Na história européia, os nomes geralmente usados na periodização universal são: Paleolítico (Inferior, Médio e Superior), Mesolítico, Neolítico e Civilização ou Urbanismo (Pré-Clássico, Clássico e Pós-Clássico). Os nomes americanos aproximadamente correspondentes são:
I Período Lítico, que pode ser usado no sentido semelhante ao Paleolítico e dividido em um período Prépontas e outro Paleoíndio.
II Período Arcaico (Mesolítico);
III Período Formativo (Neolítico);
O povoamento da América e, naturalmente, do Brasil, ocorreu no final do Pleistoceno, ao término da última glaciação. Os principais artefatos da pré-história brasileira dessa época são as pedras manipuladas para a confecção de instrumentos, os fragmentos cerâmicos, a reciclagem de ossos de animais e conchas, notadamente. O conceito de PALEOÍNDIO, no Brasil, é utilizado para as culturas mais antigas, encontradas em Goiás, Minas Gerais, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Para as outras culturas de caçadores pré-cerâmicos usa-e o conceito de “arcaico”.
A pré-história brasileira é dividida em dois grandes períodos: culturas do pleistoceno (anteriores a 12.000 anos A.P.) e culturas do holoceno (posteriores a 12.000 anos A.P.). Sítios arqueológicos do Pleistoceno são, principalmente, áreas de caça e matança, não de acampamentos residenciais. Os artefatos identificadores mais comuns são as pontas bifaciais, especializadas; de projétil, geralmente acompanhadas de lascas usadas como facas, raspadores e raspadeiras. O ambiente nesse período era frio e seco; a população, pouco numerosa e nômade, organizada em bandos frouxos.
Essas populações teriam convivido com a megafauna. Os animais caçados seriam, como hipótese ainda não plenamente constatada, os que se extinguiram com o final da glaciação e que, em termos populares, poderíamos denominar de bisontes, cervídeos e camelídeos, antigos cavalos, preguiças e tatus gigantes, antas e tigres-dente-de-sabre, entre outros.
Em alguns estados brasileiros há datações que registram a presença do homem antes de doze mil anos: em Minas Gerais, a cultura do homem de Lagoa Santa (Gruta do Sumidoro, Lapa Mortuária de Confins, Cerca Grande em Pedro Leopoldo); em São Paulo, o Sítio Alice Boer, em Rio Claro e no rio Ribeira do Iguape; no Mato Grosso, o Abrigo do Sol, em um afluente do Guaporé.
“Hoje sabemos, por meio de datações pelo Carbono 14, que as importantes coleções de esqueletos de Lagoa Santa possuem mais de 10 mil anos. Em 1999, pesquisadores da Universidade Manchester, na Inglaterra, reconstituíram a face do crânio humano mais antigo já encontrado nas Américas, proveniente de Lagoa Santa. Apelidado, de forma carinhosa, com o nome de Luzia, o crânio é de uma mulher e tem cerca de 11.680 anos. O crânio e outros ossos do corpo de Luzia haviam sido descobertos em 1975, em Lagoa Santa, por uma equipe franco-brasileira coordenada pela arqueóloga francesa Annete Laming-Emperaire, e hoje se encontram no acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro” (FUNARI, 2001).
As datações mais antigas recuam a presença de culturas humanas há 14 mil anos do presente. Há uma correlação cronológica entre o paleoíndio e os megatérios.
Segundo Mendes, os megatérios “foram animais de grande porte, chegando a ultrapassar 5m de comprimento. Os seus caracteres anatômicos aproximam-se muito das preguiças atuais. Mas, no tocante aos hábitos, parecem ter divergido, pelo menos numa particularidade: animais tão corpulentos não poderiam ter sido arborícolas. Alimentavam-se, também, de folhas e brotos, a julgar pelo tipo de dentição. Eram cobertos de pêlos grosseiros, como as preguiças e tamanduás, fato que comprova através de um fragmento de pele de milodonte, parente do megatério, preservada numa gruta de Patagônia. Os seus membros locomotores apresentavam uma torção em virtude da qual as plantas dos pés se voltavam para dentro. Eram dotados de grandes garras em forma de gancho. Enfim, a sua conformação anatômica somente lhe permitiria marcha lenta e pesada sobre o solo, embora não tão vagarosa quanto à das preguiças de hoje. Essa interpretação valeu-lhes o cognome de “preguiças terrícolas”. Se o animal desejasse alcançar ramos mais altos, teria que se erguer sobre os membros posteriores, apoiando-se com as patas dianteiras sobre o tronco das árvores. “(...) Assim como os megatérios se assemelhavam às preguiças, os gliptodontes lembram os tatus. Mas estes são mais antigos que os gliptodontes e provavelmente deram-lhes origem do decorrer do terciário. Ambos os grupos se caracterizam pela posse de uma carapaça dorsal. No caso dos gliptodontes, a carapaça não se constituía de anéis móveis, como a dos tatus, mas de um mosaico de placas ósseas, solidamente ligadas entre si”. (Mendes,1970). Os gliptodontes alcançavam, em média, dois metros de comprimento.
Entre os grandes carnívoros do final do pleistoceno, o maior e mais agressivo foi o Smilodon populator, ou tigre-dentes-de-sabre. Porte superior ao da maior onça conhecida, os caninos atingiam cerca de trinta centímetros de comprimento.
Registra-se também a presença dos toxodontes, do tamanho de um hipopótamo e, como aqueles, eram anfíbios.
Os mastodontes assemelhavam-se fisicamente aos elefantes. Enormes presas, com pontas encurvadas para o alto e mais de um metro de comprimento. (Mendes)
“No caso da América, acreditamos que pode ter ocorrido uma confluência dos três fatores, pois houve, efetivamente, mudança climática, com a diminuição da área dos campos e cerrados – os habitat originais desses grandes animais – concomitantemente a expansão da ocupação humana, que pode tanto ter espalhado doenças como extinguido o número desses animais por meios das caçadas. Segundo alguns estudos realizados com o auxilio de simulação com modelos computacionais, em apenas mil anos a caça excessiva seria o suficiente para acabar com algumas espécies de animais. Como quer que seja, o fim da megafauna foi a mais significativa extinção de animais do planeta desses a época dos dinossauros, podendo ser considerada importante por ter sido contemporânea do ser humano e, portanto, possivelmente relacionada à ação deste. Entretanto, seria mesmo correto atribuir ao homem essa destruição, ou seria apenas a nossa consciência pesada a sugerir tais hipóteses? Não sabemos, mas o estudo da megafauna extinta, por essa ligação umbilical com o ser humano, promete continuar a concentrar a atenção dos pesquisadores do passado pré-histórico e a gerar novos conhecimentos coevolucionários entre humanos e animais.” (FUNARI, 2001).
Aspectos climáticos apontam, como reflexo das glaciações no hemisfério norte, períodos de chuvas e secas. A oscilação do clima, (glaciação Wisconsin), chegou a quatro graus centígrados. O nível do mar estava a 90 metros abaixo do atual há vinte mil anos. Há sete mil anos o nível se apresentava a dez metros abaixo. Este é o fator apontado para a ausência de culturas pleistocênicas no litoral: com a subida do nível do mar, os possíveis sítios de ocupação encontram-se, agora, submersos, tornando impossível a pesquisa arqueológica.
principalmente nas bacias sedimentares do Paraná, Parnaíba, Amazonas,
Solimões, Parecis e São Francisco.
A linha pontilhada ao longo da costa mostra o antigo litoral
e a paulatina subida do nível do mar até a configuração atual.
e a paulatina subida do nível do mar até a configuração atual.
O final do pleistoceno (+- 18.000 – 12.000 anos A.P.) é rigorosamente frio e seco e o nível do mar está ao menos 100m abaixo do atual. O holoceno, finalmente, traz consigo o calor e a umidade, junto com um nível de mar alto, que redundam na tropicalização do Brasil e, a partir do início de nossa era, numa certa estabilidade dessas condições. Os animais herbívoros, a que o homem estava principalmente ligado, reagiram de forma idêntica ao aparecimento e desaparecimento decada ciclo climático, de forma que a fauna florestal podia, em qualquer lugar, ser substituída por outra adaptada às condições da estepe ou da tundra e vice-versa.
Os sítios arqueológicos no pleistoceno estão ligados a nichos naturais de recursos diversificados: alimentos, combustível, abrigo e matérias primas para a promoção de utensílios, instrumentos e armas. Neles, os caçadores-coletores tinham acesso a grande número de espécies de animais de médio e pequeno porte. A captura não exigia um arma especializada: armadilhas, porretes, a criatividade e a força muscular do homem eram suficientes. As proteínas vegetais provinham, emsua maior parte, frutos de acesso fácil, raízes e tubérculos. A partir de vestígios da dieta alimentar e registros rupestres, algumas espécies animais são conhecidas: antas, capivaras, veados, pacas, tatus, tamanduás, lagartos, emas, peixes e aves. Nos rios, como o São Francisco e seus afluentes, a piscosidade durante a piracema foi fator decisivo para os deslocamentos e instalação de grupos.
Os habitat dos caçadores-coletores se dão em grutas ou abrigos, no alto de colinas ou à beira dos rios.
Baseado em texto de Fernando Lins de Carvalho
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