sexta-feira, 28 de maio de 2010

SELVAGEM É VOCÊ!


O branco não sabe o que é a natureza,
o que é o rio,
o que são as árvores,
o que é a montanha,
o que é o mar...

Em vez de você respeitar,
destrói, corta pedaço, joga coisas, polui o mar, os rios...
Você vai dizer: o índio está falando mas é selvagem.

SELVAGEM É VOCÊ!
"Milhões" de anos estudando e nunca aprendeu a ser civilizado.
Prá que você está estudando?
Para destruir a natureza e no final destruir a própria vida?

José Luis Xavante

domingo, 23 de maio de 2010

GUARANI, UM GRANDE POVO


No início do século XVI, quando os primeiros exploradores espanhóis cruzaram o Oceano Atlântico e adentraram ao Cone Sul Americano através do rio da Prata, seguindo pelo rio Paraguai e desembocando nas baías dos rios Paraná e Uruguai, tiveram a surpresa de encontrar em suas margens terras férteis de incrível abundância e produção agrícola.

Essas terras eram cultivadas há milhares de anos por um povo guerreiro que se auto-denominava AVÁ (que significa humano). Em séculos de contato, inúmeras foram as denominações dadas por seus inimigos (cários, chandules, chandrís e landules), até enfim este povo ser reconhecido como GUARANI, o Grande Povo.

Vindo de longas caminhadas, a partir da região amazônica, o povo Guarani se estabeleceu em diferentes partes do Cone Sul da América, fixando-se especialmente em territórios na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Segundo levantamentos arqueológicos, esta migração teve início por volta dos séculos I e II depois da nossas era.

Historiadores calculam que, no início da invasão européia ao Continente, em 1492, a população Guarani girava em torno de um milhão e meio a dois milhões de pessoas.

Ao longo dos últimos 500 anos, o Povo Guarani tem criado e recriado suas estratégias de resistência, hora enfrentando forças militares, como os exércitos imperiais de Espanha e Portugal, hora encontrando aliados na sociedade envolvente, hora simplesmente se dispersando. Contra todas as formas de dominação (educativa, militar, econômica e religiosa), o povo Guarani foi capaz de manter seu espírito livre ao transformar em escudo de proteção o ininterrupto processo de transmitir de geração para geração sua língua e cultura e ter sua principal identidade cultural: a busca de YVY MARÃ’EY (Terra Sem Males).

Entre o Povo Guarani existem vários grupos que falam a mesma língua, têm cultura muito semelhante, mas que se auto-denominam de formas diferentes de acordo com a região e o ramo familiar. Entre as denominações estão PÃI-TAVYTERÃ ou KAIOWÁ, MBYÁ, ACHÉ ou GUAYAKÍ, CHIRIGUANOS, AVÁ KATU, AVÁ GUARANI ou ÑANDEVA ou CHIRIPÁ e GUARANI OCIDENTAIS DO CHACO.

Apesar da invasão, os Guarani teimam em resistir em seus territórios, inclusive nas periferias das grandes metrópoles do Mercosul, como em São Paulo e em Porto Alegre, onde sua economia de reciprocidade se contrapõe com o modo de vida individualista das capitais.


Não há um censo absoluto capaz de contabilizar exatamente a população Guarani na América do Sul. No entanto, a partir de dados oficiais e informações coletadas pelas principais organizações indígena e indigenista dos países, é possível estimar que a população Guarani esteja em torno de 225 mil pessoas, espalhados por cinco países do cone sul:

PARAGUAI – cerca de 53.500 pessoas, dos grupos Pãi-Tavyterã; Avá Katú; Mbya; Aché; Guarani Ocidentais, Nhandéva

ARGENTINA – cerca de 42.073 pessoas, dos grupos Mbya e Ava Guarani

BOLÍVIA – cerca de 80.000 pessoas, do grupo Chiriguano

BRASIL – cerca de 50.000 pessoas, dos grupos Pãi-Tavyterã; Mbya; Nhandéva ou Chiripá

URUGUAI – Os Guarani frequentam seu tekoha, mas não são reconhecimento do Estado e, por isso, não há uma censo feito.

Os Guarani são uma das maiores populações de um povo indígena em nosso continente. O país que apresenta a maior população Guarani é a Bolívia. Segundo os dados da Assembléia do Povo Guarani na Bolívia - entidade que representa a organização de 23 capitanias, que reflete a organização de mais de trezentas comunidades Guarani naquele país - a população seria de cerca 80 mil pessoas vivendo na região Sudoeste, em Santa Cruz e parte do Chaco. A Bolívia é o único local onde se encontra o grupo conhecido com Chiriguano.

O segundo país, com maior população, é o Paraguai. Segundo levantamento oficial, a população é de 53 500, e vive principalmente ao Leste do país, em regiões próximas à divisa com Brasil e Argentina. A terceira população se encontraria no Brasil, com cerca de 50 mil Guarani. E a quarta, com 42 mil, na Argentina, concentrando-se na região norte do país.

No Brasil, seguindo levantamentos feitos pela Fundação Nacional de Saúde e o Conselho Indigenista Missionário a estimativa é de que a população Guarani seja aproximadamente de 50 mil pessoas; 40 mil (ou seja 80%) vive no estado do Mato Grosso do Sul e os outros 10 mil (ou seja 20%) em terras tradicionais localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e uma terra reservada no estado do Pará.


Texto da produzido pela Comissão de Lideranças e Professores Guarani Kaiowá
e Conselho Indigenista Missionário regionais Sul e Mato Grosso do Sul.

domingo, 9 de maio de 2010

OS TAINOS

Os TAINOS - algumas vezes chamados de ARAWAK - originaram-se na nascente do rio Orinoco, na Venezuela, viviam em vilas e praticavam a agricultura, cultivando milho, mandioca, batata-doce, goiaba, papaia, abacaxi, tabaco e algodão, do qual faziam roupas. Apanhavam mexilhões, ostras e caranguejos, caçavam pássaros, cobras, peixes-bois e tartarugas marinhas. Sua arte incluía pintura corporal e confecção de brincos, ornamentos para nariz, ornamentos labiais e cocares de plumagem colorida. Contas de pedra entalhada e enfeites conhecidos como ÇIBAS eram usados com outros feitos com uma liga de ouro, cobre e prata, conhecida como GUANÍN. Para os tainos, o caráter sagrado do guanín era, parcialmente, em virtude de seu cheiro, que remetia à sexualidade e à fertilidade. Os sofisticados utensílios de guanín encarnavam poderes ancestrais e, como tais, eram cerimoniais e trocados entre os chefes tainos.

Eram, também, especializados em carpintaria, entalhando bancos conhecidos como DUHOS, geralmente decorados com conchas e guanín. Os BEHIQUES (xamãs) sentavam-se nesses bancos e se conectavam com o mundo dos Ancestrais e dos Espíritos. Construíam grandes canoas elaboradas, viajando regularmente entre as ilhas do Caribe, mantendo uma rede de relações comerciais. A sociedade taina era governada por chefes hereditários, seu status era herdado pela linhagem materna. Os chefes podiam ter várias esposas, um indicador de que os casamentos eram, também, alianças políticas estratégicas, visto que mulheres de alta linhagem tinham sempre um alto status, que compartilhava com seu marido. Essa organização está refletida no tamanho e sofisticação das vilas taino; as maiores chegavam a centenas de casas comunais construídas ao redor de uma praça central, onde aconteciam todos os eventos religiosos e sociais, como danças e músicas cerimoniais chamadas AREÍTOS, e os jogos de bola de borracha chamados BATEY.

Escondida na região montanhosa do atual Puerto Rico, a cidade de CAGUANA possuiu o mais denso e elaborado grupo de campos de bola e praças de toda a sociedade taina. Em seu auge, por volta de 1350 d.C., Caguana era um centro cerimonial e provavelmente político, dominado por uma arquitetura que incluía imagens de criaturas mitológicas entalhadas em placas de pedras que franqueavam a praça central. A religião dos tainos baseia-se na tradição xamânica, que vê plantas, animais e paisagens infusas com a força espiritual derivada de seus ancestrais. Em tal universo espiritualmente animado, todas as coisas possuem dimensões sagradas e seculares, misturando-se de tal modo que nós, hoje, temos dificuldade de compreender.

A crença dos tainos de que os espíritos habitam lugares sagrados predomina sobres as cavernas: elas aparecem em seus mitos de origem como locais de emergência do povo Taino e como o lar dos Espíritos e dos mortos - os OPÍA -, transformados em morcegos. Uma das maiores cavernas-santuário dos Taino é a que hoje chamamos de LA ALETA, na República Dominicana, cujo auge vigorou entre 1035 e 1420 d.C., conservando ainda muitos artefatos cerimoniais de vime, madeira e cabaças. No fundo, os arqueólogos encontraram um monte submerso em cima do qual havia ferramentas de pedra, cerâmica, madeira e cestas espalhadas, tigelas decoradas, estatuetas de crocodilo, uma clave de guerra e uma "espátula do vômito" (utilizada para "purificar" o corpo antes e durante os rituais); tudo parece ter sido colocados lá deliberadamente, como oferta para Deuses e Espíritos Ancestrais.

O foco principal da religião Taino era a veneração de Espíritos conhecidos como ZEMÍS, a personificação de forças espirituais que habitavam as árvores, pedras, cavernas, rios e outros aspectos da natureza, cujos poderes eram incorporados em imagens sagradas - objetos tridimensionais, feitos em pedra, osso, madeira, conchas, argila e algodão combinados, tomando formas de pássaros, sapos, tartarugas e, as vezes, vegetais, como o aipim. Outros são mais abstratos, com desenhos geométricos entalhados ou pintados em pedras e artefatos. Mas sua forma mais comum eram as pedras pontiagudas, como miniaturas de montanhas ou de vulcões, mas talvez pudessem ser a representação de seios. Alguns apresentam rostos humanos estilizados, animais, criaturas fantásticas, metade humanas metade animais, que remetem às imagens vistas em transe xamânico. Os Zemis eram bem cuidados, recebiam alimento e eram esfregados com aipim; cada um tinha poderes diferentes, variando entre promover o sucesso do parto até conquistar a vitória em uma guerra ou aumentar a produção agrícola (quando enterrados nos campos de mandioca conhecidos como CONUCOS). Zemís de madeira demonstram a habilidade do xamã de ligar a vida cotidiana ao reino espiritual na cerimônia COHOBA, quando inalavam um pó alucinógeno a fim de se comunicarem com os espíritos, especialmente os de Ancestrais veneráveis. E, então, os Zemís concediam seus poderes aos artefatos e à paisagem, ligando o povo Taino a poderes cósmicos.

Os deuses Taino mais importantes eram YÚCAHU, da fertilidade e criador do aipim. Sua companheira era ATABEY, literalmente "Mãe das Águas", associada aos rios e à chuva que irrigam as plantações de aipim; ela também cuidava dos fluxos femininos e auxiliava no parto.

Baseado em texto de Nicholas J. Saunders

sábado, 1 de maio de 2010

A GAIOLA DOS PÁSSAROS GIGANTES II

O deserto de Palpa apresenta desenhos de um estilo absolutamente diferente dos outros geoglifos por sua concepção geometrizada, tornando-os obras-primas de estilização raramente igualadas.

Um desses desenhos é um BEIJA-FLOR que se lança à procura de não se sabe quala néctar naquela paisagem morta. A presença do beija-flor no deserto podeir aparecer de certo modo incongruente, mas ele abunda nos jardins de Lima, onde a temperatuura invernal frequentemente não ultrapassa 10º acima de zero. Na verdade, é encontrado por toda parte do Peru, tanto nos vales interandinos como na floresta amazônica e até no Altiplano do lago Titikaka, a 4.000 metros de altitude, onde vive em cavernas.

Asas abertas em triângulo, na horizontal, uma cauda larga prolongada por uma pena caudal, dão a perfeita ilusão do minúsculo passageiro do ar, do qual ele é a preciosidade. Exclusivo das Américas Central e do Sul, o BEIJA-FLOR, campeão das grandes manobras aéreas, de uma vivacidade incrível, voa tão bem para a frente como para o lado ou recuando, estabilizando-se em um ponto fixo através de um batimento de asas imperceptível, murmurante como a seda.

Coberto com uma fina penugem de reflexos cintilantes, apaenas um pouco maioir que um zangão, é também denominado "AVE-MOSCA". O naturalisata francês Jules-Charles de l'Écluse relatou, em 1601, um alenda muito bonita que explica este apelido. Ele se encontrava em Tournay, na companhia de um grupo de missionários jesuítas de retorno das "Índias Ocidentais", quando lhe contaram que os brasileiros davan a este minúsculo volteador o nome de OURISIA ou "RAIO DE SOL". O padre geral da Companhia de Jesus acrescentou, bastante seriamente, que o colibri era procriado por uma mosca! Como seu auditório se mostrasse incrédulo, para dar mais credibilidade ao seu relato, ele afirmou "ter visto com seus próprios olhos, um exemplar que, não havendo terminado sua transformação, era parte mosca e parte pássaro".

O jesuíta afirmou, sem seguida, que "as penas que cobrem o corpo do beija-flor são inicialmente negras, depois acinzentadas, ems eguida rosadas e vermelhas em definitivo". E ele concluiu que "se um raio de sol toca a cabeça do pássaro, descobre-sea em sua plumagem todas as cores que se possam imaginar". O que é verdade desta vez, se se acrescenta, como o padre Guevara, que elas são "irisadas de ouro, verde e azul". Este outro jesuíta introduziu uma variante na descrição precedente: o colibri nasce de um ovo único, mas ao invés de uma avezinha, é um "verme" que se forma, se desenvolve, "toma patas", uma cabeça e asas, começa a voar como uma borboleta e a se "manter no ar com um louca inquietude".

O cronista Francisco Lopes de Gomara informa que "o beija-flor se nutre de orvalho, de mel e do néctar das flores (...) que ele adormece em outubro e desperta em abril, quando há muitas flores". Por isto no Peru apelidaram-no de "o ressuscitado".

O franciscano B. de Sahagun observa que se atribuía ao colibri "o dom de curar as pústulas e mesmo de imunizar o homem (provavelmente contra a sífilis), em troca de uma esterilidade definitiva". E mais: "era o mais bonito presente que se fazia aos reis e príncipes".

Na mitologia andina, o colibri está associado à primavera e, em Machu Picchu é considerado "a alma das Virgens do Sol", reclusas após a invasão espanhola e que por lá morreram.

Nos museus, as vitrines guardam pares de colibris de ouro, com bicos em agulha, que ornavam os cilindros-brincos, os espelhos, os broches, espátulas e braceletes dos grandes personagens.

José Maria Arguedas, um dos melhores folcloristas peruanos, ouviu de um Aymara do alto planalto uma comovente história: penetrando um dia em um pukullu (tumba muito antiga em forma de pirâmide), ele encontrou ali um colibri de altitude. "Beija-flor, esemeralda verde, suplico-lhe que me ajude a venerar o coração da motanha!"
Baseado em texto de Simone Waisbard