domingo, 1 de maio de 2011

DIVISÃO DO TRABALHO

O desenvolvimento tecnológico dos povos indígenas brasileiros não levou a especializações profissionais. Não há especialistas, ou seja, indivíduos que se dedicam exclusivamente a um determinado tipo de trabalho. O que um homem faz, todos os outros fazem também, embora possa diferir na habilidade com que executam cada tipo de tarefa: todos caçam, todos pescam, todos derrubam árvores, todos fabricam arco e flecha, etc. O mesmo acontece com as mulheres: todas cultivam, todas colhem, todas fabricam potes, etc. Então pode-se dizer que existe entre os indígenas uma divisão de trabalho por sexo. Embora tal divisão não seja exatamente a mesma em todos os povos, de um modo geral, às mulheres cabem as atividades culinárias, o cuidado das crianças, além de partilhar com os homens o plantio e a colheita; aos homens são destinadas as atividades de caça, a derrubada de árvores e a preparação do terreno da lavoura.

As atividades coletoras, em muitos povos, cabem às mulheres, como, por exemplo, entre os Xavante e os Timbíra. No entanto, entre esses últimos, pelo menos,
o mel é sempre retirado das colméias por homens. Entre os Mundurukú, os homens fazem a coleta em caso de insucesso na caçada; as mulheres, quando realizam a coleta, levam um homem para subir nas árvores. Entre os Xokléng, a coleta do pinhão é realizada pelos casais, sendo que cabe ao homem subir no pinheiro para derrubar os cones, que depois são reunidos pelo marido e a mulher, que os quebram e juntam os pinhões.A divisão de trabalho chega às vezes ao ponto de exigir que duas partes de um mesmo objeto sejam confeccionadas por pessoas de sexo diferente: por exemplo entre os Krahó, há determinados tipos de cestos que são geralmente confeccionados pelas mulheres, mas as alças só podem ser feitas pelos homens. O mesmo ocorre entre os Tenetehara: um determinado tipo de colar, feito de dentes de animais, sementes e contas de vidro é elaborado em duas etapas; na primeira, as peças são perfuradas pelos homens; na segunda, tais peças são colocadas ano fio pelas mulheres.

Mesmo na arte existe uma divisão de trabalho: entre os Kadiweu, por exemplo, os desenhos geométricos das pinturas de rosto são traçados pelas mulheres, enquanto a arte figurativa, constituída de pequenas estatuetas de cera, barro cozido ou cortiça, é trabalho tanto de homens como de mulheres.

É comum se ouvir dizer que entre os indígenas a mulher trabalha mais do que o homem; este só faria serviços leves, enquanto ela se aplica ao trabalho pesado. Mas isso não é verdade. Existe uma divisão de trabalho entre homem e mulher. E ele n
em sempre fica com a parte mais leve. A produção de canoas, que cabem aos homens, são bastante desagradáveis e cansativos. Mesmo a caça, que entre nós é um divertimento, um “esporte” realizado em tempo de folga, tem para o homem indígena outro sentido: de seu esforço na caçada depende o abastecimento de carne da sua comunidade. Ente os Krahó, por exemplo, voltar da mata de mãos vazias, sem nenhum animal capturado, significa refeições mais pobres e menos saborosas e, às vezes, discussão com as mulheres. O caçador, para ser bem sucedido, não somente cuida de manter suas armas em bom estado, atenta em observar os locais e ocasiões propícias para a caçada, como também procura interpretar sonhos e observar uma porção de cuidados religiosos, como, por exemplo, esfregar o corpo com determinadas plantas de acordo com o animal que deseja caçar; para algumas caças, é preciso também abstinência de certos alimentos.

Além da divisão de trabalho por sexo, existe também uma distribuição de tarefas por idade. Meninos e meninas costumam imitar os adultos de seu sexo. Desde pequenos, os meninos flecham calangos e passarinhos com pequenos
arcos e as meninas ajudam a tomar conta dos irmãos menores. Entre os Krahó, cabe aos meninos e aos velhos carregar as armas e a carne para a aldeia, enquanto os caçadores entram na aldeia disputando uma corrida de toras. Também cabe às crianças e aos velhos espantar os pássaros das roças no período que precede a colheita. Entre os antigos Tupinambá eram as moças que mastigavam a raiz com que se faziam as bebidas.


Essa estruturação social do trabalho – todos fazem tudo que cabe a seu sexo e idade – dificilmente há o que trocar entre as pessoas da mesma aldeia, já que todos produzem as mesmas coisas. No entanto, cada povo costuma produzir alguns artefatos que outros povos não possuem, ou tem em seu território coisas que outros povos não possuem. Isso torna possível um comércio entre povos.

No alto Xingu determinados povos se destacam na produção de certos artefatos. Por exemplo: os Waurá são produtores exclusivos de cerâmica; suas grandes panelas de barro são procuradas por todos os outros povos da região. Os Kamayurá, por seu turno, se destacam na manufatura de arcos; os Kuikuro e os Kalapálo se esmeram na fabricação de colares de caramujo. No passado, eram os Trumái que forneciam os machados de pedra aos demais povos, pois em seu território encontrava-se o diabásio próprio para fabricação de machados. Os Trumái e os Waurá também produzem sal. Tais produtos passam de um povo para outro através de trocas.

Baseado em texto de Júlio Cesar Melati

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