrenta, cessou a existência de uma tribo que realmente soubesse se impor ao colonizador português.
A repressão contra os povos indígenas não é característica exclusiva da colonização portuguesa. Neste momento, a comunidade Guarani-Kaiowá luta pela demarcação de suas terras no Mato Grosso do Sul, cuja reintegração de posse foi decretada pela justiça do município de Naviraí em favor dos latifundiários, o que motivou a decisão desse povo de morrer coletivamente e ser enterrado no território em disputa, junto aos seus antepassados.
No dia 31 de outubro de 2012, foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura o parecer do deputado Jean Wyllys, a favor da aprovação do PL 3724/2012, que propõe a inserção do nome do Cacique Serigy no Livro de Heróis da Pátria – hoje com dez nomes, sendo nove homenageados brancos e um negro.
A inscrição do Cacique Serigy no Livro dos Heróis da Pátria será um marco decisivo, não só rumo ao reconhecimento da contribuição dos povos indígenas para a história do Brasil, mas, principalmente, ao reconhecimento da vergonhosa negligência estatal em relação aos direitos dos povos indígenas.
O “Livro de Aço”, também chamado de “Livro dos Heróis da Pátria”, está guardado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça os Três Poderes – um memorial fúnebre erguido para homenagear todos aqueles que se destacaram em prol da pátria brasileira.
A inscrição de seu nome no “Livro de Aço” confere o status de “herói nacional”.Toda vez que um novo nome é gravado em suas laudas de metal juntamente com sua respectiva biografia, é realizada uma cerimônia in memoriam ao homenageado.
Baseado em texto de Jean Wyllys e do blog THYDÊWÁ
Nenhum comentário:
Postar um comentário