“Matam apenas a mim. Voltarei e serei milhões.”
Assim disse o líder aymara TUPAC KATARI, antes de ser executado em 15 de Novembro de 1781 - 228 anos antes que 2 milhões de bolivianos aprovassem sua nova Constituição e assistissem dias depois à promulgação, diante do povo “e não mais entre quatro paredes”, como discursou o presidente Evo Morales Ayma, um descendente de Túpac Katari.
Primeiro levaram toda a prata que puderam, começando por Potosí. As famílias dos escolhidos para as minas os acompanhavam entoando canções fúnebres – dificilmente voltariam a vê-los. Com a insalubridade, a maioria morria em dez anos com os pulmões enegrecidos e duros feito pedra.
A escravização dos indígenas foi sustentada pelo método do terror. Francisco Pizarro, um dos líderes da colonização espanhola, passou à história como um dos maiores facínoras de que se tem notícia. Uma de suas diversões era apostar com os soldados quem furava mais índios com uma só espadada.
A opressão enfrentou a resistência dos povos originários. Os líderes aymaras Túpac Katari e Bartolina Sisa comandaram dois cercos a La Paz, em 1781, com 40 mil guerreiros, e estremeceram o domínio espanhol. Apesar da valentia, o levante foi derrotado.
Os povos se recolheram, mas jamais abandonaram sua cultura e até hoje preservam hábitos e costumes dos ancestrais. Ao contrário de outras regiões, na Bolívia a maioria da população é indígena. Há lugares onde os idiomas aymara, quéchua e guarani são mais falados que o castelhano.
Outras rebeliões populares vieram até a independência em 1825. Simon Bolívar liderou a vitória sobre o domínio espanhol e semeou o sonho da Pátria Grande.
A exploração não cessou, porém, nesta terra de imensas riquezas. Simón Patiño, o Magnata do Estanho, chegou a terceiro homem mais rico do planeta na década de 1920. Assim como no Brasil, a Inglaterra passou a principal beneficiária dos recursos naturais bolivianos – depois dividiria o botim com os Estados Unidos. Os sucessivos saques fizeram da Bolívia o país mais pobre da América do Sul.
A Revolução de 1952 reacendeu a esperança. As minas de estanho foram nacionalizadas, os hidrocarbonetos. Iniciou-se um projeto de integração nacional, mas não durou muito. A era neoliberal que varreu a América Latina teve início na Bolívia em 1985, quando se pôs em prática todos os ajustes recomendados pelo FMI e Banco Mundial, arruinando a proteção social, privatizando empresas e abrindo terreno para a especulação financeira – a mesma que provocou a atual crise mundial.
Texto de Marcelo Salles
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