quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

ORAÇÃO QUÉCHUA


Ah! Wiracocha, poder de tudo o que existe...
Seja homem, seja mulher,
Ele é sagrado.

Senhor de toda luz nascente,
Criador,
Que és tu? Onde estás?
No mundo superior, no mundo inferior,
ou deste lado do mundo?
Onde está teu poderoso assento?

Ah! Dize-me somente, do oceano celeste
ou dos mares terrestres, onde habitas...
Senhor, teus servidores de olhos fechados
querem ver-te.

O Sol, a Lua, o dia, a noite,
O calor e o frio não são livres.
Eles seguem tuas ordens, seu caminho está marcado.
E eles chegam onde tu lhes perviste...

Onde e a quem enviaste o cetro brilhante?
Oh! Criador que fazes maravilhas

e coisas nunca vistas,
Misericordioso Wiracocha, grande sem medida,
Faze com que se multipliquem as criaturas
E guarda aqueles a quem dás a vida
E segura-os bem em tuas mãos.

Ouve, Wiracocha, jardineiro do mundo
Que revigora as entranhas da terra,
Quer os huacas e diz que elas são sagradas,
Portador das grandezas onde quer que estejas,

Sempre jovem, cheio de orvalho úmido, Wiracocha
Que o céu, dizes tu, se faça do vazio da terra
E tu colocas os guardiães no mundo subterrâneo.

Todo-Poderoso Wiracocha,
Wiracocha que está presente,
Wiracocha senhor de tudo,
Senhor da beleza do mundo
Que a tudo criou dizendo:

"Que seja homem, que seja mulher
E todos os frutos da terra",
Onde te encontras... nas nuvens, nas sombras?

Nossa oferenda, recebe-a onde quer que estejas
Wiracocha!


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Enquanto milhões de homens desaparecem para sempre, no corrrer dos séculos, o Sol - supremo vencedor de cataclismos - reaparece todos os dias, impassível. Por isso, os povos andinos lhe ergueram, nos próprios lugares de sua miraculosa e benefica ressurreição diária, monumentos cujas dimensões colossais lhe representem a perenidade.

Essa oração é parte do "Canto Sagrado a Wiracocha", entoado por um grande sacerdote inca, pouco antes de falecer, em 1550, e anotado por uma Nusta (donzela inca, dedicada ao Sol) a pedido do padre Cristobal Molina, apelidado de "O Cuzquenho". Quatrocentos anos depois, esse manuscrito foi encontrado e traduzido por Rafael Aguillar, um grande quechuísta, reconstruindo pelo menos parte desse hino. Ele é um dos raros e autênticos documentos que se possui sobre a poesia e a visão do mundo inca.

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