sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

PAJÉ

Para os tupi-guarani, PAJÉ são os que melhor conhecem os ciclos das estações, os fluxos dos rios e dos ventos, as vibrações sutis das montanhas e das pedras. PAJÉ é o detendor da sabedoria, aquele que mais sabe sobre a flora e fauna da sua terra, exímio conhecedor dos segredos das raízes, das plantas e das ervas, e o seu poder de cura.

Líder espiritual, benzedor e, ao mesmo tempo, médico da tribo
e curandeiro, integralmente relacionado com as comunidades, o PAJÉ e quem cuida do seu povo, quem traz consolo. E, sobretudo, é o amigo.

PAJÉ é o eterno itinerante que se move com desenvoltura no imenso mar de matas que outrora cobria o continente do sul abaixo do altiplano, desde acima da rede fluvial do Amazonas até o delta formado pela confluência dos três grandes rios que desembocam na bacia do Prata.

Sempre bem-vindo em todos os povoados, o PAJÉ é quem melhor conhece a rica mitologia das matas. Contador incomparável de histórias, cativa a imaginação de todos os povoados.

PAJÉ é o sonhador. Escutar sonhos - orehuera rohendu - e decifrá-los, é tarefa primordial sua. É a narração poética dos seus sonhos que o convertem em PAJÉ verdadeiro, pois no universo guarani, o sonho gera conhecimento e detona a ação.

PAJÉ é aquele que atende ao chamado que chega inesperado e, incompreensivelmente, permanece. Sua sabedoria serena abre um portal para o outro reino, longínquo e tão próximo que roça os sonhos dos habitantes desse âmbito ancestral que inspira todos os seus caminhos
.

PAJÉ é o "Senhor das Palavras", de eloqüência notória, cuja voz ressoa sonora, acima da dos outros cantores, ao dirigir os rituais. Dotado de inspiração - arandu - o PAJÉ é o poeta. Poeta das ñe'engatu, das "belas palavras" do linguajar tupi-guarani mais requintado, da fala do sagrado.

Baseado no texto de Yara Miowa.

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